O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer: seu nome ganhou força desde a semana passada, e o movimento já foi detectado pela imprensa italiana e mundial (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2013 às 14h27.
São Paulo – Antes apenas um entre os 115 cardeais que elegerão o sucessor de Bento XVI – e que são, portanto, também candidatos a sucedê-lo – o Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, ganhou grande força nos últimos dias como um dos possíveis escolhidos no próximo conclave.
Ontem, o jornal italiano La Repubblica voltou a colocar o brasileiro no grupo dos seis cardeais favoritos ao posto.
A máxima entoada dentro do Vaticano, porém, é de “quem entra papa, sai cardeal”, que serve para mostrar que expectativas não valem muito durante o conclave. A reunião em clausura dos religiosos está longe de ser uma eleição comum.
Com isso, recomenda-se olhar os indícios elencados abaixo com certa cautela, o que não tira o fato de que sim, um brasileiro é hoje candidato fortíssimo em Roma.
1) D. Odilo sabe que seu nome se tornou forte
Neste ano, antes de ir a Roma, Dom Odilo falou com jornalistas sobre a polêmica envolvendo a reitoria da PUC-SP e participou de uma entrevista coletiva com a imprensa no lançamento da Campanha da Fraternidade 2013, da CNBB, três dias após a renúncia do papa.
Chegou a falar das características que devem ser levadas em conta na hora de escolher o líder máximo da Igreja Católica.
Mas agora tem evitado a todo custo os repórteres em Roma, procedimento comum aos mais citados entre os papáveis. O comportamento é tido como o mais adequado pelos líderes religiosos, de maneira a evitar a autopromoção. Deu, no entanto, uma entrevista à Rádio Vaticano hoje, em que defendeu que não há nomes definidos antes do conclave.
2) A família dele se prepara antes do resultado
O irmão de D. Odilo, Flávio Scherer, tem dado entrevistas em que afirma que a família não tem ilusões e vê com cautela a sua eleição.
“Estamos como qualquer brasileiro torcendo por ele”, limitou-se a afirmar o irmão, tentando esconder certo entusiasmo.
Mesmo assim, o parente confirmou ao G1 que a família já está tomando ações práticas e providenciando documentos, como o passaporte. Explica-se: entre a eleição e a posse, decorrem-se apenas três dias. E a família, pelo visto, não cogita perdê-la.
3) Ele aparece entre os favoritos em listas da imprensa italiana
Desde que o periódico La Stampa publicou no último sábado a existência de um movimento na própria cúpula italiana e americana para barrar um nome relacionado ao atual secretário de Estado do Vaticano, Tarcísio Bertone, o nome de D. Odilo ganhou importância e maior atenção da imprensa italiana – e também mundial -, que cobre com afinco os bastidores da eleição.
Segundo o La Stampa, os cardeais Angelo Sodano e Giovanni Battista Re tornaram-se “patrocinadores de Scherer”.
"Scherer tem um nome alemão, um jeito comedido que o faz parecer pouco 'latino' e fala fluentemente italiano", disse a reportagem.
Outro jornal, o Il Messaggero, colocou Scherer como estando entre os quatro favoritos. O La Repubblica o citou como um dos dois "mais visíveis além-mar".
4) Cúpula brasileira em tom de campanha
Mesmo que de maneira discreta, há certo tom de campanha na comitiva brasileira presente no Vaticano. Principalmente por parte de monsenhor Antônio Catelan Ferreira, que tem assessorado parte dos cardeais brasileiros. Ele tem dito que o “nome de d. Odilo cresce em mais de um continente".
“Digo mais uma vez e repito: que D. Odilo tem todas as condições de assumir o pontificado”, disse em entrevista à Globo o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Raymundo Damasceno Assis, que também vota no conclave.
A declaração foi dada em resposta à suspeita de que ele votaria em um cardeal canadense. Mesmo assim, a fala fica como marketing positivo.
5) Boa reputação e jovem
Alguns fatores são elencados pela imprensa e por nomes simpáticos ao brasileiro:
- Aos 63 anos, Odilo é jovem e poderia ter um papado mais longo que o de Bento XVI.
- Tem experiência à frente de umas das três maiores arquidioceses do mundo, na maior nação católica do planeta (123 milhões de pessoas no Brasil se declaram da religião, segundo o IBGE).
- Imune até hoje a escândalos de corrupção e abusos sexuais.
- Tem bom trânsito na Cúria, onde ocupa cargos, mas também na América do Sul, onde exerce grande influência.
6) Divisão italiana
Os rumores propagados pela imprensa italiana apontam o enfraquecimento de um voto unido por parte do grupo mais numeroso no conclave: o de cardeais italianos, que são 28.
Esta divisão fez emergir o nome de Scherer – junto a mais cardeais de outras partes do planeta, frise-se.