EXAME Agro

Trump estuda pacote de US$ 10 bilhões para aliviar agricultores dos EUA, diz jornal

Segundo o ‘The Wall Street Journal’, Trump e sua equipe estão avaliando a possibilidade de usar a receita tarifária para financiar grande parte da ajuda

Donald Trump: produtores americanos reclamam de perdas bilionárias em função da interrupção das exportações de soja para a China, em razão da guerra tarifária em curso, liderada por Trump (Brendan Smialowski/AFP)

Donald Trump: produtores americanos reclamam de perdas bilionárias em função da interrupção das exportações de soja para a China, em razão da guerra tarifária em curso, liderada por Trump (Brendan Smialowski/AFP)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 2 de outubro de 2025 às 17h25.

Última atualização em 2 de outubro de 2025 às 17h41.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, avalia um pacote de US$ 10 bilhões para os agricultores americanos, segundo informou o The Wall Street Journal, nesta quinta-feira, 2, citando fontes familiarizadas com o assunto.

Segundo o jornal americano, Trump e sua equipe estão avaliando a possibilidade de usar a receita tarifária para financiar grande parte da ajuda. O dinheiro poderá começar a ser distribuído nos próximos meses.

Nesta quinta-feira, Scott Bessent, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, afirmou que o governo de Donald Trump deve anunciar medidas de apoio aos agricultores na próxima terça-feira.

"Na terça-feira, vocês verão um apoio substancial aos agricultores, e também trabalharemos com o Farm Credit Bureau para garantir que eles tenham o que precisam para o próximo planejamento", disse Bessent.

O apoio de Trump ao agro dos EUA ocorre em um momento no qual os produtores americanos reclamam de perdas bilionárias em função da interrupção das exportações de soja para a China, em razão da guerra tarifária em curso, liderada pelo presidente americano.

Com as negociações comerciais paralisadas entre os EUA e a China, Brasil e Argentina têm preenchido essa lacuna.

Os importadores chineses já reservaram cerca de 7,4 milhões de toneladas de soja, principalmente da América do Sul, para embarques em outubro, cobrindo 95% da demanda projetada para o mês, além de 1 milhão de toneladas para novembro, o que corresponde a cerca de 15% das importações esperadas.

No mesmo período do ano passado, compradores chineses haviam reservado entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de soja dos EUA para embarques entre setembro e novembro. Normalmente, a China realiza essas compras com antecedência para garantir preços mais competitivos.

Na quarta-feira, 1º, Trump afirmou que pretende pressionar o líder chinês Xi Jinping a comprar soja americana quando se encontrarem, em meio às dificuldades enfrentadas pelos agricultores devido à guerra comercial entre os dois países.

“Nossos produtores de soja estão sendo prejudicados porque a China, apenas por razões de ‘negociação’, não está comprando”, escreveu Trump em sua plataforma Truth Social. “Vou me reunir com o presidente Xi, da China, em quatro semanas, e a soja será um tema importante da discussão”, disse.

Trump tem criticado especialmente seu antecessor, Joe Biden, por não aplicar um acordo comercial anterior com Pequim — negociado por ele próprio — que obrigava a China a comprar determinadas quantidades de produtos agrícolas americanos.

Brasil e Estados Unidos são os principais fornecedores de soja para a China. Em 2024, o país asiático importou 105 milhões de toneladas de soja, sendo 71% provenientes do Brasil e 21% dos EUA, segundo dados do TradeMap da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Brasil deve bater um recorde de exportação de soja em 2025, com previsão de enviar 112 milhões de toneladas até janeiro de 2026, com a China, principal compradora, sendo o destino majoritário, diz a Datagro, consultoria agrícola.

De fevereiro a agosto de 2025, o Brasil já embarcou 86 milhões de toneladas, ou 76% da meta projetada para o ano agrícola, que se encerra em janeiro de 2026.

Em agosto, as importações de soja pela China atingiram um recorde de 12,3 milhões de toneladas. Estima-se que até 75% desse total tenha origem brasileira, segundo a consultoria.

Agro dos EUA

Na terça-feira, o senador americano Chuck Grassley expressou esperança de que o governo Trump apresente um plano para "melhorar o moral dos agricultores", em resposta à perda do mercado chinês para a soja dos Estados Unidos.

Em uma teleconferência com repórteres, Grassley reiterou seu "ressentimento" em relação ao resgate argentino, que coincidiu com a redução dos impostos de exportação da Argentina e o rápido fechamento de um acordo entre o país e a China.

“Não se pode culpar a China por intervir para economizar dinheiro e garantir seus produtos mais baratos”, afirmou Grassley.

O republicano de Iowa disse que conversou com a secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, sobre a situação, e que ela está trabalhando em uma solução para apoiar os agricultores "sem depender de dinheiro do Congresso".

Além disso, Grassley mencionou que Rollins e o presidente discutiram a possibilidade de utilizar a receita das tarifas impostas pelos EUA para apoiar os produtores de soja americanos, embora ele tenha destacado que "nada foi decidido ainda".

Para o senador, a melhor ação do presidente seria chegar rapidamente a um acordo com a China. "Os agricultores não querem dinheiro do Tesouro federal, eles querem receber do mercado", afirmou Grassley.

Além das tarifas, o recente shutdown no governo dos Estados Unidos, iniciado nesta quarta-feira em razão da falta de consenso sobre o orçamento federal entre os partidos Republicano e Democrata na Câmara, também pode afetar o agronegócio americano.

Um dos impactos imediatos da paralisação será a suspensão da divulgação de relatórios sobre a colheita e a situação da safra dos EUA.

Nesta quarta-feira, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) anunciou que o relatório mensal de oferta e demanda (Wasde), previsto para ser divulgado em 9 de outubro, será suspenso "devido à interrupção no financiamento governamental" o relatório é um indicador para os preços da soja e do milho na bolsa de Chicago (CBOT).

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