O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, abriu uma investigação na qual cita a 25 de março, sob suspeita da venda de produtos falsificados (Paulo Pinto/Fotos Públicas)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 19 de julho de 2025 às 08h02.
Última atualização em 19 de julho de 2025 às 12h16.
A Rua 25 de Março, símbolo do comércio de São Paulo, se tornou ponto central da disputa comercial entre o Brasil e os Estados Unidos. Na última quarta-feira, 16, o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, abriu uma investigação na qual cita a região comercial, sob suspeita da venda de produtos falsificados e da falta de proteção aos direitos de propriedade intelectual.
A EXAME esteve no local na quinta-feira, 17. Naquele momento, estava tudo calmo — dentro da tranquilidade possível da 25 de Março. Muitos lojistas e consumidores diziam sequer saber da decisão do governo dos Estados Unidos.
@exame Os Estados Unidos abriram uma investigação comercial acusando o Brasil de adotar práticas comerciais desleais que prejudicam empresas americanas. Um dos alvos foi a 25 de março em São Paulo, apontada como um dos maiores mercados de produtos falsificados no mundo pelo órgão americano. Essa ação foi iniciada sob ordem do presidente Donald Trump, que recentemente anunciou a cobrança de uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras, criando um cenário tenso para as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Na manhã desta sexta-feira, 18, houveram protestos na 25 de Março em reação às medidas do governo Trump. Saiba mais no site da #EXAME #trump #tarifa #politica #economia #25demarço #25 #saopaulo #comercio
Quem sabia, como se pode ver no vídeo que ilustra esta reportagem, se disse confuso com a inclusão do polo comercial em uma disputa entre dois países e preocupado com os custos que as tarifas de Trump podem trazer aos seus negócios.
Ao circular pela região, é possível ver os dois mundos — lícito e ilícito — que convivem ali. É inevitável ver produtos pirateados, a exemplo de bonecos e cadernos de marcas populares entre o público jovem, como Labubu e Bobbie Goods. Réplicas desses artigos continuam sendo vendidas livremente nos camelódromos e bancas informais.
As cenas revelam um dos maiores dilemas da 25 de Março: como equilibrar a informalidade com a legalidade no comércio popular.A loja Colori, que está presente na região há 21 anos, é uma das críticas da atuação do comércio irregular e seus representantes defendem a formalidade e a qualidade dos produtos oferecidos.
“Quero deixar claro que nossa mercadoria não é falsa. Pagamos por ela, pagamos impostos. Os produtos que temos aqui são usados por estilistas, costureiras”, diz Diângela Rodrigues, gerente da loja.
Ela critica as acusações e as medidas adotadas pelo governo dos Estados Unidos, e ressalta a preocupação dos comerciantes locais com o impacto das tarifas, que podem afetar diretamente empregos e a economia das famílias.
“O que o presidente Trump está dizendo é um absurdo. Cada taxa que ele aumenta prejudica não só os comerciantes, mas também toda a indústria. E quem vai pagar a conta?", afirma. "As famílias dos funcionários que serão mandadas embora. Isso é algo que ele não está pensando."
Em entrevista à EXAME, Elias Ambar, diretor da Univinco, associação que representa mais de 3.000 lojas e os comerciantes da região, mostrou-se indignado com a investigação e defendeu que a pirataria não tem origem na região.
Ele defende que os produtos falsificados vêm de fora do país e chegam ao Brasil por meio de importações — a 25 de Março é apenas um ponto de venda final. Também classificou as acusações do governo dos EUA como “distorcidas” e afirmou que a informalidade é um fenômeno global.
"Se você quer combater o mau, vai à origem. Onde é que todas essas mercadorias são produzidas? Como vêm parar aqui?", diz Ambar.
Tensões geopolíticas à parte, a realidade segue na 25 de Março. O movimento na região continua intenso, com consumidores em busca de preços acessíveis.
A rua mais popular do comércio paulistano comemorou 160 anos de existência neste ano e emprega 38.000 pessoas, nas contas da Univinco. Estudos do impacto econômico da região estão desatualizados. Em 2015, uma pesquisa da São Paulo Turismo mostrava que à época a movimentação era de R$ 120 milhões por dia — algo perto de R$ 200 milhões em valores corrigidos pela inflação do período.
O fluxo diário de pessoas é de 500 mil pessoas, segundo o diretor da Univinco. Em datas comemorativas, como o Natal, pode chegar a 1 milhão de transeuntes.
“A 25 de Março é uma região conhecida pela pirataria, isso todo mundo sabe, mas também há fiscalização. O Brasil não está em oculto, e as autoridades tomam as medidas cabíveis sempre que necessário", afirma Stella Carvalho, supervisora da loja Matsumoto, presente há 50 anos na região.
Para ela, apesar das críticas constantes e da atenção internacional, é importante reconhecer o esforço das autoridades locais e dos comerciantes para coibir irregularidades e aumentar a transparência nas operações da rua.
Nesta sexta, 18, porém, o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que representa cerca de 500 mil trabalhadores na cidade de São Paulo, organizou uma manifestação contra Donald Trump e sua investigação. É um exemplo de como as coisas têm mudado rapidamente nas últimas semanas no Brasil e no mundo.
Durante o protesto, que contou com 250 pessoas e um carro de som, gritos contra as tarifas anunciadas por Trump e pedidos pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro ecoaram, com o objetivo de defender os empregos e as empresas locais, segundo o sindicato.
Comerciantes da Rua 25 de março, em São Paulo, protestam CONTRA Donald Trump, após investigação dos EUA com os comércios da rua. pic.twitter.com/MUEB2a9yr1
— QG do POP (@QGdoPOP) July 18, 2025