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Painel “Feeding the World: Agriculture and the Health of the Planet”: soluções potenciais para um desafio mundial (Bloomberg/Reprodução)
Em 2050, precisaremos alimentar globalmente dois bilhões de pessoas a mais. Como fazer isso sem sobrecarregar o planeta, especialmente diante da urgência de conter as mudanças climáticas?
Os participantes do painel “Feeding the World: Agriculture and the Health of the Planet”, do Bloomberg New Economy Forum, que aconteceu até a última sexta em Cingapura, exploraram soluções potenciais para esse desafio mundial.
A resposta para a questão é unânime: inovação. Entretanto, o caminho não é simples.
“A solução é o agricultor”, disse Werner Baumann, CEO da Bayer AG. Para ele, isso inclui oferecer aos produtores acesso a tecnologia e conhecimento, para que possam construir um sistema produtivo que melhore seus meios de subsistência com práticas sustentáveis.
Alloysius Attah, CEO da empresa Farmerline Group, de Gana, que visa auxiliar aos agricultores nesse contexto, chamou a atenção para outro ponto: é necessário sim levar tecnologia e conhecimento, mas de maneira acessível.
“A maior dificuldade hoje é que as principais informações disponíveis estão em inglês e na internet. Não estão em um formato e linguagem que os agricultores consigam entender facilmente”, afirmou. Ele lembrou ainda que só em Gana, por exemplo, são 58 idiomas locais.
De acordo com Attah, a informação chegar ao campo é um ponto. Porém, outra questão também precisa ser considerada: se não houver um treinamento adequado, essa informação não vai gerar mudança de comportamento nem adoção de novas técnicas na prática.
Para Baumann, da Bayer, o que é feito por enquanto ainda é pouco. As partes interessadas devem fazer mais para treinar os produtores rurais, de modo a aumentar a produtividade e a resiliência das operações agrícolas, ao mesmo tempo que lhes dá a oportunidade de crescimento da renda.
Sara Menker, diretora executiva da Gro Intelligence, empresa de inteligência artificial que analisa o clima, a agricultura e a economia, alertou que o ritmo desse processo de inovação no campo também precisa acompanhar como o solo está se alterando com as mudanças climáticas. Por isso, monitoramento constante e medidas de adaptação são essenciais.
Nesse sentido, uma saída é olhar para a agricultura regenerativa, que melhora a saúde do solo e contribui para o sequestro de carbono, como falou o CEO da empresa americana de alimentos Cargill, David MacLennan.
Nessa questão dos impactos causados no solo pelo clima, um estudo publicado na revista científica Nature Climate Change, no último dia 11, mostra que a agricultura brasileira já está sofrendo com as mudanças climáticas.
Conforme a pesquisa, alterações no regime de chuvas e no aumento da temperatura fizeram com que 28% das áreas agrícolas produtoras de milho e soja no Centro-Oeste saíssem do ideal climático, e essas condições adversas diminuíram a produtividade. Por essa razão, como sinalizou Menker, soluções voltadas para adaptação são urgentes.
Investir em infraestrutura para levar as safras do campo até os consumidores de maneira mais eficaz é outro eixo importante, como destacou MacLennan.
Isso, segundo ele, inclui instalações que resistam melhor a desastres naturais, que se tornarão mais frequentes com a instabilidade do clima. Attah concordou e comentou que boas estradas e unidades de armazenamento que reduzam as perdas e melhorem a qualidade são alguns dos pontos que farão grande diferença.
Sara Menker, da Gro Intelligence, por outro lado, avaliou que, nas pequenas propriedades rurais, o custo de infraestrutura é grande. Por isso, o acesso a capital é mais um fator essencial.
No seu ponto de vista, o caminho mais assertivo seria a criação de uma instituição financeira que apresentasse novos modelos para financiar a agricultura. Isso poderia, de forma mais realista, oferecer bases para uma infraestrutura que gere as mudanças necessárias.
O painel ressaltou ainda que não há um caminho único para o desafio da produção de alimentos nas próximas décadas, aliando aumento da produtividade e sustentabilidade. As soluções precisam ser multifacetadas e, especialmente, colaborativas, envolvendo cientistas, governos, consumidores, produtores, agronegócios, transportadores, processadores e varejistas.
É dessa forma que a agricultura poderá desempenhar, com todo o potencial, seu papel na redução das emissões de gases de efeito estufa, conforme concluíram os participantes. “Não tenho dúvidas de que vamos ter sucesso. Alinhar as pessoas para que se movam nessa direção é, na verdade, muito poderoso”, disse Baumann.