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Ville Pontificie: a fazenda centenária do Papa que produz azeite, ovos e vinhos

Fundada em 1930, o espaço é uma das principais fontes de alimentação do pontífice, além de abastecer cardeais e monsenhores

Ville Pontificie: fundada em 1930 pelo Papa Pio XI, a fazenda produz alimentos como hortaliças e frutas que abastecem o Vaticano.

Ville Pontificie: fundada em 1930 pelo Papa Pio XI, a fazenda produz alimentos como hortaliças e frutas que abastecem o Vaticano.

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 23 de abril de 2025 às 09h28.

Última atualização em 23 de abril de 2025 às 11h18.

É de uma fazenda próxima ao Vaticano, com 55 hectares de terras férteis, que vem parte significativa da alimentação dos papas. Fundada em 1930 pelo Papa Pio XI, a Ville Pontificie produz alimentos como hortaliças e frutas que abastecem o Vaticano.

A fazenda abastece a cozinha papal e, após atender às necessidades internas da Casa Santa Marta — a residência oficial do Papa —, vende a produção excedente a funcionários do Vaticano. Além de ser uma base agrícola, a Ville Pontificie também serve como residência de verão para os papas desde 1600. O Papa se hospeda no Castel Gandolfo, sede da propriedade.

O gerente da fazenda, Osvaldo Gianoli, ocupa o cargo desde 2014. Segundo ele, a propriedade mantém os métodos de cultivo tradicionais.

“Os produtos que cultivamos aqui são simples, autênticos e obtidos por meio de técnicas que permanecem inalteradas desde os anos 1930”, disse o gerente em entrevista à imprensa italiana.

Segundo Gianoli, a fazenda conta com 80 vacas, 1.500 aves, 30 coelhos e já chegou a contar com até dois avestruzes. Dentre a produção, destaca-se o azeite.

O óleo vegetal é produzido a partir de azeitonas cultivadas em um olival que remonta ao ano de 1200. O processo de extração segue métodos tradicionais, com as azeitonas moídas a frio em um moinho de pedra e prensadas de forma artesanal, garantindo um produto de alta qualidade.

Além do azeite, há a produção de laticínios, que não se resume apenas ao leite. “São produzidos 800 litros [de leite] por dia. O iogurte não tem aquele clássico gosto azedo porque não adicionamos leite em pó, mas apenas o que é ordenhado diariamente. O mesmo vale para o queijo: primosale e muçarela”, diz Gianoli.

Nas hortas, são cultivados legumes como abobrinha, berinjela e pimentões, enquanto nos pomares crescem frutas como ameixas, pêssegos, maçãs, caquis e kiwis.

Os animais da fazenda vivem em pequenas construções com mosaicos que datam da década de 1920. As galinhas são alimentadas não apenas com esterco orgânico, mas também com os restos das hóstias feitas pelas freiras beneditinas.

O espaço também mantém um vinhedo que produz dois tipos de vinhos: o Cesanese del Piglio, e dois outros feitos a partir das uvas brancas Trebbiano e Malvasia

Papa Francisco

Em 2016, o então Papa Francisco tomou uma decisão emblemática sobre a Casa Gandolfo. Considerando que o local era luxuoso demais para um religioso, ele decidiu abrir a residência para visitas públicas, permitindo que mais pessoas tivessem acesso a um dos locais mais exclusivos do Vaticano.

“A decisão implica a partilha de um bem único com o público. Ao abrir as Vilas ao público, queremos mostrar que elas são um objeto para o bem comum”, afirmou Gianoli na época.

Segundo o profissional, a Ville Pontificie não é apenas uma fazenda que abastece a cozinha papal, mas também um símbolo de como tradição e sustentabilidade podem caminhar juntas.

“A fazenda nasceu na mesma época que as Vilas, porque Pio XI realmente a desejava. Naquela época, era muito vanguardista e, em alguns aspectos, permanece assim até hoje, embora seja administrada de forma tradicional. Nossa produção não exige muita mão de obra; trabalhamos como se fazia nas décadas de 1950 e 1960. Todos os produtos da fazenda são orgânicos”, disse Gianoli.

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