João Doria: o prefeito participou da ação que pintou de cinza o muro com grafites na 23 de Maio (Fábio Arantes/Secom-PMSP)
Ana Laura Prado
Publicado em 15 de abril de 2017 às 06h30.
Última atualização em 15 de abril de 2017 às 06h30.
São Paulo – O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), chega a seus 100 dias de gestão recém completados com uma aprovação recorde entre os moradores da cidade. Mas os aplausos não são unânimes. E, nesses três meses, o ex-empresário dividiu opiniões e gerou algumas polêmicas.
Para bem ou para mal, o prefeito ganhou evidência nos seus primeiros meses de gestão – e entrou para a lista de cotados para concorrer às eleições presidenciais de 2018 pelo PSDB.
Nas redes sociais, as controversas ações do peemedebista conquistaram tanto fãs quanto haters. Fora da internet, algumas questões também geraram intensos protestos de alguns setores.
Relembre 1o ações de Doria que dividiram opiniões durante os 100 primeiros dias de gestão.
No início do ano, a gestão Doria foi acusada de tentar esconder, com faixas, moradores de rua que viviam embaixo de um viaduto na Avenida 9 de Julho.
Segundo a prefeitura, a medida tinha o intuito de “proteger” aquelas pessoas até que elas fossem transferidas para locais de acolhimento.
A afirmação, contudo, destoa da versão dos próprios funcionários responsáveis pela instalação, que admitiram que as faixas serviriam para impedir que os transeuntes pudessem ver o local do acampamento.
A polêmica guerra de Doria contra a pichação e os grafites na cidade foi um dos episódios de maior repercussão até agora. No final de janeiro, o prefeito determinou que alguns murais, como o da Avenida 23 de Maio, fossem pintados de cinza. Além dele, outros muros em todas as regiões da cidade também foram cobertos pela tinta.
A medida gerou indignação por parte de quem defende o grafite como uma forma de arte e expressão urbana. Enquanto isso, outras pessoas apoiaram a medida ao considerarem o ato como irregular.
Em meio à controvérsia, Doria chegou a ser proibido pela Justiça de apagar os grafites sem autorização de órgãos de preservação cultural. A liminar foi suspensa dias depois e o prefeito conseguiu, ainda, sancionar uma lei que aumenta o valor das multas para quem for flagrado desenhando nos muros.
Para divulgar seus programas (e atrais atenção), o próprio prefeito apareceu caracterizado em algumas das ações. Em mais de uma ocasião – e inclusive em seu primeiro dia de trabalho –, Doria se vestiu de gari, pedreiro e jardineiro para varrer ruas, cortar a grama, pintar muros e inspecionar banheiros.
Além disso, como parte de um “teste” das calçadas de São Paulo, ele utilizou uma cadeira de rodas para constatar as dificuldades vividas por aqueles que necessitam de acessibilidade.
“Teatro” para alguns, “mão na massa” para outros, as ações foram amplamente compartilhadas pelo prefeito através de suas redes sociais.
Em fevereiro, a gestão Doria anunciou cortes e congelamentos em diversos setores para 2017. Na Saúde, a Prefeitura anunciou a suspensão de 20,7% dos gastos — um corte quatro vezes maior que os 4,85% já aplicados no ano passado.
A maior porcentagem de corte foi aplicada em Cultura, com 43,5%. No início do ano, a Escola Municipal de Educação Artística chegou a ter o início da aulas adiado por falta de professores. Com um congelamento de 28,5%, a Educação também foi uma das áreas mais afetadas.
Segundo a gestão, o contingenciamento de gastos foi necessário para cobrir “falhas deixadas no Orçamento elaborado pela gestão de Fernando Haddad (PT)”.
Uma das principais promessas de campanha de Doria era zerar a fila por vagas em creches até o fim do ano. No mês das eleições, em outubro do ano passado, o déficit era de 103 mil crianças de 0 a 3 anos. O plano, no entanto, foi revisto logo nos primeiros dias de seu mandato.
Em janeiro deste ano, em entrevista a EXAME.com, o secretário de educação de Doria, Alexandre Schneider, afirmou que a meta passaria a ser de 66 mil vagas em 2017.
Mas, em março, Doria anunciou o Programa Nossa Creche e adiou ainda mais a meta: disse que vai criar 65,5 mil vagas até março de 2018 e 96 mil novas vagas nos 4 anos de governo.
Uma questão semelhante envolveu o programa Corujão da Saúde, que pretendia zerar a fila por exames médicos “herdada” da gestão anterior. A promessa era zerar a fila de 485.300 exames.
Depois de eleito, Doria tirou 145.919 pessoas dessa fila sem receber atendimento. Ele alega que elas ou não precisavam mais fazer os procedimentos ou aguardavam há mais de 6 meses pelo exame e teriam que fazer uma reavaliação.
Até o dia 3 de abril, 342.741 atendimentos foram feitos. Atualmente, a fila tem 1.706 pessoas que esperam por um exame desde 2016 e outras 86.918 que receberam pedidos de exames médicos neste ano.
A discussão envolvendo a velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê começou na gestão Haddad e teve um questionado desfecho nas mãos de João Doria.
Após vencer uma ação de bloqueio na Justiça, o prefeito cumpriu sua promessa de campanha e voltou a aumentar a velocidade máxima nas vias.
A medida, no entanto, foi adaptada em alguns pontos. A velocidade de 50 km/h foi mantida em uma das faixas da pista local, além de terem sido estabelecidos pontos de redução próximos a áreas de acesso.
O aumento foi duramente criticado por especialistas e tem sido, também, relacionado a dados que mostram um aumento do número de acidentes após a mudança.
A decisão, por outro lado, agradou uma significativa parcela de eleitores – e motoristas – que criticaram a redução das velocidades na gestão de Haddad.
Após alfinetar o prefeito com uma ação que fazia referência à polêmica dos grafites em São Paulo, a Amazon recebeu uma resposta pessoal – e um tanto irritada – de Doria.
Em um vídeo, ele convocou a marca a doar livros e computadores a instituições públicas. O convite veio acompanhado de um tom crítico à propaganda, que, para ele, não era uma forma efetiva de colaborar com a cidade.
A discussão terminou com a marca anunciando a disponibilização gratuita de livros digitais aos usuários e, também, uma futura doação de leitores digitais Kindle para escolas e instituições.
O desdobramento da polêmica dividiu opiniões acerca do “vencedor” da discussão.
As privatizações são um tema recorrente – e controverso – em meio às propostas de Doria para a gestão de São Paulo. Após usá-las como uma forte promessa de campanha, o prefeito anunciou o plano de encaminhar o “maior programa de privatização” da história da cidade.
Até agora, Doria anunciou o plano de concluir 55 privatizações, concessões ou parcerias Público-Privadas até o fim de seu mandato. Ele não divulgou, porém, uma lista detalhada de todos os “alvos” em potencial.
Além da iniciativa privada nacional, as possibilidades também têm atraído a atenção de investidores estrangeiros. Algumas discussões, como a envolvendo o Estádio do Pacaembu e os planetários da cidade, já foram apresentadas.
Entre as controvérsias envolvidas na questão está a transferência de R$ 30 milhões, antes destinados a obras de terminais de ônibus, para investimentos na Secretaria de Desestatização e Parceria.
Além disso, Doria ainda precisa negociar suas intenções com a Câmara Municipal para dar continuidade às negociações.
Empresário e assumidamente favorável à participação da iniciativa privada na gestão pública, o prefeito foi alvo de questionamentos em relação às doações de empresas recebidas pela prefeitura até agora – o que, para alguns, poderiam configurar um conflito de interesses.
As doações envolveram tanto repasses de bens quanto de serviços e, segundo a prefeitura, totalizaram R$ 255 milhões até o final de março.
Em resposta a questionamentos, a prefeitura incluiu no site de Transparência da Prefeitura uma área específica para o detalhamento das doações recebidas pelo governo.
Desde que decidiu se candidatar à prefeitura, João Doria passou a investir pesado em sua presença nas redes sociais.
Depois que assumiu a prefeitura, a presença é ainda mais constante. Segundo um estudo da consultoria Medialogue, em parceria com a Reputation Guardian para EXAME.com, nos três primeiros meses de administração da capital paulista, o tucano ganhou mais de 2 milhões de fãs no Facebook – crescimento equivalente a 495%. [Veja a pesquisa completa neste domingo em EXAME.com].
Diariamente, ele publica fotos e vídeos que fazem uma cobertura própria de suas ações pela cidade. As plataformas na internet também viraram uma ferramenta de propaganda para as empresas e marcas que fazem doações para a cidade. Segundo ele, a publicidade é feita para estimular a colaboração do setor privado para a manutenção da cidade.
Especialistas ouvidos por EXAME.com avaliam que essa superexposição de Doria nas redes sociais é pioneira e efetiva no curto prazo, mas que o prefeito precisará focar em resultados mais consistentes para manter a popularidade em alta até o fim do mandato em 2020. Isso é: se ele não se candidatar a outro cargo eletivo até lá.