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A greve dos caminhoneiros na visão de 7 pessoas afetadas pela crise

Caminhoneiros, donos de transportadoras e postos de gasolina compartilham suas visões sobre a greve dos caminhoneiros e suas consequências

 (Ueslei Marcelino/Reuters)

(Ueslei Marcelino/Reuters)

Valéria Bretas

Valéria Bretas

Publicado em 30 de maio de 2018 às 07h30.

Última atualização em 30 de maio de 2018 às 08h15.

São Paulo - A greve dos caminhoneiros completa nesta quarta-feira (30) dez dias e, apesar dos sinais de enfraquecimento, ainda é incerto quando as mobilizações irão acabar completamente. Por ora, as concessões do governo do presidente Michel Temer à categoria devem gerar um custo extra de 9,5 bilhões de reais para os cofres públicos.

Nos últimos dias, os bloqueios em estradas mostraram a força dos caminhoneiros para a economia do país com consequente desabastecimento de postos de combustível, hospitais e supermercados.

EXAME conversou com alguns dos personagens afetados por essa crise. Entre todos, a sensação é de cautela sobre os eventuais efeitos dessas mobilizações.

Veja os relatos:

William, caminhoneiro autônomo há 7 anos. Está em um bloqueio na região de Concórdia (RS) desde o dia 20

Estou desde o início em um bloqueio na região de Concórdia (SC). Quem quiser seguir viagem pode seguir, mas o pessoal está optando ficar porque, na nossa região, para você ter uma ideia, tem um bloqueio a cada 40 quilômetros. Sobre o acordo do governo, 60 dias não resolve o problema de ninguém. Tem que ter uma garantia. O maior risco hoje não é a população se voltar contra o movimento. Hoje o que a população quer é a diminuição do preço dos combustíveis, não apenas do diesel. As pessoas foram para a rua e o governo dá apenas o desconto do diesel? E a população ainda tem que pagar a conta?"

Eduardo Tadeu, 42 anos, caminhoneiro há 24 anos 

No começo ninguém acreditava que a greve chegaria nessa proporção. Acredito sim que está acontecendo locaute, pois o sindicato não tem força para bancar um protesto de dez dias. Outra coisa é o fato de a própria população ter entendido e apoiado a causa. O problema agora é que esse acordo que o governo ofereceu funciona como um “cala a boca”, né? Nós caminhoneiros precisamos de um acordo que favoreça a classe para continuar fazendo o serviço. Um acordo de 60 dias só empurra o problema para frente"

Jerônimo Donizete de Almeida, 53 anos, dono de transportadora na região do ABC Paulista. Foi caminhoneiro autônomo por 25 anos

Eu acho que já tinha passado a hora da categoria fazer um movimento dessa dimensão. Hoje, o motorista autônomo não consegue mais trabalhar e manter o seu próprio caminhão porque gasta por mês, em média, entre 50% e 60% com combustível e 20% com manutenção. O fato é que o Brasil roda em cima de caminhão, mas o que a gente ganha é praticamente nada. Agora a população sabe disso. Sobre as concessões do governo, acredito que o ideal seja congelar o preço do combustível por um período maior de tempo. Afinal, ninguém sabe o que vai acontecer depois desses 60 dias. O governo precisa ter mais responsabilidade e observar melhor todos os setores do país."

Marina Antzuk, 56 anos, dona de um posto de gasolina em Sorocaba (SP)

Apesar de prejudicar a população como um todo e nós comerciantes, o protesto é totalmente justo. O valor do diesel aumentou muito no último ano e é completamente instável. Durante uma viagem de cinco dias, por exemplo, um caminhoneiro encontra uma série de alterações no valor do combustível, mas o valor do frete que ele recebe permanece o mesmo. Ou seja, o imposto tem que cair e o governo precisa prestar mais atenção nas necessidades do povo. Acredito que o momento de recessão econômica também contribuiu para essa união entre o caminhoneiro e o trabalhador em geral. Muitas pessoas estão desempregadas e esse foi mais um motivo para os brasileiros se unirem em prol de uma insatisfação em comum. Esperamos que agora, depois de todas as visíveis consequências, as coisas finalmente mudem."

Vagner Brajão, 39 anos, dono de posto de gasolina no ABC Paulista

Como o preço do combustível subiu muito nos últimos doze meses, não só o diesel, muitos clientes, transportadoras e motoristas autônomos abandonaram o negócio por não conseguir manter a operação. Posso dizer com precisão que, nesse período, perdi mais de 50% da minha carteira de clientes por conta dos impostos e da alta no combustível. Enxergo que algo tinha que ser feito, demorou até demais. Já do ponto de vista como comerciante, o prejuízo tem sido expressivo: cerca de 10 mil reais por cada dia que o meu posto fica parado. E a situação é ainda pior para os donos de postos pequenos, que vão demorar ainda mais para serem abastecidos."

Alex Sales, 43 anos, dono da Alanis Transportadora

Na minha visão, a greve não é só dos caminhoneiros. A nossa reivindicação é pelo óleo diesel, mas a população também está esgotada de pagar preços abusivos no combustível e também foi para a rua. É por esse motivo que a manifestação chegou nesse ponto. E que bom que chegou. Esse acordo proposto pelo governo só vai empurrar o problema e repassar todos os custos para os brasileiros na forma de impostos. No final, somos nós que vamos pagar essa conta."

Ivar Schmidt, líder do Comando Nacional do Transporte 

Sou contra essa paralisação desde o princípio. Defendi que a solução para os nossos problemas não estava na redução do preço do óleo diesel. O problema está no número excessivo de caminhões e na jornada de trabalho de 16 horas. A solução mais viável seria reduzir essa jornada. O fim da greve é imprevisível. A gente não sabe a disposição das pessoas em ficar nas estradas. Cada ponto de bloqueio tem uma liderança. É uma categoria espalhada por todo território nacional. É muito diferente de uma greve de metalúrgicos em uma determinada empresa no ABC Paulista. A gente tem que pensar que o compromisso do caminhoneiro é com o povo brasileiro e com a própria categoria para não estragar a imagem com a população. Se começar gente morrendo em hospital por causa de falta de medicamento, de herói vira bandido.”

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