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Sucessão familiar: quais os passos para uma fazenda se tornar uma empresa rural?

Incluir todos os membros familiares envolvidos com a propriedade, capacitar o sucessor e avaliar a contribuição de um consultor externo são algumas das etapas para profissionalizar a gestão no campo

Sucessão familiar: fazendas familiares são, na prática, empresas que devem ser administradas como tais, por meio da implementação e do aprimoramento de processos (DOUGLAS MAGNO/Getty Images)

Sucessão familiar: fazendas familiares são, na prática, empresas que devem ser administradas como tais, por meio da implementação e do aprimoramento de processos (DOUGLAS MAGNO/Getty Images)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 24 de outubro de 2023 às 18h46.

Administradora da fazenda Rincão Bonito, em Ipiranga, no Paraná, Marli Scheifer cuida de 123 hectares para a produção de soja, milho, trigo, feijão, aveia e culturas para mix de cobertura. Ela é a primeira mulher em todas as gerações da família a assumir a administração da propriedade rural. Para chegar a este posto não foi fácil.

O ano era 1993, quando seu pai decidiu, ainda em vida, dividir a propriedade como herança para os setes filhos – processo que hoje é chamado de sucessão familiar. À época, sem nenhuma consultoria externa, ele decidiu dar a maior parte das terras, maquinários e animais para os filhos, enquanto as filhas dividiam a menor porção sem qualquer outro ativo. “Nós mulheres, por não estarmos envolvidas na propriedade até então, não sabíamos o que estava acontecendo. Não fomos incluídas na tomada de decisão dessa divisão”, diz Scheifer.

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Em um tempo em que era considerado impossível uma mulher estar à frente da fazenda, a produtora se formou em Agronomia e ao longo dos anos adquiriu o terreno das irmãs. Ainda assim, ao olhar para todo o negócio que era comandado pelo pai, ela acredita que a empresa familiar foi prejudicada.

“O ideal seria fazer a sucessão na mesma propriedade para manter o negócio grande. Quando ele dividiu em sete, ficamos separados e isso foi um ponto negativo na sucessão da nossa família”, afirma a produtora. Superado o momento sensível sobre a herança das terras, atualmente, ela se dedica às práticas de agricultura de precisão, uso de produtos biológicos e mira a produção de trigo e soja com menor emissão de carbono.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta que, no âmbito familiar, lidar com mudanças como divórcios, surgimento de novas profissões, novos hábitos e tendências de consumo são os principais desafios para a sucessão familiar. Por isso, é preciso reconhecer que as fazendas familiares são, na prática, empresas que devem ser administradas como tais, por meio da implementação e do aprimoramento de processos.

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As etapas da sucessão familiar

Para Marli Scheifer, o que faltou para a própria sucessão foi a inclusão de todos os membros da família na transição dos negócios. Este é um ponto crucial ainda no início do processo de mudança da gestão, de acordo com Sarita Junqueira Rodas, CEO do Grupo JR e fundadora da Prossiga Governança Familiar.

Referência na bovinocultura e na produção de citrus no interior de São Paulo, a empresária passou por uma transição de carreira conturbada após a morte do pai. Com o passar do tempo, ela percebeu o quão sensível é transformar a fazenda da família em uma empresa rural bem administrada – sem que o parentesco crie conflito com a condução profissional do negócio.

Por isso, ela diz que a primeira etapa da sucessão é conscientizar as pessoas envolvidas no processo de que profissionalizar não é tirar a família da administração. Pelo contrário, é incluir todos e “analisar os perfis de cada membro para descobrir quem têm interesse e condição de estar na empresa”.

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Caso nenhum familiar esteja apto ou queira tomar à frente da gestão, Sarita ressalta que “trazer profissionais de fora não é um problema, mas pode ser parte da solução”. Marli Scheifer, do Paraná, concorda e diz que uma consultoria externa pode contribuir com uma visão isenta, diferente do viés familiar.

Após a definição dos gestores e a capacitação dos sucessores que permanecerem na fazenda, a fundadora da Prossiga destaca a importância de acompanhar a transição de carreira daquele que é substituído.  “A transição da geração também deve cuidar da nova carreira do sucedido, para que ele encontre novas motivações e faça essa transição do negócio sem grande apego ou grandes impactos”, diz Sarita Junqueira Rodas.

O IPEA ainda indica que a definição de um acordo de sucessão geracional contemple a transferência da gestão, a transferência patrimonial e a divisão dos rendimentos provenientes da fazenda. Além disso, a flexibilidade, a capacidade de adaptação e o conhecimento local são importantes vantagens comparativas das organizações familiares, a serem valorizadas e preservadas durante o processo sucessório.

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