O então presidente da Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães (Arquivo Agência Brasil/Agência Brasil)
Luiza Calegari
Publicado em 11 de fevereiro de 2018 às 06h30.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2018 às 06h30.
São Paulo – "Um povo sem memória é um povo sem história”, já disse a historiadora paulista Emília Viotti da Costa. Muitas vezes, é o passado que ajuda a explicar o presente, e não seria diferente em relação à política brasileira.
Desde sua independência, digamos, peculiar, já que o país continuou sendo governado pelo filho do imperador de Portugal, até a operação Lava Jato, que envolve o alto escalão dos últimos governos, é possível traçar um panorama da história política brasileira por meio de algumas frases marcantes.
Conhecer o contexto político em que estamos inseridos é fundamental, afinal, completando a expressão que abre este texto, “um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado."
Aristides Lobo, jornalista, sobre a Proclamação da República
Essa descrição publicada no jornal O Diário Popular condensa algumas peculiaridades da entrada do Brasil no regime republicano: ela se deu por um golpe militar, sem a participação do povo, e não foi acompanhada pela abolição da escravidão (que tinha sido decretada um ano antes, ainda durante a monarquia).
Segundo os relatos, o marechal Deodoro da Fonseca subiu no cavalo em 15 de novembro de 1889, deu a volta na praça da Abolição (depois renomeada praça da República), no Rio de Janeiro, e foi carregado por militares que saudavam a república e o exército — e assim acabou a monarquia no Brasil.
Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá
Já no século XIX, o empresário e industrial Irineu Evangelista de Sousa era um ardente defensor do capitalismo liberal no Brasil. Ele ganhou notoriedade por implantar tecnologias da revolução industrial no desenvolvimento da infraestrutura no país, especialmente próximo do Rio de Janeiro, a então capital federal.
O Visconde de Mauá era defensor da abolição e contrário à Guerra do Paraguai. Foi deputado pelo Rio Grande do Sul em cinco legislaturas, e terminou a vida quase falido, após sofrer ataques e sabotagens da elite conservadora do país, que era contrária aos ideais pregados pelo Visconde.
Getúlio Vargas, ex-presidente do Brasil
O gaúcho é considerado, até hoje, um dos presidentes mais importantes do Brasil. Ele também foi alçado ao poder depois de um golpe, a Revolução de 1930 (ele depois seria eleito democraticamente, daria um novo golpe para se manter no poder, seria deposto e depois novamente eleito).
Em 1954, acuado por denúncias de corrupção e aconselhado a renunciar, Vargas se tornou o primeiro presidente do Brasil a se suicidar durante o cargo - preferindo morrer a fazer as concessões que lhe eram exigidas.
Com o suicídio, sua figura se tornou mitológica, e até hoje é forte a associação afetiva dos brasileiros com instituições e comportamentos fortalecidos por Getúlio à época — o nacionalismo das estatais como a Petrobras, o Estado paternalista e uma inclinação por governos populistas como remédio para crises recorrentes.
General Emílio Garrastazu Médici, durante a ditadura militar
A ironia dessa frase é que o próprio regime militar tratava de proibir a veiculação de notícias sobre greves, agitações, atentados e conflitos no país.
Também eram censurados os relatos sobre "desaparecimentos" dos opositores ao regime e sobre a tortura praticada nos porões dos órgãos estatais.
As notícias que poderiam ter tirado o sono do general só circulavam na imprensa alternativa, que também era reprimida nesta época.
Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte de 1988
O político fez parte de boa parte da construção da nova República brasileira, desde a agonia do golpe militar, quando lutou pela realização de eleições, até a gestão da Assembleia Constituinte, que elaborou a Constituição brasileira de 1998, um marco da redemocratização.
Guimarães proferiu essa frase no discurso de promulgação da Carta, como presidente da Assembleia. Ele morreu em um acidente de helicóptero enquanto sobrevoava Angra dos Reis (RJ). O corpo nunca foi encontrado.
Marta Suplicy, quando era ministra do Turismo
A frase mais polêmica da atual senadora Marta Suplicy foi enunciada quando ela ainda era ministra do Turismo, em pleno caos aéreo de 2007. Marta foi questionada sobre quais incentivos os turistas teriam para viajar em meio aos atrasos de voos e confusão nos aeroportos, e respondeu, na lata: “Relaxa e goza, porque depois você vai esquecer todos os transtornos”.
Diálogo gravado entre Romero Jucá, senador do PMDB, e o ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado
Então diretor da Transpetro, Sérgio Machado gravou, de forma oculta, suas conversas com o senador Romero Jucá, do PMDB. No diálogo, ambos levantavam a hipótese de fazer um “grande acordo nacional” para deter o avanço da operação Lava Jato.
As conversas aconteceram algumas semanas antes da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Quando os áudios vieram à tona, Jucá era ministro do Planejamento. Ele se afastou do cargo e voltou ao Senado, mas continua sob investigação.