Brasil

9 livros para refletir sobre a questão racial no Brasil

Nesse feriado do Dia da Consciência Negra, EXAME reuniu alguns livros que convidam a uma reflexão sobre o tema essencial para o país

Maria Carolina de Jesus: autora é uma das principais referências da literatura brasileira (Wikemedia Commons/Divulgação)

Maria Carolina de Jesus: autora é uma das principais referências da literatura brasileira (Wikemedia Commons/Divulgação)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 20 de novembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 20 de novembro de 2019 às 10h06.

São Paulo — A questão da raça, do racismo e da cultura negra são indissociáveis de qualquer discussão sobre a identidade brasileira e inspiraram algumas das obras mais importantes da nossa literatura.

Nesse feriado do Dia da Consciência Negra, EXAME listou alguns livros que convidam a uma reflexão sobre um dos temas mais importantes do país:

Um defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, de 2006 (Record, 952 páginas, R$ 99,90)

O livro conta a história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. É a recriação ficcional da história de Luísa Mahin, mãe do poeta Luís Gama, que participou da Revolta dos Malês, na Bahia.

A obra acompanha toda a trajetória de Kehinde, personagem principal, desde que ela foi raptada na África e trazida como escrava ao Brasil, até a busca pelos filhos, o desenvolvimento de sua religiosidade, a obtenção da carta de alforria e o retorno à África.

Ana Maria Gonçalves é uma ex-publicitária, que pediu demissão para se dedicar aos romances.

O quarto do despejo - diário de uma favelada, de Carolina de Jesus, de 1960 (ed. Ática, 200 páginas, R$ 47,00)

O livro é o diário autobiográfico de Carolina, uma catadora de papéis, semi-analfabeta, negra, pobre e favelada.

O diário registra fatos importantes da vida social e política do Brasil, iniciando-se em 1955 e terminando em janeiro de 1960. O livro traz tanto impressões pessoais quanto das condições miseráveis de vida em uma favela.

A autora é, até hoje, considerada uma das mais importantes escritoras negras do Brasil. Passou boa parte da vida morando na favela do Canindé, em São Paulo. É um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior, mas ainda não tão celebrado por aqui.

Na minha Pele, de Lázaro Ramos (Editora Objetiva, 152 páginas, R$ 37,90)

Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação.

Quem tem medo do feminismo negro?, de Djamila Ribeiro (Editora Companhia das Letras, 152 páginas, R$ 29)

O livro reúne um longo ensaio autobiográfico e uma seleção de artigos publicados pela filósofa e militante Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017.

Muitos textos falam de situações do cotidiano como o aumento da intolerância às religiões de matriz africana ou os ataques a celebridades como a repórter da Globo, Maria Júlia Coutinho, Maju, ou a tenista Serena Williams.

Ela também aborda temas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil, além de discutir a obra de autoras de referência para o feminismo, como Simone de Beauvoir.

Olhos d’água, de Conceição Evaristo, de 2014 (ed. Pallas, R$ 25)

É um livro de quinze contos que refletem sobre a pobreza, a miséria, a desigualdade social, a violência e a vida de mulheres, negros, favelados e outras diversas personagens envolvidas nesses contextos em dilemas sobre o amor, a vida e a ancestralidade africana.

Tudo isso muito conectado com a vivência da própria autora: Conceição Evaristo é uma mulher negra de pais desconhecidos que nasceu em uma favela da zona sul de Belo Horizonte (MG). Ela dividia sua juventude entre o trabalho como empregada doméstica e os estudos, conseguindo concluir o curso normal somente aos 25 anos.

Mudou-se para o Rio onde foi aprovada em um concurso público para magistério e estudou letras na UFRJ. O livro ganhou o prêmio Jabuti em 2017 na categoria contos.

O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado, de Abdias Nascimento, de 1978 (ed. Perspectiva, 232 páginas, R$ 45,00)

Uma das maiores referências na defesa dos direitos dos negros no Brasil, mesmo após sua morte, Abdias Nascimento sobrepõe testemunhos pessoais, reflexões e críticas, opondo-se ao discurso oficial sobre a condição do negro e desconstruindo o mito da "democracia racial".

Abdias foi exilado do Brasil durante a ditadura, e, depois da anistia, atuou como deputado e senador. Ele foi um dos principais idealizadores do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra.

Lugar de Negro, de Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg, de 1982 (Ed. Indez, R$ 180).

A historiadora, ativista e professora Gonzales foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) e do coletivo de mulheres negras Nzinga.

Neste livro, em parceria com o sociólogo Carlos Hasenbalg, ela relaciona o modelo econômico militar com o papel reservado à população negra e fala de classe e racismo, entre outros temas.

Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil, de Sueli Carneiro, de 2011 (ed. Selo Negro, 192 páginas, R$ 29)

Entre 1999 e 2010, a ativista e feminista negra Sueli Carneiro – fundadora do Geledés Instituto da Mulher Negra – produziu inúmeros artigos publicados na imprensa brasileira.

O livro, que reúne alguns dos melhores, é um convite à reflexão e mostra como o o racismo e o sexismo estruturam as relações sociais e políticas do país.

A Redução Sociológica, de Guerreiro Ramos, de 1965 (ed. Ática, 273 páginas, R$ 82,90)

A principal preocupação de Guerreiro Ramos era ser um sociólogo inserido e atuante na sociedade. Neste livro, ele defende uma sociologia engajada, que consiga romper a condição da cultura colonizada dos negros.

A obra busca difundir e apoiar os valores que são inerentes às tradições dos diferentes grupos sociais, principalmente os negros.

Acompanhe tudo sobre:BrasilFilmesLivrosNegrosRacismo

Mais de Brasil

Às vésperas do Brics, Brasil realiza primeira exportação de carne bovina para o Vietnã

Moraes teve 'sabedoria' ao levar aumento do IOF para conciliação, diz Alckmin

Brasil assina carta de intenções com gigante chinesa de energia que envolve minerais nucleares

Fórum Empresarial do Brics: Lula defende comércio multilateral dos países emergentes