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Setor de ovos no Brasil se fortalece com aquisições e projeta aumento de 62% nas exportações em 2025

Em entrevista à EXAME, Ricardo Santin, presidente da ABPA, analisa o mercado de ovos no Brasil e explica por que a entidade estima um crescimento robusto nos embarques deste ano

 (Freepik)

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César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 18 de abril de 2025 às 08h02.

No primeiro trimestre deste ano, duas transações de negócios no setor de ovos chamaram as atenções do mercado. A primeira foi a compra de 50% da Mantiqueira, maior produtora de ovos da América do Sul, pela JBS, em negócio que avalia toda a empresa em R$ 1,9 bilhão.

Em seguida, foi a vez de Ricardo Faria, dono da Granja Faria e conhecido como "Rei do Ovo" no Brasil, adquirir a Hillandale Farms, uma das maiores fornecedoras da proteína nos Estados Unidos, por US$ 1,1 bilhão (R$ 5,6 bilhões).

Na visão de Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as recentes aquisições refletem um movimento estratégico em um mercado altamente competitivo e com grandes perspectivas de crescimento. De 2000 a 2024, a produção de ovos no país cresceu 184%, segundo a entidade. A estimativa da ABPA é que a produção atinja 59 bilhões de unidades neste ano, com um crescimento de 2,4%.

Em entrevista à EXAME, Santin discute o crescente interesse no mercado de ovos no Brasil e aborda como as exportações, embora representem apenas 1% da produção nacional, devem impulsionar o setor neste ano. A ABPA estima um crescimento de 62% nas exportações de ovos, com a previsão de embarques de 30 milhões de toneladas.

O executivo também comenta o aumento nos preços da proteína, que, segundo ele, são impulsionados por fatores estruturais, como o custo do milho, as condições climáticas e o impacto da sazonalidade. Além disso, ele destaca os desafios impostos pela gripe aviária nos Estados Unidos, e como a doença mexe com o oferta e a demanda global.

Confira na íntegra a entrevista:

No primeiro trimestre deste ano, o setor de ovos foi marcado por duas grandes aquisições. Mas o que explica tanto interesse por esse mercado?

O setor de ovos tem ganhado cada vez mais relevância. Houve uma mudança significativa nos hábitos alimentares no Brasil: o consumo de ovos cresceu de forma expressiva e superou a média mundial. As pessoas passaram a enxergar o ovo mais como uma proteína saudável do que como um vilão. Essa mudança tem atraído grandes empresas para o setor.

Qual o impacto dessa mudança no mercado?

A mudança resultou na profissionalização do setor. Estamos observando uma concentração com grandes aquisições e maior consolidação. Empresas como a JBS e a Granja Faria estão crescendo tanto no Brasil quanto no exterior. A chegada dessas grandes empresas também tem ajudado a profissionalizar ainda mais o mercado.

O que explica o crescimento da demanda?

O ovo se tornou uma proteína não apenas complementar, mas principal em muitas dietas, especialmente no Brasil. Hoje, é consumido em grande escala, presente em produtos como pães, bolos e massas. O setor está amadurecendo, com investimentos em tecnologia e bem-estar animal, e isso tem atraído mais investidores.

E como o aumento de preços se relaciona com esse crescimento?

O aumento dos preços tem causas estruturais, como o aumento do custo do milho, que representa mais de 70% do custo de produção. Além disso, as ondas de calor afetaram a produção e a oferta. Esses fatores contribuíram para o aumento sazonal dos preços, especialmente durante a quaresma. Contudo, o preço do ovo não está tão fora da curva em comparação com anos anteriores.

Alguns analistas afirmam que o preço elevado do ovo está relacionado às exportações para os Estados Unidos, que enfrentam problemas com a gripe aviária...

As exportações de ovos representaram menos de 1% da produção brasileira, mas o Brasil está se consolidando como um exportador importante. Em 2025, as exportações devem crescer ainda mais. No primeiro trimestre, os EUA importaram 2.705 toneladas dos ovos produzidos no Brasil, o que representa um aumento de 346,4% em relação ao mesmo período de 2024.

E qual o impacto da gripe aviária no Brasil e no mercado global de ovos?

O Brasil está bem preparado para lidar com questões sanitárias, o que nos dá uma vantagem competitiva. A gripe aviária afetou principalmente países como os Estados Unidos e a Polônia, mas no Brasil o controle é eficiente. O país está se posicionando como um exportador robusto, especialmente devido à nossa produção estável e ao controle sanitário rigoroso.

A ABPA projeta um aumento de 62% nas exportações de ovos neste ano. Por que você acredita que esse número é alcançável?

O Brasil está em um bom caminho para aumentar sua participação nas exportações de ovos. No entanto, é importante destacar que, assim como outros países, o Brasil tem limitações de produção. Mesmo assim, com o fortalecimento do setor, temos uma chance real de aumentar nossa participação, embora não esperemos que isso ultrapasse 2% nos próximos anos.

Como as tarifas e as tensões comerciais afetam o setor de ovos?

No caso dos ovos, as tarifas impostas pelos Estados Unidos não devem afetar tanto o Brasil, já que eles importam nossos ovos devido à escassez local. A questão se torna mais complexa quando se trata de outras proteínas, como o frango e o suíno, onde as tarifas podem ter um impacto mais significativo.

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