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Por que o preço do café vai subir até 15% nos supermercados nas próximas semanas?

Projeção da entidade estima que o quilo do café no atacado pode chegar a R$ 80

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 25 de setembro de 2025 às 17h45.

Última atualização em 25 de setembro de 2025 às 18h24.

O café no Brasil deve ficar mais caro nas próximas semanas, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Pavel Cardoso. A oferta e os custos da matéria-prima são os principais motivos.

Em coletiva de imprensa na quarta-feira, Cardoso informou que ocorrerá um aumento entre 10% e 15% no preço do produto, que será repassado aos supermercados. Os varejistas já foram comunicados sobre a questão, segundo a associação.

“O reajuste vai ser repassado a partir de agora. Em alguns casos, os preços foram comunicados no início do mês, mas como os supermercados só foram às compras a partir da segunda quinzena, o reajuste deve chegar às prateleiras a partir da semana que vem”, disse Cardoso.

Dados da Abic mostram que, em agosto, o quilo do café registrou preço médio de R$ 62,83, com uma redução tímida de 2,17% em relação a julho. A projeção é de que o produto chegue a R$ 80 nos próximos meses.

A avaliação é que o reajuste no preço do café para o varejo “não deve ser superior à média do ano”.

Segundo o executivo, os preços no mercado internacional subiram até 40% entre agosto e setembro, devido à colheita abaixo do esperado do café arábica brasileiro, principal variedade consumida no país. A baixa nos estoques globais, após quatro anos consecutivos de perdas na colheita, o clima e o tarifaço do presidente Donald Trump também contribuem para a maior volatilidade.

O executivo afirmou que a safra 2025/2026 deve ter até o momento uma boa florada, com um possível recorte caso não ocorra quebra de safra devido ao clima. A avaliação, porém, é que esse bom momento não será suficiente para recompor os estoques de café.

Alta do café diminui o consumo

A associação dos produtores afirma que a alta dos preços do café observada em 2025 causou uma retração no consumo do produto no mercado brasileiro.

A alta de alguns tipos de café, como o solúvel, acumula um aumento de 50,59% no ano.

Segundo dados da Abic, houve queda de 5,41% nas vendas de café no mercado brasileiro entre os meses de janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em números absolutos, as vendas caíram de 10,11 milhões para 9,56 milhões de sacas neste ano.

Apesar dessa volatilidade nos preços e da retração no consumo, a Abic espera fechar este ano de 2025 com um patamar semelhante ao do ano anterior.

“Os dados de setembro nos levam a crer que teremos um comportamento surpreendente ainda neste ano, para o próximo fechamento. Este é um sentimento ainda incipiente, com base nos números de setembro, já que estamos quase fechando o mês, mas é um indicativo de que possivelmente teremos boas notícias em relação ao consumo no fechamento do ano”, afirmou Cardoso.

Setor na expectativa pela reunião entre Lula e Trump

Segundo Pavel, a indústria brasileira de café também enfrenta incertezas em relação às sobretaxas sobre as exportações do grão para os Estados Unidos. O Brasil, destacou ele, é o maior fornecedor de café para os americanos.

“A ordem executiva [do governo dos Estados Unidos], publicada no dia 6 de setembro, indica que os Estados Unidos concluíram, depois de ouvir o mercado, que o café, não sendo produzido lá, não terá tarifas. Mas ainda não sabemos se as tarifas voltarão a zero ou se ficarão em 10%. A nossa leitura é de que não haverá tarifas, porque os Estados Unidos não produzem café. Há uma produção muito pequena no Havaí e em Porto Rico, mas praticamente nada”, disse o presidente da entidade.

Além dessa ordem executiva, o setor avaliou positivamente a possibilidade de uma reunião entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, na próxima semana. “Vamos aguardar o encontro entre os dois presidentes na próxima semana, mas isso mostra como o café e o setor de carnes são sensíveis à inflação americana”, afirmou.

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