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"A pior das estratégias", diz Renan sobre candidatura de Temer

Plano da candidatura Temer foi colocado de forma mais clara para o partido quando, durante reunião da Executiva Nacional do MDB, Marun, a defendeu

Renan Calheiros: "É a contradição de expor o maior partido a um candidato com 1 por cento nas pesquisas" (Gilmar Félix/Agência Câmara)

Renan Calheiros: "É a contradição de expor o maior partido a um candidato com 1 por cento nas pesquisas" (Gilmar Félix/Agência Câmara)

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Reuters

Publicado em 9 de março de 2018 às 17h59.

Brasília - O ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL), candidato a um quarto mandato de senador, verbalizou, em entrevista à Reuters, o que muitos emedebistas, principalmente de fora do Palácio do Planalto, sussurram em privado: a candidatura à Presidência de Michel Temer só tem a atrapalhar o plano do partido de eleger governadores, senadores e deputados.

"É a contradição de expor o maior partido a um candidato com 1 por cento nas pesquisas. Essa seria a pior das estratégias eleitorais do MDB", disse Renan, que é um desafeto declarado de Temer.

O fato é que o plano eleitoral do Planalto para o MDB esbarra, segundo integrantes do partido ouvidos pela Reuters, nos esforços da legenda para se manter como a maior bancada tanto no Senado, quanto na Câmara --posição que divide com o PT--, além de garantir presença em governos estaduais. Esses são alguns dos principais pilares da força política da legenda.

"Essa candidatura inviabiliza entendimentos e coligações nos Estados, até porque o MDB é um partido congressual", criticou uma liderança da legenda, que pediu para falar sob a condição do anonimato com receio de sofrer retaliações da direção partidária. "Ninguém quer dividir palanque com candidato com forte rejeição", completou.

"Tem corrente no Planalto que defende a candidatura. Isso seria o melhor dos mundos se ele tivesse apelo para defender o legado. Seria a melhor solução", disse outra liderança emedebista. "Agora, nós temos 14 candidatos a governador. O palanque tem que estar forte. Esse palanque vai enfraquecer ou fortalecer meus candidatos a governador? Tem que ver."

Hoje uma candidatura Temer mais atrapalharia que ajudaria, avaliam emedebistas. Pesquisa do instituto MDA para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada nesta semana, mostrou avaliação negativa de 73,3 por cento ao governo Temer e uma avaliação positiva à sua gestão de apenas 4,3 por cento. Mais que isso, 88 por cento dos entrevistados disseram que não votariam em Temer "de jeito nenhum".

Fora dos corredores palacianos, a conveniência de ter Temer como candidato é vista como uma ideia quase estapafúrdia. Outra fonte ouvida pela Reuters reiterou que essa é uma ideia gestada e alimentada no Palácio do Planalto, sem conexão com a realidade.

O plano da candidatura Temer foi colocado de forma mais clara para o partido na semana retrasada, quando, durante reunião a portas fechadas da Executiva Nacional do MDB, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, defendeu a candidatura de Temer. Na mesma ocasião, o presidente da legenda, senador Romero Jucá (RR), também defendeu candidatura própria ao Planalto.

Na reunião, segundo uma fonte que participou do encontro, parlamentares e lideranças regionais nada comentaram sobre essas pretensões.

Deputados e senadores, mais em contato com as ruas e preocupados com suas próprias reeleições, não veem como viável o presidente em seus palanques. "Hoje o nome mais forte é Meirelles, e a cúpula do partido concorda com isso", disse a fonte.

Renan, aliás, lembrou que o MDB da Câmara vai ter uma dificuldade adicional para eleger deputados, diante do assédio a parlamentares em razão da janela partidária, que permite aos parlamentares trocarem de partido.

Ainda assim, não se sabe se vale a pena o sacrifício por uma candidatura de um "cristão novo" no MDB com pouca força popular, como Meirelles é descrito, dizem fontes do partido.

"Não vejo nenhuma chance, nenhum apelo não", afirmou um. Em tom de troça, outra fonte disse que daria Meirelles de graça a outro partido e não pediria nada em troca, ao falar sobre a densidade eleitoral dele.

Alguns emedebistas avaliam ainda que, em uma eleição com pouco dinheiro, ter um candidato à Presidência ainda tem o agravante de tirar recursos das candidaturas estaduais e legislativas. Se Meirelles fosse o candidato, lembrou uma fonte, ele ainda poderia bancar a própria campanha. Mas, por enquanto nem isso é um fator decisivo para o ministro.

"Você vê alguém pondo Meirelles no santinho? Defendendo o nome dele lá em Juazeiro? Campina Grande?", perguntou uma fonte.

O plano Temer também prejudicaria outro trunfo usado pelo MDB nas ultimas duas eleições presidenciais --postular uma candidatura a vice-presidente e, em troca, oferecer o tempo de rádio e TV no horário eleitoral gratuito para o cabeça de chapa.

Há quem avalie, entretanto, que toda essa movimentação de aliados de Temer é justamente para cacifar o partido para, sem Temer ou Meirelles como candidato ao Planalto, barganhar uma candidatura a Vice-Presidência.

 

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