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Tarifa de 50% de Trump sobre suco de laranja pode causar perda de R$ 4,3 bilhões ao setor

Valor representa um aumento de cerca de 456% em relação aos impostos pagos na safra 2024/25, segundo estimativa da Associação Nacional das Indústrias Exportadoras de Sucos Cítricos (CitrusBR)

 (Imagem gerada por IA/Freepik)

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César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 29 de julho de 2025 às 10h55.

Última atualização em 29 de julho de 2025 às 10h58.

A tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode gerar impacto anual de até US$ 792 milhões — o equivalente a R$ 4,3 bilhões para a cadeia produtiva do suco de laranja, estima a Associação Nacional das Indústrias Exportadoras de Sucos Cítricos (CitrusBR).

Segundo a entidade, o cálculo considera o desempenho da safra encerrada em 30 de junho e inclui as tarifas de acesso ao mercado americano.

Em termos globais, com todas as tarifas cobradas pelos diferentes mercados, o total de tributos pagos pelo setor deve saltar de US$ 393,6 milhões para US$ 1,3 bilhão, somando os principais destinos de exportação — Estados Unidos, União Europeia, Canadá, Japão e China — além de Reino Unido, Noruega, Suíça e Rússia. 

Na safra 2024/25, os EUA foram o segundo principal destino do suco brasileiro, com 41,7% de participação. Foram exportadas 307 mil toneladas, com receita total de US$ 1,31 bilhão.

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Atualmente, o Brasil paga uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada para exportar aos EUA. Com base nos volumes da última safra, esse custo somou US$ 142,4 milhões.

A estimativa de impacto de US$ 792 milhões considera a aplicação acumulada da nova tarifa de 50% com a alíquota adicional de 10%, anunciada em abril.

Nos cálculos da CitrusBR, ainda que a nova tarifa substitua — e não se some — à anterior de 10%, o impacto ainda seria significativo, com aumento estimado em US$ 635 milhões por safra, alta de 345,8% em relação ao cenário atual.

Senadores brasileiros nos EUA

Isenções para o café, suco de laranja, manga e produtos industriais foram debatidas nas conversas de senadores do Brasil durante a viagem aos Estados Unidos, para tentar levar o governo de Donald Trump a rever as tarifas de 50% contra produtos brasileiros, previstas para entrar em vigor na sexta-feira, 1º.

Segundo pessoas que acompanharam as conversas nesta segunda-feira, 28, a senadora Tereza Cristina (PP), representando a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), e outros parlamentares pediram que o café brasileiro, o suco de laranja e a manga devem ser excluídos da nova taxa.

Apesar de uma boa recepção do setor empresarial norte-americano, a percepção entre os participantes da missão brasileira nos EUA é de que Trump não deverá adiar a medida.  Assim, o grupo busca defender isenções pontuais por produtos.

Além disso, como mostrou EXAME, o Brasil está em negociações com a China, Coreia do Sul e Arábia Saudita para exportar suco de laranja para esses mercados, disseram interlocutores do governo.

A estratégia do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é intensificar os diálogos com esses países, especialmente diante do anúncio do tarifaço de Trump.

Segundo auxiliares da pasta, cerca de 40 adidos agrícolas do Brasil (servidores públicos designados para missões no exterior) foram mobilizados para reforçar as negociações com diversos países, para expandir os mercados para produtos brasileiros, principalmente os mais afetados pela tarifa de Trump, como suco de laranja, café e carne bovina.

Na avaliação de analistas consultados pela EXAME, a estratégia do Mapa enfrenta obstáculos como a falta de infraestrutura e questões culturais específicas.

No caso da Arábia Saudita, por exemplo, a preferência histórica do consumidor árabe por bebidas quentes pode dificultar a aceitação do suco de laranja.

Segundo a CitrusBR, "não há, no curto prazo, mercados com capacidade de absorver esse volume adicional, o que pode colocar o setor em posição delicada", disse a entidade em nota.

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