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100 dias para a eleição presidencial: a disputa já está definida?

Pela primeira vez desde a redemocratização do país, dois nomes rivalizam de forma muito antecipada a disputa presidencial

Bolsonaro e Lula: 65% dos eleitores dizem de forma espontânea que vão votar em um dos dois. (Miguel Schincariol/Nelson Almeida/AFP/Getty Images)

Bolsonaro e Lula: 65% dos eleitores dizem de forma espontânea que vão votar em um dos dois. (Miguel Schincariol/Nelson Almeida/AFP/Getty Images)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 25 de junho de 2022 às 13h19.

Última atualização em 25 de junho de 2022 às 13h37.

Faltam 100 dias para o primeiro turno das eleições no Brasil. No dia 2 de outubro, os eleitores brasileiros vão votar para os cargos de presidente, governador, deputados estadual e federal, além de um senador da República por estado. Pela primeira vez desde a redemocratização do país, dois nomes rivalizam de forma muito antecipada a disputa presidencial.

De acordo com a pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA divulgada na quinta-feira, 23, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente Jair Bolsonaro (PL) seriam os escolhidos para o segundo turno, caso as eleições fossem hoje. Em uma pergunta espontânea, sem que os eleitores recebam uma lista com os pré-candidatos, os dois somam 65% das intenções de voto, o que indica que há pouca margem para mudanças nesses 100 dias.

A EXAME/IDEIA ouviu 1.500 pessoas entre os dias 17 e 22 de junho. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-02845-2022. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Veja o relatório completo.

Maurício Moura, fundador do IDEIA, avalia que essa eleição é o que ele chama de “batalha de rejeições”. “Tanto a rejeição ao PT quanto ao presidente Bolsonaro. Nesse momento, a rejeição ao governo maior proporciona a liderança do Lula, mas quem chegar com uma rejeição menor em outubro será o vencedor”, diz.

Em uma pergunta feita sobre qual nome o eleitor não votaria de jeito nenhum, Bolsonaro tem 44% das menções, e Lula é citado por 42% Ciro Gomes (PDT) tem 18%, e Simone Tebet (MDB) aparece com 12%.

(Arte/Exame)

Economia e inflação

Para o cientista político André César, da Hold Assessoria, há muitas diferenças entre o momento de 100 dias antes das eleições de 2018 e agora, em 2022. Há quatro anos, o ex-presidente Lula estava preso, mas ainda se discutia na Justiça se ele poderia ser candidato ou não. Pouco tempo depois ele ficou inelegível, e Fernando Haddad assumiu o posto de cabeça de chapa.

LEIA TAMBÉM: Pesquisa eleitoral: Bolsonaro tem vantagem sobre Lula em três regiões; petista está à frente em duas

“O elemento que era debatido em 2018 era a corrupção. Neste ano, a economia volta a ser um tema central, que é algo que sempre foi utilizado em outras campanhas. A diferença é que vivemos uma situação mais dramática, que é pior para o presidente Bolsonaro, que tenta a reeleição”, afirma.

Mais da metade dos eleitores dizem que o principal problema do país hoje é o desemprego e a inflação, de acordo com a pesquisa EXAME/IDEIA.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de junho, considerada a prévia da inflação do mês, ficou em 0,69%, no dado divulgado nesta sexta-feira, 24, pelo IBGE. Em 12 meses a alta acumulada é de 12,04%. Um dos produtos que mais subiu foi o diesel, que teve uma alta de 2,83% no IPCA-15 de junho.

Há poucos dias o ex-presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, renunciou ao cargo, logo depois de anunciar um novo reajuste dos combustíveis - 14% no diesel e de 5% na gasolina -, algo que impacta diretamente na inflação.

Terceira via

O PSDB pela primeira vez em mais de 30 anos não vai ter um candidato à Presidência. João Doria (PSDB) desistiu de concorrer ao Palácio do Planalto e os tucanos decidiram apoiar a pré-candidatura da senadora pelo Mato Grosso do Sul, Simone Tebet, formando uma chapa da terceira via, que inclui ainda o Cidadania.

O acordo nacional envolveu palanques estaduais, com o MDB apoiando a reeleição de Rodrigo Garcia (PSDB), em São Paulo, e a pré-candidatura de Eduardo Leite (PSDB), que decidiu concorrer a um segundo mandato pelo Rio Grande do Sul. A grande questão é se Tebet vai sair dos 3% de intenção de voto que ela teve na última pesquisa EXAME/IDEIA.

“Continuamos vendo a terceira via bastante distante de Lula e Bolsonaro. Vemos também as intenções de voto do ex-ministro Ciro Gomes bastante estável. Lembrando que há uma diferença entre a os votos estimulado e espontâneo, ou seja, é importante ficar atento à curva de intenção de votos de Ciro Gomes porque ela pode ser a definidora da eleição acabar ou não no primeiro turno”, explica Maurício Moura.

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Eleições nos estados

Assim como a terceira via está costurando os acordos nos estados, Lula e Bolsonaro também fazem movimentos para ganhar palanques locais, que serão espelho da disputa nacional. Alguns estados são decisivos para ambos.

No caso do petista, na próxima semana deve sair a definição se Fernando Haddad será o candidato da esquerda ao governo, com Márcio França desistindo de concorrer e saindo ao Senado. No estado, Bolsonaro tem seu ex-ministro, Tarcísio de Freitas, que aparece bem colocado nas pesquisas.

O cientista político André César avalia que os palanques estaduais são estratégicos para Lula e Bolsonaro, mas que nesta eleição é o nacional que vai definir como os políticos locais vão se movimentar.

“Na Bahia, é praticamente certo que o PT vai perder. ACM Neto (União Brasil) está praticamente sozinho na disputa. Mas ele não deve fazer uma campanha de oposição a Lula porque o petista tem muito apoio da população baiana, sobretudo no interior do estado. Em Minas Gerais, Lula apoia Alexandre Kalil (PSD) e ainda conseguiu atrair Gilberto Kassab. Romeu Zema (Novo), apesar de brigas, deve dar palanque à reeleição do presidente”, diz.

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