Moacir Carvalho Dias, proprietário da Fazenda Irarema, trabalha para dar conta da demanda crescente para exportação (Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 25 de março de 2025 às 07h51.
Última atualização em 25 de março de 2025 às 09h29.
De olho no crescente interesse por uma alimentação mais saudável, produtores de avocado no Brasil têm apostado na fabricação de azeite a partir da polpa da fruta. Além dos benefícios à saúde — o avocado é rico em nutrientes, gorduras saudáveis e fibras — há o componente da sustentabilidade: no azeite, aproveitam-se os avocados que não têm a aparência desejada para o mercado premium.
Atualmente, quase toda a produção brasileira está voltada para o mercado externo, principalmente EUA, Itália, Japão, Chile e Argentina, segundo a Associação de Produtores de Abacate. A exportação anual é de pouco mais de 150 mil litros de azeite. O presidente da entidade, Adilson Luis Penariol, reconhece que a produção brasileira está em fase inicial, mas vê “um grande potencial de consolidação”.
A perspectiva para as vendas no mercado interno, hoje pequena, é de crescimento. Um entrave, no entanto, é o preço salgado: 500 ml custam, em média, R$ 70.
Desde que começou a fabricar azeite de abacate, em 2021, Moacir Carvalho Dias, da Fazenda Irarema, na divisa entre São Sebastião do Paraíso (SP) e Poços de Caldas (MG), trabalha para dar conta da demanda crescente para exportação. Hoje, ele é o maior produtor do Brasil:
"Começamos com apenas 5 mil litros em 2021, e em 2024 chegamos a 120 mil litros exportados, com lista de espera para a próxima safra. Enviamos para Emirados Árabes, Japão, Omã, Chile e Itália, mas não conseguimos atender à demanda de Estados Unidos e Coreia do Sul".
Para 2025, Dias planeja ampliar a produção em 10%, com processamento de 1,5 tonelada de abacate. A produção começou para usar o maquinário da fazenda, até então especializada em azeite de oliva. A safra de azeitonas vai de janeiro a abril, e no resto do ano as máquinas ficavam ociosas. Como a colheita do abacate ocorre no segundo semestre, “a conta fechou”, conta Dias.
Ele não cultiva abacates, mas compra avocado Hass de produtores de São Roque, Mogi-Guaçu e Bauru, no estado de São Paulo, e de Três Corações (MG).
Produtores da fruta também têm investido no azeite. Como o avocado Hass é um item premium, cuja aparência é cuidadosamente selecionada para chegar às gôndolas, foi uma forma de aproveitar as frutas que não atingem o padrão estético para venda.
A marca Jaguacy, líder nacional no cultivo e vendas de avocado Hass, com produção de 4 mil toneladas/ano em Bauru, exporta 400 contêineres de fruta por ano para vários países. Ao ver a oportunidade de exportar produto com maior valor agregado, investiu no azeite.
Ligia Falanghe Carvalo, sócia-diretora da Jaguacy, conta que, nos últimos quatro anos, a produção era terceirizada. Agora, será própria. A empresa construiu uma fábrica com capacidade de processar 3 mil quilos de abacate por hora.
"Sabemos que há mercado para bem mais volume e vamos aumentar a produção aos poucos", diz Ligia. "À medida que os brasileiros conhecerem a existência do azeite de abacate e seus benefícios, a tendência é que o consumo aumente".
Também foi pelo melhor aproveitamento da fruta que o produtor José Carlos Gonçalves, de Cajuru (SP), começou a produzir azeite de abacate. Com uma fábrica em São Sebastião do Paraíso (MG), ele conseguiu aproveitar 500 toneladas de fruta que antes eram descartadas anualmente, por não atingirem tamanho ideal ou a aparência desejada.
Gonçalves produz hoje cerca de mil litros de óleo por dia. Parte vai para a produção de azeite, e parte para sabonetes e shampoo sólido. Ele já exporta para Japão e Coreia, e há negociações com Paraguai e EUA.