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Preços do matcha disparam no Japão com alta no consumo global

Escassez global e preços em alta pressionam marcas brasileiras, enquanto o mercado do chá japonês deve quase dobrar de tamanho até 2031

Publicado em 28 de julho de 2025 às 09h59.

O matcha, chá-verde japonês em pó conhecido pelo alto teor de antioxidantes, está no centro de um fenômeno global: o consumo disparou a ponto de gerar uma escassez mundial do produto.

No Brasil, a procura cresce em ritmo ainda mais acelerado do que no restante do mundo, impulsionada pela popularidade do chá em redes sociais.

O mercado brasileiro de matcha deve quase dobrar de US$ 340 milhões em 2025 para US$ 790 milhões até 2031, um crescimento médio anual de 14,8%, segundo a consultoria Mobility Foresights.

Outras projeções mais conservadoras indicam uma expansão de US$ 24,5 milhões em 2024 para US$ 36,1 milhões em 2030, com alta de 7% ao ano. Mesmo com metodologias diferentes, os números mostram a mesma tendência: a categoria está entre as que mais crescem no setor de bebidas saudáveis.

O movimento se apoia em novos formatos de consumo: lattes e frappés em cafeterias, sachês instantâneos, bebidas prontas para beber (ready-to-drink, RTD) e sobremesas enriquecidas com o pó de chá.

Segundo levantamento da Grand View Research, o segmento de bebidas RTD com matcha responde hoje por cerca de 25% das vendas no Brasil, enquanto os pós tradicionais representam pouco mais de 50%. Os produtos instantâneos — práticos para o público urbano — são o recorte que mais cresce, com estimativa de 12% de expansão anual.

Mas, se o Brasil e o resto do mundo vivem uma explosão de consumo, o Japão, principal fornecedor global, tenta lidar com o outro lado da equação: estoques insuficientes para atender à demanda internacional.

Em 2024, empresas tradicionais no setor, como Ippodo e Marukyu Koyamaen, suspenderam a venda de alguns lotes de matcha.

A escassez pode ser explicada por fatores estruturais. A produção japonesa depende de um único tipo de folha, o tencha, cultivado à sombra por cerca de quatro semanas antes da colheita.

Apenas 6% do chá-verde produzido no Japão se destina ao matcha, segundo a Global Japanese Tea Association. O tencha é colhido apenas uma vez por ano, e qualquer variação climática afeta diretamente a oferta.

Neste ano, produtores da região de Kyoto, responsável por um quarto da produção japonesa, enfrentaram uma temporada seca e quente. Resultado: colheita de alta qualidade, mas com rendimento menor, segundo Zach Mangan, fundador da Kettl Tea.

O impacto é visível nos preços. O quilo de tencha no leilão de Kyoto atingiu 8.235 ienes em abril, 1,7 vez acima da média de 2024.

A diferença aparece nos valores pagos por cafeterias e consumidores: nos Estados Unidos e na Europa, o preço de latas de matcha de qualidade cerimonial dobrou em um ano, passando de US$ 0,75 para US$ 1,60 por grama, segundo a Time.

O desafio brasileiro

A alta global pressiona marcas brasileiras, que dependem quase integralmente das importações japonesas, responsáveis por mais de 95% do matcha de alta qualidade consumido no Brasil.

Em 2024, o Brasil importou aproximadamente 90% do seu matcha do Japão, refletindo essa forte dependência.

No curto prazo, empresas buscam diversificar fornecedores, incluindo lotes de origem chinesa ou taiwanesa, normalmente destinados a usos culinários, embora esses representem menos de 10% da oferta nacional.

A pressão de custos também pode limitar a popularização do matcha no Brasil: uma embalagem de 100 gramas de pó de qualidade média chega a custar R$ 220 em redes especializadas, enquanto o preço global do matcha japonês de alta qualidade subiu mais de 30% em 2025.

Apesar dos riscos, as perspectivas são positivas. O Brasil lidera o mercado latino-americano em tamanho e deve continuar ganhando relevância na próxima década, segundo dados da Mordor Intelligence.

Cafeterias premium como Starbucks, Cocatrel e Café Orfeu já incorporaram bebidas à base de matcha em seus cardápios, e a categoria tem conquistado espaço em redes de supermercados e e-commerces.

Analistas afirmam que a diversificação de formatos será fundamental. O crescimento mais acelerado deve vir de bebidas prontas e suplementos que combinam matcha a colágeno, proteína vegetal e outros ingredientes funcionais.

A escassez, contudo, deve permanecer. A produção japonesa de tencha quase triplicou desde 2010, mas a demanda cresce em ritmo ainda mais intenso. A expectativa é de que a oferta continue limitada até pelo menos 2030, mantendo preços elevados e prazos de entrega longos.

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