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Tarifas de Trump fazem China comprar mais carne da Austrália e do Brasil

Os dois países do hemisfério sul têm ocupado postos diferentes no maior mercado consumidor de carne bovina do mundo, porém, o aumento nas exportações foi impulsionado pela diminuição da participação dos EUA

EUA perdem lugar no mercado chinês de carne bovina, Austrália é a maior beneficiária e Brasil mantém sua hegemonia (Mohssen Assanimoghaddam/Getty Images)

EUA perdem lugar no mercado chinês de carne bovina, Austrália é a maior beneficiária e Brasil mantém sua hegemonia (Mohssen Assanimoghaddam/Getty Images)

Paloma Lazzaro
Paloma Lazzaro

Estagiária de jornalismo

Publicado em 29 de setembro de 2025 às 16h34.

A Austrália tem se destacado no mercado de carne bovina com o impacto das tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A China, um dos países mais afetados pelo tarifaço, reduziu as exportações de carne bovina norte-americana.

Entre julho e agosto de 2024, houve uma redução de 93% nas exportações em comparação com o mesmo período de 2025.

O Brasil continua como o maior exportador de carne bovina para a China, com quase 40% do mercado chinês. Com uma oferta voltada para atender um público diversificado, o país está bem posicionado para expandir ainda mais suas exportações.

A retração das exportações norte-americanas

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já havia projetado uma alta nas exportações de carne bovina brasileira e australiana para a China em relatório publicado em abril deste ano.

Em julho e agosto de 2025, os valores das exportações de carne bovina dos EUA para a China foram de US$ 8,1 milhões e US$ 9,5 milhões, respectivamente. Nos mesmos meses em 2024, foram US$ 118 milhões e US$ 125 milhões exportados, em queda de mais de 93%.

A carne norte-americana é considerada um produto nichado no mercado chinês, devido às rações diferenciadas e alto valor.

De todos os países que exportam para a China, os EUA em 2024 mantinham o maior valor por tonelada, próximo a US$ 8 mil.

O valor por tonelada da carne brasileira no mesmo período era de US$ 3,5 mil, aproximadamente. Cortes pouco consumidos pelos americanos, como o miolo de acém, são altamente valorizados pelos chineses. Nesse nicho, a Austrália toma o lugar dos Estados Unidos.

Desde 2024, a exportação de carne bovina dos EUA diminuiu no geral. Devido às secas, houve menor produtividade no setor e os preços subiram.

Austrália em ascensão

Do outro lado da moeda, a Austrália cresceu no setor.

As exportações valiam aproximadamente US$ 140 milhões em março, tanto de 2024, quanto de 2025. Em julho deste ano, o número saltou para US$ 221 milhões. Em agosto, foi de US$ 226 milhões. A taxa de crescimento entre março e agosto foi de quase 40%.

As exportações australianas deram a primeira disparada em janeiro de 2025 e têm crescido continuamente desde abril. Os EUA, por sua vez, tiveram a primeira queda vertiginosa de importações em abril. Desde então, suas taxas se mantém baixas.

A China não é o único mercado importando mais carne australiana. Os EUA também têm comprado mais da Austrália, devido à alta na produtividade e baixa nos preços desde 2024.

Brasil: o maior exportador de carnes para a China

No mercado chinês, a carne bovina brasileira é voltada ao amplo consumo.

Em 2024, o Brasil foi responsável por quase 50% das exportações de carne bovina para a China. Desde 2021, esse número vem em uma crescente. Além da carne bovina, o país também lidera na exportação de carne suína e de aves.

Um desafio deste ano para o Brasil no mercado chinês foi suspensão de importações de carne de frango brasileira desde maio, devido ao foco de gripe aviária no Rio Grande do Sul. A situação pode voltar ao normal, pois negociações para retomar as exportações estão em curso.

Apesar de ainda ser o segundo maior produtor de carne bovina mundial, atrás dos EUA, o Brasil tem a maior participação no mercado global.

O market share brasileiro é de quase 30%, enquanto o norte-americano é de menos de 10%. Ou seja, os EUA produzem mais carne, mas o Brasil é quem mais vende. Isso revela uma diferença na estratégia agropecuária dos dois países, na qual a exportação é priorizada pelos brasileiros.

Negociações das tarifas

As negociações das tarifas de Trump à China estão em curso.

No entanto, a recuperação do mercado chinês por produtores americanos pode levar anos. Além das tarifas, condições climáticas e maior custo do produto final são desafios mais complexos.

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