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carne (Wenderson Araujo/Trilux/Sistema Senar-CNA/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 26 de setembro de 2023 às 14h34.
Uma produção recorde de carnes e uma safra de grãos próxima da atual, que foi a maior da história, estão no horizonte do Brasil para a temporada 2023/2024. É o que apontam as projeções para a agropecuária nacional recém-divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
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Considerando soja, milho, arroz, feijão e algodão, a Conab estima que o país produzirá 319,5 milhões de toneladas, apenas 1% a menos do que no ciclo atual. Já o incremento na área cultivada será de 0,5%, chegando a 78,9 milhões de hectares.
No caso das carnes bovina, de frango e suína, a projeção da companhia é de uma produção nacional de 30,85 milhões de toneladas. O resultado, se concretizado, supera em 2,7% o registrado neste ano, que já foi recorde.
O país também deve alcançar uma marca inédita nas exportações de carne, com 9,46 milhões de toneladas (+2,7% em relação a 2023). Mesmo assim, haverá alta de 2,7% na disponibilidade para o mercado interno, chegando a 104,9 kg por habitante.
Nas perspectivas para a produção agropecuária brasileira, a Conab considerou uma cotação do dólar de R$ 4,90, com IPCA (inflação oficial) de 4,84% em 2023 e 3,88% em 2024. Ainda prevê um crescimento do PIB de 2,24% neste ano e de 1,3% no próximo, bem como taxa de juros de 11,75% no fim de 2023 e 9% ao final de 2024.
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Confira a seguir um panorama detalhado das projeções:
A estimativa é de uma nova safra recorde, com aumento no processamento interno e nas exportações. Entre os motivos do avanço, está a rentabilidade do cultivo e a perspectiva de que a região Sul não enfrentará problemas climáticos como no ciclo anterior.
O avanço no processamento se dá pela previsão de aumento do percentual da mistura de óleo de soja para biodiesel e do consumo de farelos para alimentação animal. No caso das exportações, a projeção de alta se dá por uma maior oferta nacional e demanda mundial aquecida, com a China respondendo por 74% do total embarcado pelo país em 2023.
O preço, entretanto, deve cair. A Conab estima que o valor médio na Bolsa de Valores de Chicago (CBOT) deve passar de US$ 591,73 por bushel, de janeiro a julho de 2023, para US$ 542,98 no mesmo período do ano que vem. Entre as razões, estão a safra recorde na América do Sul e a oferta internacional maior do que a demanda.
A estimativa é de que, no primeiro semestre de 2024, a saca de 60kg seja vendida por R$ 111,91. Esse panorama só mudará, segundo a Conab, se houver problemas climáticos e perdas de produtividade nos Estados Unidos, Brasil e/ou Argentina ou se a demanda dos países produtores e consumidores aumentar.
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Apesar da tendência de preços mais baixos, a expectativa é de que a rentabilidade para 2024 seja superior à de 2023, uma vez que o custo de produção está 21,6% menor do que no ano anterior, reflexo da baixa dos preços dos fertilizantes (-48,7%, em média).
Depois de um avanço expressivo nos últimos anos, com produção e exportação recordes, a previsão é de que o cultivo de milho no Brasil tire o pé do acelerador. A Conab observa que os preços atuais e projetados não têm uma rentabilidade tão atrativa, o que deverá refletir na redução de área, produtividade e produção no país.
Essa redução e a possível menor demanda chinesa, com a desvalorização do Yuan, deverão refletir em menor volume exportado. Por outro lado, haverá aumento no consumo interno de milho, tendo em vista a alta estimada de 2,7% no uso como insumo na produção de proteína animal e de 37,2% para a produção de etanol de milho.
A perspectiva é de que o preço médio do grão no Mato Grosso no primeiro semestre de 2024, considerando um “cenário neutro”, oscile entre R$ 38 e R$ 44 pela saca de 60kg. Mas, com a projeção de menor oferta, principalmente na segunda safra (-10,9% em relação ao ciclo 2022/2023), e com a demanda interna em crescimento, os preços devem operar no segundo semestre do próximo ano acima das paridades de exportação.
Após uma safra de redução na área plantada, baixa rentabilidade e a menor produção brasileira em 20 anos, a combinação entre a redução nos custos de produção e a expectativa de melhora nos preços traz um ciclo mais otimista para o grão.
Só no Rio Grande do Sul, principal Estado produtor, a projeção é de um aumento de 12,1% na área cultivada. Além disso, a Conab aponta como fatores de incentivo a tendência de condições climáticas mais favoráveis para a cultura e a maior concentração da produção de arroz em produtores maiores e mais capitalizados.
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A demanda aquecida do mercado internacional por arroz brasileiro deve, segundo a Conab, resultar na expansão das exportações. Já as importações devem se manter na casa de 1,4 milhão de toneladas em razão da perspectiva de melhores preços ao produtor.
A companhia ainda projeta tendência de alta constante nos preços até meados de 2024. Com isso, a perspectiva é de recomposição da rentabilidade do produtor, o que é apontado como fundamental para a retomada das áreas de arroz no país.
A projeção é de uma leve recuperação na área plantada diante do cenário de preços mais moderados da soja, que se tornou uma opção para muitos produtores de olho em maior rentabilidade. Mas esse incremento não deve ser revertido em maior produção, sobretudo em razão da probabilidade de El Niño, o que deve reduzir as chuvas no Nordeste e trazer risco de excesso de precipitações no Sul durante as colheitas.
A 1ª safra de feijão, segundo a Conab, deverá contar com uma área plantada um pouco superior à da anterior. Entre os motivos, está a expectativa de melhor rentabilidade frente às culturas concorrentes soja e milho, o retorno mais rápido do investimento devido ao ciclo
mais curto da cultura e os preços atrativos no primeiro quadrimestre do ano.
A companhia estima que o preço médio da saca até junho de 2024, considerando um “cenário neutro”, deve ser de R$ 276,71 para o feijão cores em Goiás e de R$ 232,57 para o feijão preto no Paraná.
A perspectiva é de produção menor devido à grande probabilidade de El Niño, trazendo condições climáticas desfavoráveis para a cultura. Por outro lado, há expectativa de crescimento da indústria têxtil, aumento nas exportações e maior movimento na economia interna, tendo em vista a redução prevista na taxa de juros.
Apesar da queda nos preços do algodão, o dólar alto e o crescimento da demanda global por produtos com qualidade superior estimulam a produção. Além disso, a redução na produção nos Estados Unidos pode surtir um efeito positivo nos preços do produto brasileiro e no seu avanço no mercado internacional.
Tendo em vista um cenário de recuo nos custos de produção após a alta verificada na pandemia, a Conab prevê que o preço tende a voltar a subir a partir de outubro deste ano, à medida que a safra vai chegando ao fim. Assim, a expectativa é de que o valor real médio comercializado em 2024 fique em patamar mais alto do que o observado em 2023.
A previsão da Conab é que a tendência de baixa de preço da carne bovina siga até o fim deste ano diante da maior oferta de animais para abate. Por outro lado, a companhia prevê uma estabilidade nos abates em 2024, após um período considerável de retenção de fêmeas motivado pelos altos preços dos bezerros.
A expectativa é de um cenário de queda nas cotações nacionais do boi gordo de agosto de 2023 a julho de 2024 – a média paga ao produtor é calculada em R$ 255 pela arroba, uma redução de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
No mercado internacional, apesar da retração nas vendas em 2023, o Brasil deve fechar o ano como o principal exportador de carne bovina, com mais que o dobro da Índia (2º lugar). Para 2024, a expectativa é de aumento nos negócios, tendo em vista que a carne bovina brasileira tem competitividade de preço comparada a grandes países exportadores.
A Conab ainda elenca como um fator de risco para o setor a possibilidade de novos embargos internacionais da carne bovina, sobretudo da China, como ocorreu no primeiro trimestre deste ano, com impacto direto nas vendas externas.
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O avanço dos casos de gripe aviária em todo o mundo tem favorecido o Brasil no mercado internacional, já que não houve, até então, casos de contaminação em granjas comerciais no país. Além disso, as recentes quedas no preço do milho – principal insumo nos custos da produção da carne de frango – trouxeram alívio à rentabilidade. O resultado disso é que os atuais níveis de alojamentos de pintos estão em patamares recordes.
A maior demanda pela carne de frango, interna e externamente, sobretudo por ser uma proteína mais acessível ao consumidor, também reforça a perspectiva otimista. Neste ano, as exportações devem superar pela primeira vez a marca das 5 milhões de toneladas. Para 2024, a projeção da Conab é de um novo crescimento: 3,6%.
Por outro lado, a companhia elenca dois fatores de risco para o próximo ano: a possibilidade de casos de gripe aviária e problemas climáticos na segunda safra de milho, o que aumentaria o custo da alimentação animal. Quanto aos preços do frango vivo pago ao produtor, a expectativa é de estabilidade até meados de 2024, finalizando o semestre por volta de R$ 4,75 o quilo.
Apesar de a China – maior consumidor mundial da carne suína – estar recompondo seu plantel de porcos, o que pressiona os preços para baixo, o cenário atual de rentabilidade para o produtor é um pouco melhor do que no passado recente, principalmente por causa da redução no valor do milho, insumo essencial para o custo de produção.
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Essa queda nas despesas tende a incrementar os abates de suíno no Brasil – a projeção é chegar a 59,6 milhões de cabeças no próximo ano (+3,5% na comparação com 2023). Além disso, há previsão de alta no consumo interno tendo em vista a elevação recente nos preços da carne bovina e a preferência do consumidor por opções mais acessíveis.
Para o segundo semestre de 2023, a Conab projeta certa recuperação no preço do suíno vivo, em virtude da baixa na oferta de grãos, cenário que deverá se reverter em 2024 com a entrada da primeira safra de milho. Na região sul, a estimativa é de um valor de R$ 6,50 pelo quilo no fim de 2023, chegando a R$ 6,11 em meados de 2024.