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Terminal alemão do gasoduto Nord Stream, que fornece gás russo à Europa: tudo parado (Stefan Sauer/picture alliance via Getty Images/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 5 de setembro de 2022 às 13h25.
Última atualização em 11 de setembro de 2022 às 12h53.
Por Nicholas Larkin e Eddie Spence
Com a piora da crise de energia na Europa, aumenta a pressão sobre empresas de commodities que fornecem os alicerces da economia do continente.
Setores intensivos em energia e gás, como aço, fertilizantes e alumínio — o metal base mais usado — são obrigados a fechar fábricas ou repassar custos crescentes aos clientes. Até produtores de açúcar sentem o impacto.
A turbulência corre o risco de espremer ainda mais os orçamentos das famílias durante a pior crise de custo de vida em décadas e levar as economias a uma recessão. A crise de gás na Europa se agravou no fim de semana, em meio à decisão da Rússia de não reativar o importante gasoduto Nord Stream após um período de manutenção. O cenário, que já era ruim, pode ficar muito pior no inverno europeu, quando os suprimentos de gás tendem a encolher ainda mais.
Muito vai depender de como as autoridades intervêm no mercado de energia. A União Europeia avalia medidas como teto de preço, redução da demanda de eletricidade e impostos sobre ganhos de empresas de energia. Não se sabe se alguma ajuda está a caminho para o setor.
Veja o impacto em diferentes segmentos de matérias-primas até agora:
A Europa perdeu cerca da metade de sua capacidade de fundição de zinco e alumínio nos últimos 12 meses, já que os elevados preços da eletricidade inviabilizaram a produção intensiva em energia. Mais capacidade deve ser paralisada se a situação não melhorar.
A Alcoa informou que planeja reduzir em 30% a produção da fundição de alumínio na Noruega, enquanto a Norsk Hydro pretende fechar uma de suas fábricas na Eslováquia no fim de setembro devido à alta nos preços da energia. A Speira avalia cortar a produção em sua fundição alemã para 50% da capacidade.
A Nyrstar anunciou que vai suspender as operações na gigantesca unidade de zinco de Budel, nos Países Baixos. Com os estoques da bolsa local em níveis muito baixos, esses cortes podem aumentar a dependência das importações para atender à demanda. O socorro pode chegar da China, cuja própria crise de energia começa a dar sinais de alívio.
Embora produtores de cobre tenham sido menos expostos à crise energética devido ao menor consumo, ainda estão sob pressão. Alguns, por exemplo, têm repassado custos aos clientes por meio de sobretaxas de energia.
Siderúrgicas da Europa também são atingidas por contas de energia mais altas, sendo as que dependem de fornos elétricos a arco as mais afetadas. Muitas usinas que usam esses fornos podem permanecer offine após o fim da manutenção programada durante o verão europeu.
Os maiores produtores do continente, que incluem a ArcelorMittal, reagem aos custos mais altos com o reajuste de preços. Embora isso tenha funcionado no ano passado graças ao forte crescimento econômico após a pandemia, o desafio será maior desta vez, pois uma economia mais fraca obscurece o cenário para a demanda.
Empresas europeias de fertilizantes, que dependem do gás para produzir nutrientes essenciais, novamente reduzem as operações, assim como companhias do setor na China. Agricultores tentam garantir o abastecimento de produtos alimentícios, mas preços ainda mais altos de fertilizantes e menor disponibilidade podem forçá-los a usar menos nutrientes, sob o risco de colheitas menores.
Mais de 70% da capacidade de produção da Europa foi reduzida: Yara International, CF Industries e Achema estão entre as empresas que anunciaram cortes. O uso global de fertilizantes nitrogenados na próxima temporada deve registrar a maior queda desde 2008, de acordo com previsões da Associação Internacional de Fertilizantes.
Paralisações na produção de fertilizantes também ameaçam reduzir o fornecimento de dióxido de carbono, que é produzido como insumo. O CO2, uma parte vital da cadeia de suprimentos de alimentos, é usado no processo de insensibilização do gado para abate, bem como em embalagens para prolongar a vida útil dos alimentos e para gelo seco, que mantém os itens congelados durante a entrega.
O gigante europeu de açúcar Suedzucker, que alertou para preços mais altos à medida que produtores repassam custos, disse que tem planos de emergência para trocar o gás por outras fontes de energia devido ao corte nos fluxos da Rússia. Mas analistas dizem que pode ser um processo caro e resultar em preços maiores para consumidores, o que aumentaria ainda mais as despesas com supermercado, já elevadas com os custos globais dos alimentos em níveis recordes.
A expectativa era de que a produção alemã de açúcar já fosse significativamente menor do que no ano anterior devido à falta de chuvas, de acordo com a associação WVZ.
Com a colaboração de Elizabeth Elkin, Alberto Brambilla, Joe Deaux, Samuel Gebre, Andrew Janes, Mark Burton, Jessica Zhou, Dan Murtaugh e Hallie Gu.
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