Ir a Agrishow é para se impressionar e ter certeza de que o agronegócio é a vocação deste país. A diversidade de empresas, o nível de tecnologia apresentado e a diversidade (e quantidade!) de público mostram toda a força do setor em uma feira que é de negócios e, principalmente, de conhecimento.
Acompanho o desenvolvimento da indústria agro há mais de 10 anos e é perceptível a evolução dos questionamentos sobre a viabilidade das soluções de dados, inteligência artificial (IA) e maquinário conectado em aplicações práticas, que atualmente questionam os modelos de negócio e relacionamento com produtos – e por que não, em breve, entre as empresas da cadeia?
No texto de hoje, eu gostaria de compartilhar a síntese de algumas das conversas que tive durante a feira, que revelam um pouco do que se confirmou e do que podemos esperar quanto às próximas evoluções para o setor:
- Máquinas cada vez maiores: maior número de linhas, maior capacidade de tração, carregamento e pulverização chamaram muito a atenção. Nas conversas, pude perceber que essa estratégia de utilizar máquinas maiores tem como fundamento a necessidade de se operar cada vez mais rápido devido ao menor espaçamento entre o ciclo safra e com foco em combater a crescente penúria de operadores desses equipamentos. Observa-se também drones cada vez maiores, com maior capacidade de carga e autonomia. Isso é também uma confirmação do que se verifica já há algum tempo: menos mão de obra disponível no campo. E permite também considerar que a mão de obra que continuar no campo precisará estar cada vez mais capacitada e valorizada: oportunidade para as empresas e colaboradores investirem em treinamento e capacitação.
- Robótica e automação: para mim, esse será o próximo grande passo da agricultura digital – robótica e hiperautomação. A diversidade e as aplicações de dispositivos autônomos têm crescido em volume e reduzido em preço ao produtor, enquanto aumentam os casos de uso nas mais diversas culturas. Eis que isso torna-se mais um item de manejo, em especial para empresas que adotaram sistemas de gestão de fazendas (FMS), e centros de operações agrícolas – que agora tem mais um item de hipersensoriamento no arcabouço de tecnologias conectáveis. Para aquelas que ainda não evoluíram nesse sentido, observa-se grande maturidade nas plataformas oferecidas pela indústria de equipamentos e insumos.
- Digitalização e conectividade: há poucos anos discutia-se a disponibilidade de conectividade no campo. Hoje, as operadoras estão presentes e com soluções que fomentam o desenvolvimento de aplicações que justamente viabilizam a disponibilização da conectividade. Há, ainda, muito a evoluir em termos de cobertura, mas fato é que o cenário para o avanço da conectividade é muito mais promissor, sobretudo no que se refere à existência de modelos de negócio que viabilizem a implantação de redes no campo.
- Modelos de negócio: vi diversas empresas com modelos de negócio ligados à produtividade, ao big-data e à monetização do relacionamento e dos dados de manejo. Essas são consequências diretas da digitalização do agro dentro da porteira e tendem a tomar ainda mais eminência a partir do momento em que esses modelos mostrarem-se valorosos tanto para o fornecedor quanto para o produtor. Muitas pessoas com quem conversei falaram sobre ter, nos próximos três anos, de 30% a 35% dos negócios se dando por meio de modelos que se baseiam em dados, produtividade ou mesmo no relacionamento digital entre comprador e vendedor.
- Pessoas: público frequentador de todos os tipos; de donos de grandes propriedades a pequenos produtores familiares, com grande participação dos seus ecossistemas de pertencimento: cooperativas, sindicatos rurais, sistema S, entre outros. Destaque também para a quantidade de mulheres presentes tanto nos stands quanto em circulação no evento, que contou com expositores com especial dedicação a esse público. Por último, também destaque para o engajamento dos expositores e da organização do evento em relação às crianças e às próximas gerações que acompanhavam os pais nas visitas e negociações.
- Juros e crédito: diversos fornecedores com taxas de 90% do CDI em Real ou 60% do CDI em Dólar. Observa-se aqui a pressão em todos os elos da cadeia na questão do custo do capital de investimento. É interessante perceber também como as empresas fornecedoras de máquinas e equipamentos se prepararam para este subsídio, onde especulo que as emissões de CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) feitas no último semestre tiveram também como finalidade financiar as transações realizadas na feira.
As feiras do agronegócio são sempre um espetáculo a parte onde quer que elas ocorram, dentro e fora do país. Mais do que um local de exibição, essas feiras são ambientes de negócios e informação que tangibilizam o sucesso e demonstram o poder da cadeia que move o coração econômico do Brasil.