Shutdown nos EUA: relatórios e financiamentos devem ficar paralisados em meio a impasse do orçamento nos EUA (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 12h01.
Última atualização em 1 de outubro de 2025 às 12h46.
O shutdown no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciado nesta quarta-feira, 1º, em razão da falta de consenso sobre o orçamento federal entre os partidos Republicano e Democrata na Câmara dos EUA, deve afetar também o agronegócio americano.
Em entrevista ao site Farm Progress na terça-feira, 30, Stephen Vaden, vice-secretário do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), alertou que, por causa da paralisação e à falta de financiamento, o USDA não conseguirá realizar grande parte de suas atividades.
Ainda que seja chamado de "paralisação do governo", as funções do governo federal não são imediatamente interrompidas. O financiamento do governo é dividido em duas categorias: os gastos obrigatórios, definidos por lei e garantem a continuidade de programas como previdência social, seguro agrícola federal, assistência a veteranos e o pagamento de dívidas públicas — esses programas seguem funcionando normalmente.
Por outro lado, os chamados gastos discricionários, programas que dependem de um orçamento anual, são os que sofrem com a paralisação.
O Congresso dos EUA define anualmente um orçamento para cobrir esses gastos, que corresponde ao ano fiscal que termina no final de setembro. Caso não haja um novo financiamento aprovado a partir de 1º de outubro, os recursos para programas não autorizados diretamente pelo Congresso ficam comprometidos.
Um dos impactos mais imediatos da paralisação será a suspensão da divulgação de relatórios sobre a colheita e a situação da safra americana. Nesta quarta-feira, o USDA anunciou que o relatório mensal de oferta e demanda (Wasde), previsto para ser divulgado em 9 de outubro, será suspenso "devido a uma interrupção no financiamento governamental". Esse relatório é um importante termômetro para os preços da soja e do milho na bolsa de Chicago (CBOT).
Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, no governo de Donald Trump, a paralisação também suspendeu a divulgação de relatórios sobre a colheita e a situação da safra americana. Na semana passada, Brooke Rollins, secretária de Agricultura dos EUA, disse estar "totalmente preparada" para a paralisação.
"Acredito, sinceramente, que os programas incríveis e importantes, especialmente os que ajudam nossos agricultores, continuarão — que eles não devem ser afetados pela paralisação, mas ainda estamos trabalhando em todos os detalhes", disse Rollins. Até o momento, o USDA não divulgou um plano de contingência.
Além disso, funcionários do USDA não receberão salários e estarão proibidos de realizar suas funções até o fim da paralisação. Detalhes exatos sobre como o USDA planeja lidar com a situação ainda não foram divulgados. Ao todo, o USDA licenciará 42.256 funcionários, de um total de 85.907.
É esperado que a Agência de Serviços Agrícolas (FSA, na sigla em inglês) suspenda o trabalho com pedidos de empréstimos e subsídios até que o financiamento seja restabelecido — a redução significativa na equipe do USDA pode significar tempos de espera mais longos e serviços reduzidos para agricultores que buscam recursos da agência.
Na terça, a FSA enviou um aviso aos órgãos estaduais e municipais informando que sua autoridade para administrar o Programa de Reserva de Conservação (CRP) também termina após terça-feira. A agência notificou os condados de que não haverá processamento ou aprovação de novas ofertas, ou reinscrições.
Segundo o site Politico, o dinheiro destinado ao programa nutricional exclusivo dos Estados Unidos para milhões de mães e bebês de baixa renda pode se esgotar em poucos dias caso o governo entre em shutdown.
Atualmente, o Programa Especial de Nutrição Suplementar para Mulheres, Bebês e Crianças (WIC), com um orçamento de US$ 8 bilhões, está quase sem recursos, e os estados não poderão acessar o orçamento do próximo ano fiscal durante a paralisação. O fundo de contingência do programa tem apenas US$ 150 milhões, o suficiente para atender os participantes atuais por cerca de uma semana, conforme a Associação Nacional do WIC.
"Prevemos que, apesar da paralisação, não haverá impacto imediato no WIC. No entanto, se a paralisação se prolongar por mais de uma semana, estamos muito preocupados com a possibilidade de o programa ficar sem recursos", afirmou Ali Hard, diretor de políticas da Associação Nacional do WIC.
Em meio ao impasse, Glenn Thompson, deputado republicano da Pensilvânia e presidente do Comitê de Agricultura da Câmara, afixou um aviso em sua porta:
"Caso haja um lapso nos fundos federais à meia-noite de 30 de setembro de 2025, isso significa duas coisas: 1. Os democratas de Washington D.C. decidiram que US$ 1,5 trilhão em novos gastos são mais importantes do que as operações normais do governo dos Estados Unidos. 2. O gabinete do congressista Thompson permanecerá fechado até que essa loucura acabe."
Por outro lado, Angie Craig, deputada democrata de Minnesota e membro sênior do comitê, culpou a maioria republicana pela paralisação.
"Agricultores familiares em todo o país já enfrentam crescente incerteza e pressão devido às tarifas do presidente. Paralisar o governo não vai melhorar a situação deles; pelo contrário, vai piorar", disse Craig.
Em sua conta no X (ex-Twitter), Brooke Rollins, secretária de Agricultura, disse que a paralisação afeta negativamente "a América Rural". Sem citar valores, Rollins afirmou que "bilhões em ajuda humanitária para desastres, destinados aos agricultores, estão bloqueados".
The Democrat shutdown is hitting rural America HARD:
❌ Billions in disaster aid blocked from reaching farmers - THAT DEMOCRATS VOTED FOR
❌ WIC and other key nutrition programs at risk of running out of funding
❌ Animal & crop research halted
❌ Food safety research stopped
❌…— Secretary Brooke Rollins (@SecRollins) October 1, 2025
Desde 1976, ocorreram 21 paralisações do governo nos Estados Unidos, sendo a mais longa delas a de 34 dias, entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019.