EXAME Agro

Tarifaço pode baixar preço da carne no Brasil, mas depois poderá faltar produto, diz líder do setor

Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), participou do programa Agro em Pauta

Picanha assada: Brasil exporta 400 mil toneladas de carne para os EUA por ano, mas maior parte vai para a indústria (Marfrig/Divulgação)

Picanha assada: Brasil exporta 400 mil toneladas de carne para os EUA por ano, mas maior parte vai para a indústria (Marfrig/Divulgação)

Publicado em 29 de julho de 2025 às 16h15.

Última atualização em 29 de julho de 2025 às 16h45.

As novas tarifas do presidente Donald Trump contra produtos brasileiros poderão levar a carne a ter redução de preços no Brasil no curto prazo, mas desestruturar o setor e reduzir a oferta do produto a longo prazo. A avaliação é de Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

"Em um primeiro momento, a desestruturação da cadeia interna pode baixar o preço internamente, mas no futuro pode vir a falta a carne, como tá faltando nos Estados Unidos hoje", disse Perosa, durante o programa Agro em Pauta, da EXAME. Assista à íntegra abaixo.

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Perosa diz que as exportações de carne para os EUA movimentam cerca de 400 mil toneladas por ano, e que o Brasil não teria condições de absorver este excedente.

"A gente não tem uma alternativa [de mercado] tão acessível quanto a americana. Um grande volume, com preços competitivos, isso não tem. Não tem mercado que absorva 400 mil toneladas", afirmou.

Ele disse que o Brasil exporta o excedente de produção que geralmente não é consumido aqui, como cortes dianteiros, muito usados para fazer hambúrguer nos EUA, e miúdos, comprados em grande quantidade pela Ásia.

Perosa afirmou que as exportações ajudam a elevar os ganhos dos produtores brasileiros, o que subsidia indiretamente os cortes vendidos no Brasil. Com a queda dos ganhos com exportações, os criadores de gado poderiam desistir do negócio e reduzir os rebanhos, o que geraria falta de produto.

"A indústria da carne bovina capta o animal no pasto, processa o animal e revende a carne. Se não tem uma destinação correta para a carne, ela deixa de captar o animal no pasto. Com isso, [o preço da] arroba cai e o agricultor fala: 'Eu não vou mais produzir boi porque não compensa financeiramente para mim'. Isso gera um efeito em cadeia", alerta.

Esperança de isenção

Perosa disse esperar que as negociações em curso entre os governos dos dois países levem os EUA a deixarem a carne de fora da cobrança de tarifas, ou que ao menos haja cotas maiores de importação do produto com taxa menor.

"A gente tem a esperança de que seja tomada uma medida que exclua os alimentos, que exclua a carne, outros alimentos do agro brasileiro e a gente possa continuar com esse fluxo de exportação", afirmou.

Atualmente, a carne brasileira paga 36,4% de taxa de exportação aos EUA. A tarifa anterior era de 26,4%, elevada em 10% com o tarifaço adotado em abril.

Caso a nova tarifa de 50% entre em vigor no dia 1º de agosto, como foi anunciado por Trump, a taxa extra de 10% subiria para 50%, o que elevaria o total cobrado para 76,4%. "Aí é inviável enviar carne para os Estados Unidos", diz Perosa.

Ao mesmo tempo, Perosa diz que a indústria americana depende muito da carne brasileira. "Acho que não há fornecedor no mundo que possa substituir o Brasil hoje no fornecimento de carne bovina aos Estados Unidos. Nosso plantel é totalmente diferente dos gados de raça europeia, britânica. A carne argentina e uruguaia competem com a carne americana na prateleira do supermercado. A carne brasileira vai para a indústria americana, que vai processar essa carne e transformar ela em hambúrguer e alimentos processados", afirma.

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