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50% das barragens têm potencial de dano maior ou igual a Mariana

A apuração avalia barragens de mineração em 16 Estados do País

Mariana (MG): 60% dessas barragens com maior potencial de dano ficam em Minas Gerais (Ricardo Moraes/REUTERS/Reuters)

Mariana (MG): 60% dessas barragens com maior potencial de dano ficam em Minas Gerais (Ricardo Moraes/REUTERS/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de novembro de 2016 às 13h20.

Última atualização em 4 de novembro de 2016 às 16h03.

Brasília - Um levantamento realizado pelo Ministério Público Federal (MPF) em 397 barragens de mineração do Brasil revela que mais de 50% dessas estruturas têm potencial de causar danos similares ou ainda piores ao ocorrido um ano atrás no rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, empreendimento da Vale e da BHP Billiton responsável pelo maior desastre ambiental do País. Mais cedo, o MPF havia informado equivocadamente que o índice era de 90%.

A apuração, feita a partir de informações do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), avalia barragens de mineração em 16 Estados do País. O mapeamento aponta que 60% dessas barragens com maior potencial de dano ficam em Minas Gerais.

As barragens são classificadas em categorias que vão de "A" a "E", sendo "A" o nível de maior risco e "E", o de menor risco. A classificação leva em conta o dano potencial associado.Trata-se de uma classificação questionável. A barragem da Samarco era classifica como "C", sendo considerada como de risco baixo e alto dano potencial.

De acordo com o trabalho executado pelo MPF, que contou com o apoio de 50 procuradores em 44 unidades, a análise das primeiras informações recebidas apontaram falhas na fiscalização dos empreendimentos, por causa da falta de estrutura e legislação defasada, que não traz garantia financeira, regularidade ambiental e redução de resíduo.

"Estruturalmente, nada foi feito para que essa situação mudasse, ou seja, é possível, sim, que haja novas tragédias", disse o ministro do Meio do Meio Ambiente, José Sarney Filho.

O ministro disse que o governo e o legislativo têm que tirar "lições" da tragédia de Mariana, para que tomem ações efetivas de prevenção, como aperfeiçoamento da legislação e aumento da fiscalização.

Segundo o procurador da República e coordenador do grupo de trabalho de mineração do MPF, Darlan Airton Dias, o levantamento ainda está em análise, mas já foi possível verificar que algumas barragens não possuem plano de segurança. Em outras situações, esses planos são falhos. Há ainda casos em que o DNPM não verificou o plano de segurança e de emergência de barragens.

O MPF fez diversas recomendações ao DNPM para que corrija as falhas. "A falta de estrutura do DNPM leva à aplicação não adequada da lei", disse Dias.

No dia 20 de outubro, o MPF apresentou denúncia contra 27 pessoas (físicas e jurídicas) por diversos crimes relacionados ao rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. Entre os denunciados estão o presidente afastado da Samarco, Ricardo Vescovi de Aragão; o diretor de infraestrutura, Kleber Luiz de Mendonça Terra; três gerentes operacionais da empresa; 11 integrantes do conselho de administração da Samarco; e cinco representantes da Vale e BHP Billiton na governança da Samarco.

As tipificações de crimes envolvem homicídio com dolo eventual, inundação, desabamento, lesões corporais graves e crimes contra o meio ambiente. Os procuradores concluíram que diversos órgãos de estrutura da Samarco, incluindo o conselho da Vale e BHP Billiton, tinham conhecimento dos graves problemas de segurança da barragem de Fundão.

A catástrofe de Mariana matou 18 pessoas. A degradação ambiental matou 14 toneladas de peixes ao longo dos Rios Carmo e Doce e atingiu 240 hectares de Mata Atlântica. Foram mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos vazados pela mineradora.

*Reportagem atualizada com a correção do índice de barragens afetadas.

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