O ditador chileno Augusto Pinochet (Marcelo Montecino / Contributor/Getty Images)
Clara Cerioni
Publicado em 20 de novembro de 2019 às 15h38.
Última atualização em 20 de novembro de 2019 às 17h56.
São Paulo — Está marcado para o próximo dia 10, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), um ato em homenagem à memória do ex-ditador do Chile, Augusto Pinochet.
O evento, disponível no site da Alesp, foi solicitado pelo deputado estadual Frederico D'Ávila, do PSL. Ainda não há detalhes sobre a cerimônia, mas ela foi marcada em meio à onda de protestos no Chile, que questiona a herança constituinte deixada pelo ditador.
Nesta sexta-feira (20), o ato foi alvo de críticas nas redes sociais. Uma delas envolve o fato de que, na agenda de homenagens, não está escrito o nome completo do ex-ditador, mas sim Augusto P. Ugarte, que é seu nome completo, porém pouco conhecido.
Vão homenagear o Pinochet na Assembleia Legislativa de SP. Agora só falta o próximo da lista ser o Mussolini pic.twitter.com/rA5S9Yz1TO
— GugaNoblat (@GugaNoblat) November 20, 2019
https://twitter.com/guhcampos/status/1197218977224822786
O deputado que apresentou o PL que institui o Programa Cívico-Militar no ensino fundamental e médio da rede pública e privada de ensino no Estado de São Paulo está organizando um ato solene em homenagem a Pinochet na Assembleia Legislativa de SP. https://t.co/ghUOwAKDjL
— Fernando Cássio #RevogaNEM (@fernandocasssio) November 20, 2019
https://twitter.com/paulocoelho/status/1197256238301622278
Procurada pela reportagem para esclarecer o evento, a assessoria de imprensa da Alesp ainda não se manifestou.
Esta não é a primeira vez que membros do PSL flertam com a ditadura chilena. Quando ainda era da sigla, o atual presidente Jair Bolsonaro, foi alvo de críticas após atacar a ex-presidente chilena e atual comissária dos Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, que foi torturada na ditadura de Pinochet.
Em setembro, o presidente questionou uma crítica de Bachelet sobre aumento da violência policial e uma redução do “espaço cívico e democrático” no Brasil.
“Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”, escreveu Bolsonaro em publicação nas redes sociais.
“Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”, acrescentou Bolsonaro.
Alberto Bachelet, pai de Michelle, foi um brigadeiro-general chileno da Força Aérea do Chile que se opôs ao golpe. Ele foi preso e submetido a tortura por vários meses até sua morte por ataque cardíaco sob custódia.
Segundo o presidente, Bachelet “defende direitos humanos de vagabundos”. “Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela. Quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU”.
Bolsonaro tem um longo histórico de defesa da ditadura e da tortura ao longo da sua carreira política. Em julho, atacou a memória do pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, morto pela ditadura militar brasileira, com informações falsas.
Em 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas – Marinha, Força Aérea, Exército e Carabineiros (Polícia) – cometeram o golpe militar que levou ao suicídio do presidente socialista Salvador Allende no bombardeado Palácio de La Moneda.
A ação pôs fim ao governo da Unidade Popular, a primeira coalizão marxista eleita nas urnas na América Latina.
A polarização da sociedade, a dura crise econômica e a ingerência dos Estados Unidos em um contexto de Guerra Fria garantiram o terreno para o sucesso do golpe militar que abriu caminho para 17 anos da sangrenta ditadura do general Augusto Pinochet.
Foram mais de 3.200 mortos e 38.000 torturados. Segundo a presidente da Associação de Familiares de Executados Políticos (Afep, na sigla em espanhol), Alicia Lira, há mais de 1.500 casos abertos ainda sem resposta das Forças Armadas.
E foi com o objetivo de virar a página deste período negro do país que Alicia considera que a “Concertación”, coalizão de centro esquerda que assumiu o poder em 1990, “negociou a democracia com Pinochet”.
Falecido em dezembro de 2006 sem ser condenado, Pinochet se manteve como comandante em chefe das Forças Armadas e depois senador vitalício.
(Com AFP)