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Mais de 85% dos municípios de SP enfrentam problemas com crack

Um mapeamento do Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios identificou que em 193 cidades, o nível de problemas pela droga é muito alto

Cracolândias: 92% das cidades afirmaram enfrentar problemas com a circulação de drogas (Mario Tama/Getty Images)

Cracolândias: 92% das cidades afirmaram enfrentar problemas com a circulação de drogas (Mario Tama/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de maio de 2017 às 10h22.

Última atualização em 29 de maio de 2017 às 16h53.

Sorocaba - O crack não para de avançar por São Paulo. Dos 645 municípios do Estado, pelo menos 558, incluindo a capital, enfrentam problemas relacionados à droga, conforme mapeamento do Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios (CNM).

Em 193 cidades do interior, o nível desses problemas é muito alto, segundo o ranking, atualizado em tempo real com informações de prefeituras.

Em outras 259, o alerta é médio; e, em 105, baixo.

Apenas 20 cidades disseram não ter problemas com o crack. Outras 67 não responderam oficialmente o levantamento (mais informações abaixo).

De 608 municípios paulistas ouvidos este mês (incluindo dados parciais), 92% afirmaram enfrentar problemas com a circulação de drogas, enquanto 95% confirmaram problemas com o consumo delas.

As prefeituras informaram ainda que as principais áreas afetadas são Saúde (67,1%), Assistência Social (57,5%) e Segurança (49,1%).

O Observatório do Crack inclui grandes cidades do interior na "lista vermelha" da droga, entre elas Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Bauru e Marília.

O avanço das drogas pelo interior, mostrado pelo jornal O Estado de S. Paulo em reportagem especial em 2014, não teve melhora com o passar do tempo, segundo Eduardo Stranz, consultor da CNM.

E a droga continua avançando em municípios menores e rurais, como Campos Novos Paulista, Planalto e Colômbia, com menos de 7 mil moradores.

Segundo ele, o fato de a maioria dos municípios responder espontaneamente ao questionário indica a gravidade do problema.

"São prefeituras que têm a coragem de se expor porque é algo que afeta muito a população. É como um grito de socorro", disse.

Apesar disso, praticamente nada mudou na política de governo. "Não houve investimento e o recurso que estava previsto em alguns programas sofreu contingenciamento."

Número de usuários

Procurada, a Secretaria da Saúde do Estado informou ter ampliado em seis vezes o número de vagas para dependentes químicos, de 500 em 2011 para 3,3 mil atualmente, em serviços próprios ou conveniados.

Desse total, 2 mil vagas, ou 60%, estão no interior (integralmente custeadas pelo Estado).

O encaminhamento é feito pelos municípios.

A pasta destacou que a internação só é indicada para casos graves.

O Estado ainda mantém o Serviço de Atenção e Referência em Álcool e Drogas (Sarad) em Botucatu, onde foram realizados 13 mil atendimentos desde 2014.

Das cerca de 2 mil internações na unidade, 77% aconteceram de forma voluntária, 13% involuntária e 10% compulsória.

O Observatório trabalha agora em uma nova metodologia para estimar a população envolvida com o crack no Estado, já que não há dados precisos.

A Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) estima o usuário regular em 0,5% da população - o equivalente a cerca de 164 mil pessoas no Estado, desconsiderando a capital.

Só 20 municípios não têm relatos; dramas familiares se acumulam

Apenas 20 cidades disseram não ter problemas com o crack. Outras 67 não responderam oficialmente o levantamento. Mas entre elas está, por exemplo, Sorocaba.

A cidade, de 652 mil habitantes, tem 49 pontos de consumo identificados em levantamento feito pela Câmara dos Vereadores.

Outras cidades que não responderam à consulta são Campinas, Piracicaba, Jundiaí e Franca, mas em todas há relatos de pontos de consumo coletivo de crack.

Em Votorantim, que já aparece no ranking oficial com nível médio de problemas, a reportagem levantou cinco minicracolândias apenas na região central.

Foi numa delas que I., de 23 anos, se enfurnou com o filho de 3 meses, após fugir de casa.

O marido, o pedreiro José Diniz de Oliveira, de 47, a encontrou às 5 horas, em um local conhecido como "bosteiro", no meio de uma dezena de usuários e a levou para casa.

"Não deixei mais ela sair com a criança, mas ela chamou a polícia. Quando vi, a viatura estava na frente de casa. Expliquei aos policiais, mas eles disseram que era um direito dela e, se eu a retivesse, eles me prenderiam."

A jovem mãe desapareceu outra vez com o filho. Oliveira recorreu à Justiça e conseguiu a guarda do bebê. A mãe continuou no crack.

Na quinta-feira, ele havia rodado pelas "biqueiras" (pontos de venda) e minicracolândias sem encontrar a mulher. Sua mãe o ajuda a cuidar do bebê.

Sem desistência

Ele conta que I. era usuária, mas tinha abandonado o crack quando a conheceu.

"Ela ficou dois anos sem usar, achei que estava livre e nos casamos. Um dia, já grávida, fugiu e foi parar em uma biqueira. Consegui internação em uma clínica, mas ela ficou só 30 dias, saiu e voltou a usar. Aí descambou. Dei uns 20 celulares e ela perdeu todos para a droga. E está assim, sai, fica três dias fora e volta arrebentada. Não vou abandoná-la, sei que é uma doença e precisa de ajuda."

Com a ajuda de um vereador de Sorocaba, ele conseguiu na sexta uma vaga para que ela seja internada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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