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Por que a picanha ficou mais barata?

Queda de 7,9% na média nacional é resultado de combinação que inclui produção em alta, exportação em baixa e consumo menor

Carne mais barata: projeção dos analistas é de que fim de ano seja favorável ao consumidor, na esteira de uma melhora na economia e queda de juros (Marfrig/Divulgação)

Carne mais barata: projeção dos analistas é de que fim de ano seja favorável ao consumidor, na esteira de uma melhora na economia e queda de juros (Marfrig/Divulgação)

Leandro Becker
Leandro Becker

Repórter freela de Agro

Publicado em 24 de agosto de 2023 às 07h00.

Protagonista na churrasqueira e até no debate eleitoral, a picanha está mais barata no Brasil. De janeiro a julho, segundo o IBGE, o preço caiu 7,9% – e a redução é ainda maior em capitais como Brasília (-10,84%) e Belo Horizonte (-9,69%). Nos últimos 12 meses, a variação na média nacional é um pouco menor, mas expressiva: -5,27%. 

O preço mais acessível, aliás, não é exclusividade da picanha. Outros cortes muito tradicionais também ficaram mais em conta nos supermercados e açougues desde o começo de 2023, como alcatra (-11,50%), filé-mignon (-10,17%), patinho (-7,63%) e costela (-7,44%). Mas por que o valor baixou tanto?  

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A mudança é resultado de uma combinação de fatores que inclui aumento na produção de carne bovina no Brasil, desvalorização no preço do boi, preferência do consumidor por opções mais baratas – o frango em pedaços ficou 9,37% mais barato desde janeiro – e um mercado de exportações menos aquecido, em especial após 29 dias sem vendas à China, o maior comprador do produto brasileiro, após um caso atípico de vaca louca no Pará.

Aumento na oferta

Embalada pelo recorde de exportações em 2022, a produção de carne bovina cresceu em 2023 de olho, principalmente, em oportunidades no mercado internacional. Só no primeiro semestre deste ano, o número de abates aumentou 8% na comparação com o ano passado, de acordo com análise do IBGE. Foram 7,34 milhões de cabeças no primeiro trimestre (+4,8%) e 8,25 milhões no segundo trimestre (+11%).

“Este é o ano que o Brasil mais produziu carne no primeiro semestre. Isso, combinado ao fato de carnes de frango e suína também estarem mais baratas, jogou uma pressão grande para o setor de carne bovina e impactou no preço”, pondera Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

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Queda no preço do boi

A oferta maior impactou na redução do preço do boi. João Otávio Figueiredo, head de pecuária da Datagro, afirma que a arroba chegou à casa de R$ 215, muito abaixo dos R$ 350 registrados em março de 2022, por exemplo.

Ele lembra que, desde a pandemia do coronavírus, o valor da arroba vinha acumulando uma valorização histórica associada, principalmente, ao maior apetite chinês. “A tonelada de carne bovina in natura foi exportada acima de US$ 7 mil, com o prêmio pago pelo boi vendido à China muito mais alto do que em outros momentos. Mas isso começou a se inverter a partir da metade do ano passado”, explica.

Figueiredo também ressalta que havia uma expectativa de que a demanda chinesa aumentasse após o controle do coronavírus, mas isso não ocorreu no patamar projetado. 

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“Em volume, o Brasil até exportou mais para a China neste ano, mas o preço ficou abaixo de US$ 5 mil por tonelada, ou seja, a rentabilidade é diferente”, observa o analista, complementando que isso também reflete no preço para o mercado interno.

Embargo chinês afeta exportações

A diminuição no volume de exportações de carne bovina também impacta a maior oferta para o mercado interno – e, consequentemente, no preço. No primeiro semestre deste ano, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o volume embarcado foi de 882,67 mil toneladas, 5,33% inferior ao recorde registrado em 2022.

Pesou para isso, claro, os 29 dias de embargo da China entre fevereiro e março. Mas a queda no volume não é tão expressiva quanto no bolso. O valor pago pela tonelada de carne in natura exportada brasileira caiu. Só em agosto, a redução foi de 26,4% até a terceira semana, segundo dados divulgados na segunda-feira, 21, pela Secex.

“Todo mundo sabia que o preço ia cair neste ano, mas acima de 25% ninguém esperava. Os custos de produção baratearam no campo, é verdade, mas não no mesmo patamar do que a queda no preço. Quando isso ocorre, tem operações que conseguem manter o fôlego, mas outras estão com déficit”, afirma Figueiredo.

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A questão cambial é outro fator, com o real mais valorizado perante o dólar. A cotação, que chegou a R$ 5,44 em 4 de janeiro deste ano, fechou o semestre (30 de junho) em R$ 4,81, segundo o Ipea

“Apesar de a China ter retomado as compras, ela está pagando preços menores. Assim, o frigorífico paga menos ao produtor e isso gera uma situação em que o pecuarista, muitas vezes, tem o produto já pronto e acaba tendo que soltar no mercado, impactando ainda mais nos preços internos”, salienta Carvalho, do Cepea.

Retomada mais lenta no consumo

Por outro lado, o consumo como um todo nos lares brasileiros cresceu 6,96% entre junho de 2022 e junho de 2023, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Entre os motivos, segundo a entidade, estão o recuo do desemprego, reajustes salariais e consolidação de programas de transferência de renda.

Isso não significa, entretanto, que a carne bovina voltou ou passou a figurar frequentemente no prato do brasileiro. Figueiredo, da Datagro, explica que a alta de preços da carne bovina nos últimos dois anos – em especial durante a pandemia – e a crise econômica fizeram com que a população passasse a optar por alternativas como o frango, por exemplo, o que agora dificulta uma retomada rápida no consumo.

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Preço pode cair ainda mais

Apesar disso, a projeção dos analistas é de que o último trimestre deste ano será interessante para o consumidor, na esteira de uma melhora na economia, queda de juros e tradicionais datas comemorativas como as festas de fim de ano. Esse cenário pode ficar ainda melhor diante da possibilidade de os preços da carne bovina continuarem caindo.

Já para os pecuaristas, a situação é de alerta. “A tendência é que pelo menos em outubro e novembro o mercado fique pressionado. Neste momento, é importante o produtor lembrar que o ciclo de baixa é algo natural na atividade. Por isso, é fundamental estar atento aos custos e montar uma estratégia para se resguardar”, recomenda Carvalho, do Cepea.

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