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A angústia para encontrar e enterrar vítimas desaparecidas de Brumadinho

A cena se repete desde sexta-feira (25), quando a barragem de rejeitos da Vale se rompeu e deixou um rastro de lama e mais de 270 desaparecidos

Tragédia em Brumadinho: dentre os familiares, o mais importante agora é conseguir enterrar as vítimas (Adriano Machado/Reuters)

Tragédia em Brumadinho: dentre os familiares, o mais importante agora é conseguir enterrar as vítimas (Adriano Machado/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 12h08.

Brumadinho — Dezenas de familiares se aglomeram todos os dias em busca de informações. A cena se repete desde a última sexta-feira (25), quando a Barragem 1 de rejeitos da mineradora Vale se rompeu e deixou um rastro de lama e mais de 270 desaparecidos em Brumadinho, no interior mineiro. O número de mortos chega a 84.

Na porta de um dos centros de atendimento montados no município, encontramos dois irmãos que buscavam, com fotos nas mãos, qualquer notícia da irmã Gislene, de 53 anos.

Edir Lazaro do Amaral é comerciante e conta que ela estava dentro do refeitório da empresa Vale na hora do rompimento da barragem.

"Ela passou mensagens às 12h21 para algumas amigas. [Poucos minutos depois], uma vizinha viu a notícia e me avisou lá no restaurante. Até pediu pra não avisar a minha mãe. Aí eu entrei em desespero", relembra.

Gislene é uma das 276 pessoas consideradas desaparecidas até o momento. Ela trabalhava há 17 anos na Vale e, segundo o irmão, comemorava a compra de um carro novo e ainda cuidava da mãe idosa.

"A gente está muito chateado, chorando muito. Está uma tristeza danada. Eu nem estou abrindo o meu restaurante. Estamos neste sofrimento. Minha mãe é acamada, nós não tivemos condições de avisá-la de imediato, ela ficou sabendo pela televisão", conta.

Apesar da saudade e da tristeza, para Edir, o mais importante agora é conseguir enterrar a irmã. "A esperança nossa é encontrar pelo menos o corpo dela para a gente ter um enterro digno, porque ela não merecia essa morte", acrescenta emocionado.

Do outro lado da cidade de Brumadinho, aos pés daquele que já foi um riacho, encontramos o mecânico Nelson José da Silva Junior. De olhar perdido, observando o mar de lama, ele relembra que nasceu e foi criado ali. São 36 anos aqui, ao lado da barragem.

"Não imaginava [isso] né, porque é tudo fiscalizado. Não sabia que a situação era dessa forma não. Muita gente que trabalhava lá próximo dizia que tinha perigo [de rompimento], que estava vazando, mas eu mesmo não sabia disso", diz.

Todos os moradores da região onde vivia Nelson precisaram sair do local assim que a barragem de rejeitos se rompeu. Ele estava trabalhando longe dali.

A esposa e o filho, que estavam em casa, conseguiram fugir. Mas, a irmã que trabalhava na Vale continua desaparecida.

"Ela trabalhava na medicina do trabalho. E até hoje não temos notícia, nada, nada. Já fomos a hospital, IML, já andei essas matas todas e não encontrei nada.''

A busca é pela irmã mais nova Fernanda, de 32 anos. Ela comemorava a conclusão recente da tão sonhada faculdade de psicologia. Mas, infelizmente, não poderá participar da Colação de Grau.

"Ela estava tão feliz. Chegou a tirar todas as fotos. O pessoal da faculdade ligou pra nossa família, nós ficamos sem saber o que dizer. É muita tristeza'', diz.

A cada helicóptero que sobe e desce ali, fazendo resgates e buscas, Nelson fala, com lágrimas nos olhos: "Será que é a minha irmã?"

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