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Preços dos ovos disparam nos EUA após governo mandar abater 100 milhões de galinhas

Supermercados norte-americanos têm limitado a compra da proteína para evitar desabastecimento

Supermercado em Washington, nos EUA, avisa que há falta de ovos nas prateleiras (Rafael Balago)

Supermercado em Washington, nos EUA, avisa que há falta de ovos nas prateleiras (Rafael Balago)

Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 12h04.

São Paulo e Washington - Ao caminhar por supermercados nos Estados Unidos, é comum ver um aviso inusitado: "Não há ovos". A comunicação, em geral, está fixada em prateleiras vazias. Essa era por exemplo a cena no último sábado, 18, em uma loja da rede de supermercados Safeway em Washington, a cerca de dez quadras da Casa Branca.

"Os produtores de ovos têm tido falhas nas entregas por causa de recentes surtos de gripe aviária pelo país", diz o aviso, registrado pela EXAME. "Como resultado, temos visto custos mais altos de nossos produtores, assim como algumas faltas temporárias de produtos. Pedimos desculpas."

Desde dezembro, os Estados Unidos enfrentam um surto de gripe aviária H5N1, o que coloca em risco a produção nacional de ovos. O país é o terceiro maior fabricante global, com coleta anual de 113 bilhões de unidades, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Com o aumento dos casos da doença, os EUA têm abatido milhões de galinhas para conter a transmissão. Só em dezembro, o número de mortes chegou a 13,2 milhões, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Em janeiro, ao menos outras 8,3 milhões de aves foram abatidas.

A redução no número de galinhas afeta diretamente a oferta de ovos, pressionando os preços. Em nível nacional, o preço dos ovos brancos grandes atingiu US$ 6,55 por dúzia, um aumento de US$ 0,68 em relação à semana anterior, de acordo com um relatório do USDA.

Em Nova York, a cartela com 12 ovos subiu US$ 0,52, chegando a US$ 7,24 — no início de janeiro, o valor era de US$ 6,06.

Com a oferta restrita e os preços subindo semana após semana, os supermercados norte-americanos têm adotado medidas para mitigar os impactos. Algumas redes passaram a limitar a quantidade de ovos por consumidor para evitar uma crise maior de desabastecimento. Além disso, os varejistas reduziram promoções para garantir um nível mínimo de oferta.

Para analistas do Santander, há preocupação de que o vírus atinja estágios iniciais da cadeia produtiva, como reprodutores de frango de corte, afirmam Guilherme Palhares e Laura Hirata em relatório divulgado nesta quinta-feira, 30.

Segundo o banco, a atenção está voltada para o período de migração das aves silvestres, que ocorre até maio. Esse fator pode intensificar a disseminação da gripe aviária e causar efeitos mais duradouros, como em 2015, quando o vírus atingiu um plantel comercial e impactou 50,5 milhões de aves em Minnesota, Missouri, Arkansas e Kansas.

"Durante o inverno no Hemisfério Norte, as aves migram para o sul em busca de temperaturas mais quentes. Dado o quão patogênico é o vírus, ele pode continuar se espalhando. Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), todos os animais devem ser sacrificados caso o vírus atinja um plantel [galinheiro]", dizem os analistas.

No ano passado, 43 milhões de aves foram infectadas, reduzindo ainda mais a oferta de ovos, que totalizou 8,6 bilhões de dúzias.

O efeito Donald Trump

A crise dos ovos nos EUA virou uma das preocupações na Casa Branca. Na terça-feira, 28, Karoline Leavitt, porta-voz do governo de Donald Trump, que tomou posse na semana passada, responsabilizou a gestão do antecessor, Joe Biden, pela escassez e alta dos preços, atribuindo o problema à decisão de abater 100 milhões de frangos por causa da gripe aviária.

“Quanto à escassez de ovos, o fato de o governo Biden e o Departamento de Agricultura terem ordenado o abate em massa de mais de 100 milhões de galinhas está contribuindo”, afirmou Leavitt. Ela acrescentou que a medida levou a uma redução na oferta de frangos, o que resultou na atual crise de ovos nos EUA.

A situação pode se agravar com os planos de Trump, que pretende aplicar tarifas de 25% sobre produtos importados do México e do Canadá. O México, por exemplo, exportou mais de 7 milhões de dúzias de ovos para os EUA em 2023, enquanto o Canadá foi responsável pelo envio de 46,8 milhões de dúzias, segundo o USDA.

Além disso, Trump voltou a ameaçar os países membros do Brics com a imposição de tarifas de 100%. Em publicação na rede Truth Social, o republicano afirmou que adotará a medida caso o Brics continue buscando uma alternativa ao dólar.

O Brasil, que integra o bloco, exportou 3,253 milhões de dúzias de ovos para os EUA em 2024, um aumento de 85% em relação ao ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

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