Presidente Jair Bolsonaro. (Marcos Correa/Reuters)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 2 de julho de 2021 às 07h00.
Última atualização em 2 de julho de 2021 às 15h07.
Há duas semanas, o governo do presidente Jair Bolsonaro enfrenta denúncias de supostas irregularidades na compra de vacinas contra a covid-19. Para 45% dos brasileiros, o governo federal não combate a corrupção. Outros 28% acham que o presidente tem agido para impedir desvios de dinheiro público, e 27% não concordam nem discordam.
É o que mostram os mais recentes dados da pesquisa EXAME/IDEIA, um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. O levantamento ouviu 1.248 pessoas entre os dias 28 de junho e 1° de julho. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Clique aqui para ler o relatório completo.
A sensação de que Bolsonaro trabalha para combater a corrupção é maior entre os apoiadores. Na parcela de evangélicos, sua base mais fiel, 38% acreditam que o presidente faz o seu trabalho para impedir o desvio de dinheiro público. Por outro lado, quanto maior a escolaridade, mais alto é o sentimento de que Bolsonaro não trabalha contra a corrupção. Entre as pessoas com ensino superior, este número é de 58%.
Maurício Moura, fundador do IDEIA, observa que nas últimas semanas houve uma mudança na percepção dos brasileiros quanto a como o presidente lida para combater desvio de recursos no seu governo.
“Isso é ligado ao episódio da compra da vacina indiana Covaxin e s denúncias de uma potencial aquisição de um lote da AstraZeneca. Quase um quinto das pessoas mudou de opinião sobre a corrupção do governo na última semana. Dois terços dizem que ouviram falar que a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da covid-19 está apurando esses fatos de desvios de recursos. Ou seja, é um tema de bastante disseminação no imaginário da opinião pública hoje”, diz.
A pesquisa EXAME/IDEIA buscou ainda captar o sentimento das pessoas em relação às últimas denúncias apuradas pela CPI da pandemia no Senado. Entre os entrevistados, 67% dizem que ouviram falar dos trabalhos de investigação no parlamento. Outros 21% mudaram de opinião sobre o combate à corrupção no governo por parte de Bolsonaro.
O Ministério da Saúde decidiu, na terça-feira, 29, suspender o contrato de compra da vacina indiana Covaxin. A decisão ocorreu após uma recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU), sugerindo a suspensão do contrato.
A medida é cautelar e temporária "para uma análise mais aprofundada do órgão de controle", disse a pasta em comunicado à EXAME. O acordo foi firmado em fevereiro deste ano para a aquisição de 20 milhões de doses do imunizante, fabricado pelo laboratório Bharat Biotech.
O contrato está no centro das investigações da CPI da pandemia. O servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, denunciou supostas irregularidades na compra do imunizante a um preço muito superior ao praticado por outros laboratórios. O valor do contrato é de 1,6 bilhão de reais, o que dá um preço de 15 dólares por dose. O montante já foi reservado pelo governo, mas ainda não foi pago.
Em depoimento na sexta-feira, 25, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), irmão de Luis Ricardo, colocou no olho do furacão o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR). De acordo com o parlamentar, ao levar a informação de uma possível corrupção no processo de compra da vacina, o presidente Jair Bolsonaro teria dito que era “coisa” do Barros.
Na quinta-feira, 1° de julho, a CPI ouviu o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti, representante da Davati Medical Supply. Ele disse ter recebido pedido de propina do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, para prosseguir com negociação pela venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. A oitiva foi marcada por dúvidas e polêmicas.
As denúncias de supostas irregularidades na compra de vacinas também reflete na avaliação do governo. As pessoas que acham o trabalho do presidente Bolsonaro como ruim e péssimo somam 54%. O número é o mais alto desde que ele assumiu o Palácio do Planalto, em janeiro de 2019. Os que avaliam o governo como ótimo e bom são 23%, e os que acham regular, 21%.
Maurício Moura classifica o patamar como "perigoso". "É uma semana que a gente teve um viés negativo na margem numérica, mas estatisticamente bastante semelhante aos outros levantamentos", diz.
Em relação à última pesquisa EXAME/IDEIA, a avaliação ruim e péssima se manteve no mesmo valor. Houve uma variação, ainda que dentro da margem de erro, negativa na parcela que classificam o governo como ótimo e bom. Assim como em outros levantamentos, o Centro-Oeste continua com a maior avaliação positiva (45% ótimo e bom), e o Nordeste com a maior negativa (55% ruim e péssimo).
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