Emergência lotada em hospital de Porto Alegre durante epidemia de covid-19. (Diego Vara/File Photo/Reuters)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 9 de outubro de 2021 às 08h30.
Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, mostra que nove em cada dez pacientes internados com a covid-19 não estavam imunizados. O estudo mostrou ainda que a probabilidade de óbitos foi 14 vezes maior em pessoas sem a vacinação, em comparação com quem estava com a imunização completa.
A análise foi feita ao longo de 2021 pelo Serviço de Epidemiologia do hospital e coordenado pela médica epidemiologista Ana Freitas Ribeiro. Apesar de ser uma amostra, reflete uma máxima que outros estudos, já publicados ao redor do mundo, também concluíram: a vacina reduz quase 100% os casos graves da covid-19.
“Quando o paciente é internado com gravidade, mesmo vacinado, a chance de morrer é muito grande. O que faz a diferença é quem não precisou de internação porque desafoga o sistema. Metade dos casos não vacinados precisaram de UTI”, diz a médica Ana Freitas Ribeiro.
De janeiro até a primeira quinzena de setembro deste ano, 1.172 pessoas foram internadas por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) associada à covid-19 no Emílio Ribas. Deste total, 1.034 não tinham recebido nem a primeira dose de vacina. Foram consideradas vacinadas aquelas pessoas que tinham recebido a segunda dose há mais de 14 dias.
Apenas 138 pacientes tinham tomado pelo menos uma dose de vacina. Destes, 85 haviam sido imunizados com apenas uma dose e 53 estavam com o esquema vacinal completo (duas doses ou dose única).
Outra análise mostrou que os pacientes que evoluíram para formas mais graves da covid-19 eram pessoas com mais de 50 anos e com algum tipo de comprometimento do sistema imunológico. O menor grupo foi o de jovens de 19 a 29 anos, representando 5% do total de pacientes (57 pessoas).
“As vacinas precisam terminar o seu esquema. Com uma dose você não está protegido. A grande maioria que precisou de internação e que estava com o esquema vacinal completo tinha comorbidade ou mais de 60 anos. Isso nos chama a atenção para a necessidade da dose de reforço”, diz afirma a médica Ana Freitas Ribeiro.
Entre aqueles que tinham esquema vacinal completo, não houve paciente na faixa etária de 19 a 29 anos, e 77% do total de internados tinham mais de 60 anos. Nestes casos, 83% tinham doenças pré-existentes.
Desde meados de setembro, o Ministério da Saúde distribui aos estados doses extras para vacinar, de forma complementar, idosos acima de 60 anos e imunossuprimidos. De acordo com dados do governo federal, já foram vacinadas quase 2 milhões de pessoas com a dose de reforço em todo país.
Logo quando surgiu, em meados deste ano, havia uma grande preocupação com a variante Delta e uma possibilidade de que o Brasil pudesse ter um novo avanço da doença, mas os números mostram que a vacinação funcionou para conter a mutação do coronavírus.
"Existia esse alarmismo da Delta, mas ela tinha uma forte concorrente aqui, a Gama. Também encontrou um cenário de vazio, com muitas pessoas vacinas há menos de seis meses", explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Apesar de ter começado lenta, atualmente, cerca de 1 milhão de doses de vacina são aplicadas todos os dias. Reflexo do avanço da vacinação é a desaceleração do número de óbitos. Entre as marcas de 400 mil mortes e 500 mil mortes foi um intervalo de 51 dias. Já entre 500 mil e 600 mil - alcançada na sexta-feira, 8 - foram 111 dias.
Levantamento feito pelo Ministério da Saúde mostra que aproximadamente 17 milhões de brasileiros estão com o ciclo vacinal em atraso. Na opinião de Kfouri, isso não compromete a imunidade coletiva.
“Em outros esquemas vacinais o número de pessoas com doses atrasadas também representa cerca de 10%. Nós temos uma cobertura muito elevada. Individualmente eles estão menos protegidos, mas impactam pouco no todo”, diz.