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Quadruplicar venda de soja dos EUA para China é praticamente inviável, dizem analistas

EUA exportou 22 milhões de toneladas para a China em 2024 e, para chegar ao montante de exportações sugerido por Trump, desabasteceria mercado de esmagamento interno

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 11 de agosto de 2025 às 19h30.

O pedido do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que a China quadruplique as compras de soja americana é praticamente inviável de ser concretizado, segundo analistas ouvidos pela EXAME.

A análise da consultoria agrícola Datagro é de que o aumento de quatro vezes nas exportações impactaria o mercado interno americano, tornando esse número irrealista e a possibilidade, praticamente inviável.

Em 2024, a produção total de soja dos Estados Unidos foi de aproximadamente 118 milhões de toneladas. Desse total, 70 milhões de toneladas foram direcionadas para a indústria de esmagamento, para transformar os grãos em óleo e farelo, diz a Datagro.

Outras 44 milhões de toneladas foram exportadas, e 22 milhões de toneladas de soja deixaram os EUA para a China, patamar próximo de 52% do total exportado pelos americanos.

Para quadruplicar as vendas aos chineses, os americanos teriam, portanto, que enviar 88 milhões de toneladas para a China, o que impactaria toda a exportação para outros países e reduziria a quantidade disponível para esmagamento.

Rafael Silveira, consultor da Safras & Mercado, também avalia ser difícil imaginar que a China quadruplique a demanda por soja americana, especialmente em se tratando de uma safra velha — isto é, já colhida e negociada.

"O cenário ainda depende de uma possível postergação da trégua entre os dois países e de como a China irá se posicionar. No caso do Brasil, as exportações devem seguir aquecidas até o fim do ano, acompanhando a sazonalidade, e possivelmente atingindo níveis recordes", afirma Silveira.

E como fica o Brasil?

A análise do Datagro é de que, para entender um possível impacto no Brasil, é preciso primeiro que o número real negociado nesse comércio de soja pela China e os Estados Unidos seja divulgado.

A avaliação é de que um número elevado foi colocado na mesa para que os americanos conquistem uma parte do mercado de soja chinês. Até o momento, essa informação não foi divulgada.

"É provável que o Brasil saia impactado e perca um pouco de market share, porque é muito difícil não esbarrar nesses 70%. Mas tudo isso depende de quanto os Estados Unidos vão querer mandar para os chineses", afirma a consultoria Datagro.

Em 2024, o Brasil exportou 74,7 milhões de toneladas de soja para a China, totalizando US$ 36,5 bilhões. Os chineses compraram 105 milhões de toneladas de todo o mundo. Ou seja, o Brasil representa 70% do que a China compra do produto.

A China aumentou a compra de soja nos últimos anos em meio à queda do preço dos grãos — que caíram, entre outros fatores, em consequência de seguidas safras recordes brasileiras. Além do Brasil e Estados Unidos, a Argentina também é um dos principais fornecedores de farelo de soja do mundo.

Os países sul-americanos costumam ter preços menores do que os dos produtores norte-americanos, o que torna os produtos da região mais atraentes para compradores chineses.

A soja é importante para os chineses para nutrição animal. O farelo de soja, por exemplo, tem função alimentar para produção suína do país, a maior do mundo.

Por isso, a avaliação é que qualquer mudança da política chinesa de importação de soja será feita de forma cautelosa, uma vez que se trata de uma questão de segurança alimentar para o país. Atualmente, o Brasil é origem de 25% dos produtos agrícolas importados pela China no mundo, como mostrou EXAME no ano passado.

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