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10 questões sobre suposto estupro cometido por Feliciano

Em entrevistas exclusivas para EXAME.com, defesa de Feliciano e Patrícia Lélis, que teria sido vítima do abuso, detalham suas versões sobre o caso


	Defesa de Marco Feliciano afirma que Patrícia Lélis terá que responder na justiça pelas acusações que faz ao parlamentar. "Nãi ficará impune", diz advogado
 (Agência Câmara)

Defesa de Marco Feliciano afirma que Patrícia Lélis terá que responder na justiça pelas acusações que faz ao parlamentar. "Nãi ficará impune", diz advogado (Agência Câmara)

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Da Redação

Publicado em 11 de agosto de 2016 às 13h58.

Brasília/São Paulo – Uma semana após vir a público o caso de suposto estupro cometido pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), ainda faltam peças no quebra-cabeça da trama que envolveria ameaças de morte e até sequestro da vítima.

Ex-membro da Juventude do PSC, a jornalista Patrícia Lélis, de 22 anos, acusa o líder do partido de estupro, abuso sexual e lesão corporal e afirma que teria sido mantida em cárcere privado em São Paulo pelo chefe de gabinete do deputado, Talma Bauer. 

A história veio à tona depois que o professor Hugo Studart, da Universidade de Brasília, narrou o caso em seu perfil no Facebook. Cerca de uma hora após a postagem, Patrícia– que relatou o abuso para o ex-professor – apareceu em vídeo negando o fato.

A partir de então, uma série de informações desencontradas transformaram o caso em um enigma para jornalistas e opinião pública. Na última sexta-feira (5), a jovem fez um Boletim de Ocorrência afirmando que teria sido coagida por Bauer a gravar vídeos negando a agressão. O chefe do gabinete de Feliciano prestou esclarecimentos, negou tudo e foi liberado na madrugada de sábado (6).

Após retornar a Brasília, Patrícia fez um Boletim de Ocorrência contra Feliciano na noite de domingo (7). A jovem denunciou o parlamentar por tentativa de estupro, assédio sexual e agressão na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM). Na segunda-feira (8), a jornalista visitou a Procuradoria da Mulher do Senado Federal e pediu ajuda ao órgão.

O QUE ACONTECEU EM 15 DE JUNHO?

O que diz Patrícia Lélis: “No dia 15 de junho, Feliciano me chamou para ir ao seu apartamento funcional. Ele alegou que faria uma reunião com o PSC Jovem. Quando cheguei lá, não tinha ninguém, apenas ele. Ele me ofereceu um cargo no partido com salário de R$ 15 mil. Em troca, eu teria que ser sua amante. Eu não aceitei. Nervoso, ele veio para cima de mim, tentou me arrastar para o quarto e tentou tirar minha roupa. Diante da minha resistência, me bateu. Comecei a gritar, o que chamou a atenção de uma vizinha dele que veio até o apartamento perguntar se estava tudo bem. Nesse momento, consegui sair de lá”.

O que diz Marcelo Carvalho, que defende Feliciano: “Não aconteceu nada. Ele não se encontrou com ela”.

Quais as provas apresentadas até agora: Antes do caso vir a público, Patrícia Lélis entregou para o blog Coluna Esplanada prints de conversas pelo aplicativo Telegram que ela teria tido com Feliciano logo após o suposto crime. Nos diálogos, o deputado afirma que a jornalista é uma jovem atraente e que ninguém acreditaria nela. Quando Patrícia afirma que sua boca está roxa, Feliciano pede para ela passar um batom “pelo amor de Deus”.

QUAL É O ENVOLVIMENTO DE TALMA BAUER, CHEFE DE GABINETE DE FELICIANO?

O chefe de gabinete procurou Patrícia, ofereceu ajuda e a aconselhou a esquecer a história. A jovem gravou a conversa e encaminhou o áudio para dois amigos, com a orientação de que deveriam divulgar o arquivo caso acontecesse alguma coisa com ela.

Na conversa, Bauer demonstra preocupação e garante espaço dentro do partido para a jovem. “Posso pedir para você por uma pedra em cima? O partido vai continuar tudo igual para você, e para melhor. (..) está pior para ele do que para o partido”, diz.

Segundo Patrícia, ele a teria mantido em cárcere privado em um hotel de São Paulo (SP) na última semana e a coagido a gravar vídeos negando a acusação.

POR QUE PATRÍCIA VIAJOU PARA SÃO PAULO?

A jornalista Patrícia Lélis (esq), que acusa Marco Feliciano de abuso sexual, ao lado de sua advogada, Joyce de Castro Paiva (Marcelo Ribeiro/EXAME.com)

Uma semana depois do jornalista do blog Coluna Esplanada publicar um post relatando suposto assédio cometido por um deputado contra uma jovem (sem, contudo, citar o nome de ambos), Patrícia Lélis viajou para São Paulo e passou a negar o caso. A viagem teria sido custeada pelo jornalista Emerson Biazon, que teria prometido a ela uma entrevista de emprego na TV Record em Campinas e a assessorado a negociar a história com pelo menos dois veículos de Brasília.

O QUE ACONTECEU EM SÃO PAULO?

Ao chegar em São Paulo, Patrícia afirma que se surpreendeu ao encontrar Talma Bauer no hotel em que ficaria hospedada. A partir daí, segundo a jornalista, ele teria começado as ameaças e a obrigá-la a negar o conteúdo da denúncia.

O chefe de gabinete de Feliciano também teria confiscado as senhas dos perfis de Patrícia em redes sociais para fazer postagens – como a publicação de uma imagem em que ela aparece ao lado do namorado em um shopping, supostamente de São Paulo.

Questionada por EXAME.com sobre quais provas tem contra Bauer, Patrícia afirma: “Posso comprovar que ele pagou o hotel. Ele esteve lá todos os dias. Tenho prints das conversas, vídeos de quando nos reunimos no café. É indefensável”. Marcelo Carvalho, que defende Feliciano, afirma que não está autorizado a falar sobre o caso.

COMO PATRÍCIA SAIU DO CÁRCERE?

Como Bauer permanecia ao seu lado quando recebia ligações, Patrícia conseguiu, segundo ela, pedir socorro a dois jornalistas por meio de códigos. Quando eles chegaram ao hotel, conseguiram retirá-la do quarto e a levaram diretamente para a delegacia.

QUAL É A PARTICIPAÇÃO DE EMERSON BIAZON NO CASO?

O envolvimento do jornalista, que a princípio teria se apresentado como relações públicas do PRB, ainda é obscuro. Ele teria oferecido assessoria de gestão de risco para Patrícia e se encontrado com alguns jornalistas de Brasília (DF) para expor a história. Segundo o blog Coluna Esplanada, ele teria, inclusive, oferecido dinheiro em troca da publicação de reportagem sobre o assunto.

Teria também partido dele a proposta para Patrícia viajar para São Paulo. Além disso, ele se encarregou de publicar em seu próprio perfil no YouTube o primeiro vídeo em que a jovem nega a agressão.

Em depoimento no 3º DP de São Paulo, Biazon afirmou estar em posse de 20 mil reais que fariam parte de um acordo fechado com Bauer em troca do silêncio de Patrícia. Segundo ele, Patrícia teria combinado ficar em silêncio sobre o caso em troca de 300 mil reais. Ela nega que teria feito parte da negociação, no entanto, em 2 de agosto, pediu uma conta com CNPJ para a mãe para fazer um depósito vindo de São Paulo, segundo a Coluna Esplanada.

POR QUE PATRÍCIA LEVOU QUASE 2 MESES PARA FAZER BO?

Um dos fatores que causa mais estranhamento foi a demora para Patrícia oficializar a denúncia. A EXAME.com, a jovem explicou que procurou resolver as coisas dentro do PSC. Com medo de se expor, ela procurou correligionários de Feliciano e líderes religiosos.

Ao perceber que o caso não seria investigado pela legenda, a jornalista decidiu que levaria o caso adiante. Temendo sofrer represálias dentro do partido, optou por tornar o caso público através da imprensa antes de formalizar a denúncia na Polícia.

O QUE DIZ FELICIANO?

Em vídeo publicado no último sábado, Feliciano afirmou que demorou para se pronunciar para não cometer injustiças. “Depois que tive acesso ao Boletim de Ocorrência, digo que tenho plena consciência na justiça divina e na justiça dos homens”.

Ao lado da mulher, Feliciano disse que já se colocou à disposição da Justiça para colaborar com provas que comprovarão sua inocência. O parlamentou destacou que perdoar a jornalista, mas afirmou que “espera que ela seja responsabilizada pela falsa comunicação de um crime”.

O QUE ACUSAÇÃO E DEFESA FARÃO AGORA?

O que diz Patrícia Lélis: “Reuni as provas necessárias para provar o que ele fez contra mim. Busquei ajuda dentro do PSC e não tive sucesso. A última alternativa foi buscar a imprensa. Não tenho medo de nada. Estou tendo muito respaldo dos advogados, dos amigos. Estou focada em usar todas as energias para que Feliciano, Bauer e o pastor Everaldo paguem pelo crime que cometeram”.

O que diz Marcelo Carvalho, que defende Feliciano: “Independente de qualquer repercussão pública, eu tenho que ter a responsabilidade de trazer as provas. O ônus da acusação é de quem alega. É ela que tem que provar que ele é culpado e não ele que tem que provar que é inocente. Ela é uma pessoa desconhecida e ele é um parlamentar. Se a investigação for adiante, eu mostrarei as provas esclarecedoras que já reuni. Feito o boletim de ocorrência, a investigação vai apurar se o crime realmente aconteceu. No caso de resposta positiva, será encaminhado ao STF, pois ele tem foro privilegiado. Não tenho a necessidade de ficar respondendo mentira por mentira. Na hora de rebater os fatos que a pessoa levantou, ela responderá por eles. Não ficará impune, não ficará de graça”. 

A cúpula do PSC decidiu, nesta terça-feira, entrar na Justiça contra a jovem por falsa denunciação, para "defender a imagem do partido".

QUEM ESTÁ INVESTIGANDO O CASO? 

Há duas linhas de investigação sobre o caso. Uma em Brasília (DF), onde a Delegacia da Mulher e a Procuradoria Geral da República miram a acusação de estupro contra Feliciano. Já em São Paulo (SP), o foco é a investigação sobre a suspeita de Bauer ter mantido Patrícia em cárcere privado. 

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