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Preços do ovo e do frango devem ter pouco impacto da gripe aviária, dizem analistas; entenda

Desde o mês passado, os preços vêm recuando no mercado interno, com quedas de até 10% na parcial de maio

 (Freepik)

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César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 23 de maio de 2025 às 06h01.

Última atualização em 23 de maio de 2025 às 10h07.

A gripe aviária deve impactar pouco os preços do ovo e do frango no Brasil. Na avaliação de Claudia Scarpelin, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, no caso do ovo, os preços têm recuado desde abril em função do aumento da oferta da proteína e à menor demanda.

“No curto prazo, ainda é cedo para avaliarmos os impactos da gripe aviária no mercado interno de ovos. Desde o mês passado, os preços vêm recuando no mercado interno, com quedas de até 10% na parcial de maio (até o dia 19)”, diz a pesquisadora. Segundo ela, “até o momento, a gripe aviária ainda não influenciou diretamente as cotações do produto”.

Na sexta-feira, 16, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou o primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul — o estado é o terceiro maior produtor de carne de frango do país.

No início do ano, os preços dos ovos subiram por causa do aumento da demanda e da menor oferta. Em função do calor que atingiu o Brasil, a produção de ovos pelas galinhas recuou, o que reduziu a quantidade disponível no mercado. Além disso, o período da quaresma elevou a demanda pela proteína, fazendo os preços dispararem no país.

Segundo Scarpelini, mesmo com a suspensão total ou parcial de 63 países aos produtos avícolas brasileiros, em função do caso de gripe aviária, as exportações de ovos do Brasil representam menos de 1% da produção nacional.

“O excedente tende a ser absorvido pela demanda interna, sem muitos efeitos sobre os preços num primeiro momento. Como os EUA vêm sendo o principal destino das exportações brasileiras nos últimos meses, responsáveis por 65% do total embarcado em abril, a expectativa é de que a redução nas exportações de ovos seja pequena”, diz.

De janeiro a abril de 2025, os embarques de ovos do Brasil somaram 13 mil toneladas, um aumento de 134% em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Em julho de 2024, quando o governo confirmou o caso da doença de Newscatle, também no Rio Grande do Sul, os preços dos ovos atingiram o menor patamar desde janeiro daquele mesmo ano.

Mas, segundo a pesquisadora, a queda esteve mais relacionada ao desequilíbrio entre oferta e demanda internas do que a impactos diretos da confirmação da doença.

Preços do frango no Brasil

Em relação à carne de frango, a projeção do Itaú BBA é de que os efeitos possam ser pontuais no curto prazo. Segundo análise do banco, o excedente da proteína no mercado doméstico deve fazer os preços da proteína caírem.

"O excedente deverá ser, na maioria, absorvido pelo mercado interno no curto prazo, o que pode gerar pressão baixista sobre os preços. Este cenário também pode pesar temporariamente no mercado de boi e suíno", diz o Itaú BBA em relatório.

Em coletiva na segunda-feira, 19, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que os focos detectados de gripe aviária no Rio Grande do Sul não trarão impacto significativo no preço da carne de frango, apesar da suspensão de vendas para mais de uma dezena de países.

"Acredito muito mais em pequenas variações, pode ter um excesso de oferta, [por] 10 e 15 dias. Acredito muito mais na estabilidade", disse.

Para Luiz Henrique Melo, pesquisador do Cepea, o cenário no mercado doméstico é de estabilidade nos preços do frango, com algumas quedas pontuais em determinadas regiões.  No atacado de Porto Alegre (RS), por exemplo, o frango inteiro congelado está cotado, em média, a R$ 10,22/kg, leve recuo de 0,7% frente ao verificado em abril.

"Para a carne de frango, o fator determinante nesta conjuntura é o “tempo”. Acredita-se que, dentro do período de 28 dias (desde que não sejam registrados novos casos nesse intervalo), os preços tendam à estabilidade em algumas praças e a apresentar recuos mais leves em outras. No entanto, caso a suspensão se prolongue além desse prazo, as desvalorizações podem se intensificar", diz o pesquisador.

Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, projeta um efeito cascata nos preços da carne bovina e suína, além de impactos em toda a cadeia pecuária.

“Isso afetará os valores da carne bovina, suína e, claro, da carne de frango, impactando também a receita dos frigoríficos e prejudicando as exportações da proteína. A avicultura de corte será a mais afetada nessa situação”, diz o analista.

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