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Preço do peru sobe 40% nos EUA por gripe aviária e alta do milho

Além da ave, houve alta também nos preços de vegetais e de decoração natalina, o que afetará as festas de fim de ano

Donald Trump, presidente dos EUA, perdoa peru antes do feriado de Ação de Graças  (Heather Diehl/Getty Images/AFP )

Donald Trump, presidente dos EUA, perdoa peru antes do feriado de Ação de Graças (Heather Diehl/Getty Images/AFP )

Publicado em 28 de novembro de 2025 às 06h01.

A temporada de festas nos Estados Unidos, que começou nesta quinta-feira, 27, com o Dia de Ação de Graças, levou agricultores e empresários a alertar sobre o impacto das tarifas de Donald Trump nos custos de produção de bens como o peru e os vegetais.

Os preços no atacado do peru estão atualmente cerca de 40% mais altos em razão dos desafios de oferta provocados por doenças aviárias, afirmou recentemente a American Farm Bureau Federation, entidade que reúne produtores rurais dos EUA.

Mesmo antes das tarifas, os custos de insumos como fertilizantes, sementes, produtos químicos, equipamentos e combustível já estavam em níveis historicamente altos, segundo Nick Levendofsky, diretor-executivo da União de Agricultores do Kansas, disse à AFP.

"Com as tarifas, estão subindo ainda mais. O milho e a soja constituem grande parte do alimento para perus e outros animais de fazenda. Quando esses cultivos ficam mais caros de produzir, o preço por libra do peru sobe", disse.

Os preços dos alimentos aumentaram 2,7% em setembro em comparação ao ano anterior, segundo dados do governo. Uma pesquisa do Politico revelou que os alimentos foram a categoria mais difícil de pagar para os americanos.

Custos mais altos

Embora o país não tenha experimentado um aumento generalizado da inflação devido às tarifas, economistas, parlamentares e donos de negócios apontam que os novos impostos aumentaram os custos.

A agricultora da Carolina do Norte Mary Carroll Dodd disse a jornalistas nesta semana que "devido ao aumento de nossos custos, principalmente por causa das tarifas, tivemos que aumentar o preço de alguns de nossos vegetais", como o das couves.

Uma pesquisa recente da entidade American Farm indicou que os preços dos vegetais frescos aumentaram, por causa da "escassez contínua de trabalhadores agrícolas" e salários em rápido crescimento que elevam os custos.

"Quase com certeza, parte dessa escassez de mão de obra se deve à repressão tanto da imigração legal quanto ilegal", disse Jeremy Horpedahl, do Instituto Cato, de tendência libertária, à AFP.

Mas os defensores da estratégia comercial de Trump argumentam que as tarifas não impulsionam diretamente aumentos de preços em setores-chave como moradia, alimentos ou saúde.

Os preços da carne bovina nos Estados Unidos, por exemplo, foram impulsionados por uma seca nos últimos anos e pela redução do rebanho, disse o economista Jeff Ferry, da Coalizão por uma América Próspera, grupo que apoia as tarifas de Trump.

"A cadeia de suprimentos, incluindo fabricantes e importadores, está absorvendo grande parte da tarifa enquanto mantém os aumentos de preços ao consumidor sob controle", afirmou.

No entanto, o panorama futuro segue complexo. A indústria americana enfrenta uma fase de contração do ciclo pecuário, com redução do rebanho e menor disponibilidade de animais nos confinamentos.

O efeito direto tem sido o encarecimento da proteína: a carne moída — principal insumo para hambúrgueres — acumula alta de 14% no ano, segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS). Nos EUA, cerca de 80% da carne moída consumida é destinada à produção de hambúrgueres.

O rebanho bovino americano está no menor nível em 75 anos, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A produção deve cair 4% em 2025 e mais 2% em 2026.

Em reconhecimento aos desafios enfrentados pelos agricultores, o governo está considerando ajudas para o setor afetado pelos baixos preços das colheitas e por uma disputa comercial com a China neste ano.

Ainda assim, Levendofsky afirmou que "os agricultores não querem resgate. Querem comércio, não ajuda".

Alguns pequenos empresários dizem que lutam para sobreviver, mesmo com a aproximação da temporada de compras de fim de ano.

Jared Hendricks, proprietário da Village Lighting Co., em Utah, disse a jornalistas que sua empresa se "aproxima de 1 milhão de dólares em tarifas neste ano" (cerca de 5,38 milhões de reais) que não estavam originalmente no orçamento.

Sua empresa é especializada em decorações e soluções natalinas, com pedidos feitos com um ano de antecedência e com grande parte das vendas atrelada a contratos com clientes.

"Vendemos muitos desses produtos diretamente com prejuízo", disse. "Neste ponto, deixamos de trabalhar pelo lucro para trabalhar pelas tarifas".

Resposta de Trump

Os alertas sobre as tarifas de Trump e as preocupações das famílias com o custo de vida contrastam com a mensagem do governo, que tenta convencer os americanos da força da maior economia do mundo.

"Embora meu grande trabalho na economia ainda não tenha sido plenamente reconhecido, será! As coisas realmente estão melhorando", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social no fim de semana.

Com AFP.

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