Polícia Militar de São Paulo: agora o menino diz que seu amigo não estava armado e que o revólver foi plantado pelos policiais (Wikimedia Commons/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2016 às 21h35.
O menino de 11 anos que teria se envolvido no furto de um carro em São Paulo, que culminou em perseguição policial e na morte de uma criança de 10 anos com um tiro na cabeça, prestou um terceiro depoimento neste domingo (5), na Corregedoria da Polícia Militar.
Segundo informações da Folha de S. Paulo, o menino retirou boa parte das informações que havia dado anteriormente. Agora o menino diz que seu amigo não estava armado e que o revólver foi plantado pelos policiais.
No terceiro depoimento, concedido a uma psicóloga, o menino foi levado com sua mãe até a Corregedoria da PM, no Bom Retiro, zona central de São Paulo.
Lá, a psicóloga conversou com a criança num ambiente infantil, numa espécie de brinquedoteca. Desta forma surgiu a nova versão, em que o garoto nega que seu amigo - morto pela polícia - estivesse armado.
O jornal O Estado de S. Paulo conta que no depoimento inicial, registrado em vídeo pelos policiais envolvidos na ocorrência, o menino sobrevivente assume ter furtado um carro de um condomínio, na Vila Andrade, na zona sul.
Com isso, o garoto de 10 anos - que acabou morto - passou a atirar contra os policiais. Ele teria sido morto durante a troca de tiros.
1. Tapa, pressão e ameaça
Informações da Agência Estado desta terça-feira dão conta de que o menino de 11 anos que se envolveu em um furto de veículo que terminou com o amigo, de 10, morto pela Polícia Militar, afirmou em depoimento no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) que levou um tapa e foi ameaçado pelos PMs envolvidos no caso antes de chegar à delegacia.
2. 'Não sabia dirigir'
Segundo informações do G1, Cintia Ferreira Francelino, a mãe de menino de dez anos morto pela Polícia Militar, confirmou nesta terça à Polícia Civil que o filho não andava armado e não sabia dirigir.
Cintia prestou depoimento no DHPP acompanhada de um integrante do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Condepe).
3. Depoimentos anteriores eram completamente diferentes
No segundo depoimento, ocorrido na sexta-feira, na sede do DHPP, o menino sobrevivente afirmou que, juntamente com o amigo de 10 anos, foi perseguido pela PM após ambos furtarem um carro.
Segundo o garoto, o amigo teria atirado três vezes durante a perseguição dos PMs, mas acabou batendo em dois veículos e precisou parar o veículo.
Um policial que fazia a perseguição de moto caiu e, em seguida, atirou contra o vidro do motorista, acertando a cabeça do menino de 10 anos, que dirigia o automóvel.
O menino sobrevivente teria então sido dominado pelos PMs e colocado no chão com as mãos para trás. Depois, relata que levou um tapa e outro policial disse que se ele "não tivesse mãe e pai, iriam matá-lo".
4. Demora para prestar depoimento
O DHPP afirma que os PMs ficaram cerca de cinco horas com o menino antes de apresentá-lo no departamento.
Foi durante esse período que foi gravado o vídeo em que o menino confirma as versões iniciais dos PMs, de que menino de 10 morto anos atirou para, em seguida, ser morto.
A defesa afirma que o menino sobrevivente foi coagido a gravar o vídeo. No entanto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) comentou que o vídeo "parece espontâneo" e que o caso será investigado.
A Secretaria da Segurança Pública lembra que instaurou um processo apuratório: "Em relação ao vídeo, o DHPP informa que foi enviado para ser incluído no inquérito."
Em reportagem desta terça, a Ponte Jornalismo expõe o vídeo a especialistas, que discordam de autenticidade do vídeo: