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Trigo fecha semana com alta nos preços internacionais, mas pouco impacto no Brasil

A Ucrânia é a quarta maior exportadora do cereal. Por ora, o fim do acordo de grãos não influencia no abastecimento brasileiro

Campo de plantação de trigo
18/12/2012
REUTERS/Enrique Marcarian (Enrique Marcarian/Reuters)

Campo de plantação de trigo 18/12/2012 REUTERS/Enrique Marcarian (Enrique Marcarian/Reuters)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 22 de julho de 2023 às 09h17.

Última atualização em 3 de agosto de 2023 às 14h07.

Nesta semana, a Rússia deixou de renovar o acordo de grãos com a Ucrânia. Mediado pelas Nações Unidas e pela Turquia em julho passado, o tratado pretende evitar uma crise global de alimentos, permitindo que os grãos ucranianos bloqueados pelo conflito Rússia-Ucrânia sejam exportados com segurança por meio de portos como o de Odessa. Só em 2022, mais de 32 milhões de toneladas de grãos ucranianos passaram pelo Mar Negro.

O presidente russo, Vladimir Putin, atribui o encerramento do pacto ao não cumprimento de partes do acordo. Com isso, o trigo produzido pela Ucrânia – quarto maior exportador do mundo – ficou barrado e fez o preço do cereal disparar no mercado internacional.

A medida fez com que o preço do trigo aumentasse 8,5% na Bolsa de Comércio de Chicago, na quarta-feira, 19, maior alta desde o início da invasão da Ucrânia pelos russos. Nesta sexta, o preço recuou com o anúncio do país de um plano para manter o fluxo do Mar Negro. O trigo é o segundo cereal mais produzido no mundo, cujo volume é de cerca de 800 milhões de toneladas.

Ainda assim, para o Brasil, esta volatilidade não atinge a disponibilidade do produto nacionalmente, segundo analistas ouvidos por EXAME.

Flávio França Júnior, analista de mercado agrícola da Datagro, diz que o Brasil tradicionalmente não importa trigo da Ucrânia, e que o abastecimento nacional vem do Mercosul.  Em 2022, o Brasil importou 5,7 milhões de toneladas de trigo, vindos principalmente da Argentina (78%), Paraguai (6%), Rússia (5%) e Uruguai (4%).

Leia também: Com produção em alta, preço do abacate atinge menores níveis desde 2010

Pouco reflexo, até o momento

No caso do Brasil, que importa e exporta o trigo, o tamanho da safra ajuda a nortear qual paridade a ser escolhida. Em outras palavras: se há volume de trigo satisfatório internamente, trabalhar em paridade de exportação é mais vantajoso. Se falta trigo por aqui, o negócio é optar pelo preço favorável à importação.

Para França, da Datagro, o reflexo da alta internacional sobre o comportamento de preço interno “está acontecendo de forma apenas parcial, uma vez que os moinhos no geral estão bem abastecidos e relutando em pagar sobrepreços”, afirma. Isso porque os maiores produtores mundiais de trigo estão ingressando a colheita, dando previsibilidade de estoque às moageiras.

No horizonte, de acordo com ele, o que pode acontecer é o preço que ficar mais caro, pois “o mercado argentino é balizado pela Bolsa de Kansas (KCBT)”, diz. Por lá, a colheita já começou e avança como esperado.

Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), o comportamento das cotações do trigo nas bolsas de Chicago e Kansas deve continuar volátil enquanto durar a guerra.

“Os ataques russos aos portos ucranianos aumentaram a especulação pelos fundos que atuam no mercado de commodities. Os fundamentos do mercado mostram a produção global maior do que o consumo”, diz Rubens Barbosa, presidente-executivo da Abitrigo.

Em suma, embora a Ucrânia seja relevante na produção, no momento ainda não há riscos de desabastecimento global. “Da safra global, a Ucrânia tem para exportar 10,5 milhões. Neste momento, eles não fazem grande falta para o abastecimento”, afirma Elcio Bento, analista da consultoria Safras & Mercado.

Leia também: Exportação de suco de laranja brasileiro cresce, mas não é suficiente para toda a demanda externa

A qualidade do pãozinho

Também a qualidade do trigo influencia na equação entre importar e exportar. No Brasil, o principal destinatário do trigo é o setor de panificação, que requer um nível superior de condições do cereal.

“Isso exige proteína alta. Nem todo trigo produzido no Brasil tem a proteína que é necessária. Então, a questão qualitativa ainda faz com que o Brasil compre trigo da Argentina e trigo norte-americano”, diz Bento, da Safras & Mercado.

É por isso que, mesmo produzindo o trigo, o Brasil precisa importar. O que é colhido aqui segue para países da África e sudeste asiático

De acordo com a StoneX, a previsão de safra de trigo para a temporada 2023/24 no Brasil é de 11,3 milhões de toneladas, o que representaria um aumento de 2,7% em relação à safra anterior. A área plantada deve aumentar 6,1%, chegando a 3,48 milhões de hectares.

Embora já se fale na possibilidade de uma safra recorde de trigo, o analista Elcio Bento diz que a maior preocupação do produtor rural para a safra é a chegada do El Niño (leia um dossiê EXAME sobre os impactos do fenômeno no campo). Com o fenômeno, aumentam as chances de chuva durante o período de colheita, o que pode levar ao desperdício de meses de trabalho. E mexer ainda mais na logística do mercado internacional.

Por ora, o fim do acordo de grãos do Mar Negro parece ter pouco impacto no mercado brasileiro. O pão de cada dia, tão tradicional na mesa das famílias, agradece.

*Matéria com contribuição da repórter Iara Siqueira

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