Serasa: ritmo de pedidos acelerou no final do ano. Apenas no quarto trimestre, a Serasa registrou 320 solicitações de recuperação judicial. (Ueslei Marcelino/Reuters)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 1 de abril de 2025 às 10h04.
Última atualização em 1 de abril de 2025 às 10h09.
Os pedidos de recuperação judicial no agronegócio bateram recorde em 2024. Dados da Serasa Experian, divulgados nesta terça-feira, 1º, mostram que o número de solicitações subiu de 534 em 2023 para 1.272 no ano passado. O levantamento abrange pedidos feitos por produtores rurais atuando como pessoa física, produtores como pessoa jurídica e empresas do setor.
Segundo Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa, diversos fatores impactaram a saúde financeira dos produtores e proprietários rurais, especialmente aqueles mais alavancados.
“A alta da taxa de juros, aliada ao aumento dos custos de produção com insumos agrícolas — que ficaram mais caros devido à inflação e à desvalorização cambial — foram alguns dos principais desafios. Além disso, tivemos o agravante das adversidades climáticas", afirmou.
O ritmo de pedidos acelerou no final do ano. Apenas no quarto trimestre, a Serasa registrou 320 solicitações de recuperação judicial — no trimestre anterior, o número havia sido 254.
“Apesar do aumento, é preciso considerar o número absoluto de solicitações, que ainda é pequeno quando comparado a um universo de cerca de 1,4 milhão de produtores que tomaram crédito rural nos últimos dois anos no país”, disse Pimenta.
Em 2024, foram registrados 566 pedidos de recuperação judicial apresentados por produtores rurais atuando como pessoa física, um aumento significativo em relação aos 127 pedidos de 2023. Entre o terceiro e o quarto trimestres do ano, as solicitações cresceram 32,1%, totalizando 140 pedidos no período.
Desses pedidos feitos por pessoas físicas, 39,6% (ou 224) foram realizados por produtores que não possuem propriedades, possivelmente arrendatários de terras, diz a Serasa.
Os grandes proprietários foram responsáveis por 32% dos pedidos (132 solicitações), seguidos pelos pequenos produtores com 20% (113 pedidos) e os médios com 17% (97 solicitações).
A maior parte das solicitações de recuperação judicial na pessoa física veio de Mato Grosso, com 173 pedidos, seguido por Goiás (122), Minas Gerais (57), Mato Grosso do Sul (45), Paraná (45), Santa Catarina (20), Rio Grande do Sul (15), Roraima (13) e Tocantins (11).
Entre os produtores rurais que atuam como pessoa jurídica, o número de pedidos de recuperação judicial saltou de 162 em 2023 para 409 em 2024 — apenas no quarto trimestre, foram registradas 110 solicitações, um aumento de 19,6%.
Nos casos desses produtores, o cultivo de soja concentrou o maior número de pedidos (222), seguido pela criação de bovinos (75), cultivo de cereais (49), cultivo de café (16) e cultivo de algodão e outras fibras de lavouras temporárias (10).
Entre os estados, Mato Grosso liderou com 92 pedidos, seguido por Goiás (62), Minas Gerais (53), Mato Grosso do Sul (47), Paraná (30), São Paulo (30), Rio Grande do Sul (29), Santa Catarina (27), Tocantins (13) e Bahia (13).
Segundo a Serasa, as empresas ligadas ao agronegócio registraram 297 pedidos de recuperação judicial em 2024, contra 245 no ano anterior — no quarto trimestre de 2024, o número de solicitações foi 25% maior que no terceiro trimestre, somando 70 pedidos.
No ranking dos setores das empresas analisadas, as agroindústrias de transformação primária lideraram com 73 pedidos.
Em seguida, aparecem os serviços de apoio à agropecuária (64 pedidos), as indústrias de processamento de agroderivados (58 requisições), o comércio atacadista de produtos agropecuários primários (33 pedidos) e os revendedores de insumos (exceto máquinas), com 32 solicitações.
O principal estado de origem das empresas do agro que solicitaram recuperação judicial foi São Paulo, com 14 pedidos, seguido por Paraná (9), Goiás (6), Rio Grande do Sul (6), Santa Catarina (6), Amazonas (5), Tocantins (5), Minas Gerais (4), Mato Grosso (4) e Rio de Janeiro (2).
Segundo a Serasa, o levantamento foi baseado em documentos registrados mensalmente na base de dados da companhia e nos tribunais de Justiça de todos os estados.