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Da Redação
Publicado em 28 de março de 2013 às 13h46.
Brasília - Numa tarde agitada na Câmara, o deputado federal Romário de Souza Faria (PSB-RJ) recebeu na última terça-feira a reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" em meio a três reuniões, telefonemas de outros parlamentares, recados de seus assessores e muita correria, literalmente.
Toda vez que cruzava alguma área pública do Congresso, Romário acelerava o passo e deixava todos para trás. É uma estratégia para fugir das fotos com fãs, o que ele não evita se for abordado.
Numa conversa que se estendeu pelos Anexos II e IV do Congresso, pelos corredores de acesso ao plenário e ainda em seu gabinete, Romário fez duras críticas à cúpula da CBF e chamou o vice-presidente da entidade, Marco Polo del Nero, de chefe do "cartel" da entidade.
Também acusou os dirigentes da confederação de superfaturamento na compra de terreno para a nova sede da CBF. Ele parecia seguro e tranquilo, apesar do assédio de todos os lados, e demonstrou intimidade com seu papel político.
Em relação às críticas de Romário aos dirigentes, a assessoria de imprensa da CBF disse que só se manifestaria mais efetivamente ao tomar conhecimento de todo o teor da entrevista, publicada nesta quinta-feira, na qual disse, entre outras coisas, que a próxima eleição presidencial da CBF "vai ser comprada".
No final do ano passado, Romário protocolou na Câmara o pedido de uma CPI da CBF.
E, ao ser questionado se acredita não haver interesse do governo em investigar a entidade, ele respondeu: "Estou aqui há pouco mais de dois anos e já pude reparar que não existe interesse do governo em abrir CPI nenhuma. Não me pergunte por quê. Com uma CPI do futebol, iniciada agora, o Brasil teria condições de chegar ao ano do Mundial limpo, de cara nova. Reina muita bagunça no nosso futebol. O estatuto da CBF, até onde eu sei, incentiva os investimentos nas bases, na formação de atletas femininas, tantas outras coisas. E não se vê isso".
O ex-jogador, campeão mundial pelo Brasil em 1994, destacou que "é tudo muito nebuloso na CBF" e, ao comentar o fato de que as eleições na entidade são marcadas por denúncias de compra de votos há décadas, soltou: "A próxima eleição (em 2014) vai ser comprada também. Torço e acredito que apareça algum candidato avulso, contrário aos métodos atuais e que possa incomodar os atuais dirigentes".
Romário ainda apontou Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e ex-diretor de seleções da CBF, como um nome de sua preferência para assumir a entidade que controla o futebol brasileiro.
Ele disse que o dirigente "tem seus defeitos e problemas, como todos nós, mas já deu provas de que é um ótimo administrador e botou o Corinthians no topo". "Se ele hoje, o Andrés Sanchez, se candidatasse à presidência da CBF, muito provavelmente teria meu apoio. Outro nome que também seria excelente é o Raí, um cara íntegro, inteligente, muito respeitado. O ideal seria uma chapa unindo eles dois", completou.
E o ex-jogador não recuou quando voltou a ser questionado se está realmente convicto de que a próxima eleição da CBF já está comprometida.
"Não tenho dúvidas. Vai rolar muito dinheiro. O candidato avulso deve brigar contra isso. Não pode se equiparar ao grupo dominante e sim passar para as federações e clubes a ideia de que é preciso iniciar um processo de profissionalização e moralização do futebol", ressaltou.
Romário também disse nesta entrevista que chega até "a ter saudades" de Ricardo Teixeira no comando da CBF, embora tenha sido um crítico feroz do antecessor de José Maria Marin na presidência da entidade.
"É impressionante a quantidade de coisas erradas na CBF a cada dia. O Teixeira, nos últimos dez anos, foi muito prejudicial à CBF, envolvido em muitos escândalos de corrupção. Mas, por outro lado, olhou muito para o futebol da seleção. Hoje, nós somos o 18.º no ranking da Fifa. É por isso que falo de saudades dele, mas só por isso", reforçou.
Já ao ser questionado sobre a possibilidade de Del Nero assumir a CBF, na eventualidade da saída de Marin, Romário fez sérias acusações ao dirigente: "Ele (Del Nero) é o pior dos três. É o cabeça do atual cartel que virou a CBF. É quem faz os negócios, as negociatas da entidade. É ele quem manipula os presidentes de federações, de clubes. Se chegar à presidência da CBF, vamos viver um inédito período de ditadura no nosso futebol".
Romário disse defender o voto das federações e dos "mais de 200 clubes" filiados à CBF para eleger o presidente da entidade, e não apenas dos times que fazem parte da Série A do Brasileiro, conforme prevê o estatuto do organismo.
O atleta, porém, admitiu estar descrente com a possibilidade de Marin ser afastado da presidência da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, após ter pedido para a Fifa tirá-lo destes cargos.
"Pedi, não obtive nenhum retorno nem vou obter. Quem dá as cartas do futebol não se interessa pelas minhas denúncias. Mas a população reconhece e cobra lisura e honestidade cada vez mais. O Marin tem que sair e deixar o Ronaldo tocar o Comitê Organizador da Copa. Todo dia a gente sabe de uma novidade lá da CBF. Soube, por exemplo, que a CBF comprou um terreno na Barra da Tijuca para fazer a nova sede. Quem pagasse R$ 9,5 mil por metro quadrado na área escolhida pela CBF já estaria pagando bem alto, segundo corretores. Pois bem, a CBF pagou R$ 14,5 mil por metro quadrado. Superfaturamento de R$ 25 milhões na obra. Alguém questiona? Investiga? Não pode, é empresa privada. Mas não é bem assim. A CBF usa nosso hino, bandeira, símbolos, nossos atletas. Tem que responder por isso", cobrou.
Ao ser questionado se hoje ocorrem pagamentos de propinas por convocações de jogadores para a seleção, como o presidente do Sport, Luciano Bivar, o ex-craque disse que ocorreu na convocação do jogador Leomar em 2001, o atleta disse que esse tipo de prática ilegal já aconteceu.
"Tem, ou pelo menos já teve, a gente sabe disso, sempre soube, mas é coisa bem feita, não tem como provar. O pior de tudo está nas categorias de base da seleção e de alguns clubes. Ali é a caixa preta", denunciou.
Se é contra Marin na direção da CBF, Romário admitiu que aprovou a volta de Luiz Felipe Scolari ao comando da seleção, após uma manobra do dirigente que derrubou Mano Menezes do cargo.
"Sempre fui a favor da volta dele à seleção, ainda mais com outro campeão do mundo, o Parreira. Os dois impõem respeito, segurança, passam confiança aos atletas. Mas eles têm de entender que o futebol hoje é diferente do jogado em 1994 (quando Parreira foi campeão) e em 2002 (ano do título conquistado por Scolari). É preciso modernizar, criar situações novas", disse Romário, antes de ver com naturalidade o fato de Felipão ter acumulado uma derrota e dois empates nos seus três primeiros amistosos nesta sua volta ao time nacional.
"Jogos muito difíceis (contra Inglaterra, Itália e Rússia), escolheram bem os adversários, que vendem caro uma derrota. Tem que ser assim mesmo. A seleção está nas mãos de quem sabe", disse Romário.
Já ao falar da preparação do Brasil para a Copa de 2014, Romário também foi crítico ao dizer que a competição "vai consolidar quatro elefantes brancos: os estádios de Brasília, Manaus, Mato Grosso e Natal".
"Se não forem entregues para a iniciativa privada, infelizmente vai se caracterizar desperdício de dinheiro. E, mesmo com a iniciativa privada, é preciso fazer contratos que possam compensar o valor gasto", alertou, antes de dizer que o Maracanã "tinha de mudar de nome" após passar pela sua terceira reforma nos últimos 13 anos.
"Perdeu o glamour, perdeu o charme. Está todo desfigurado. Nem dá vontade de entrar lá. Fora o gasto absurdo e desnecessário para a tal reforma", criticou.