Donald Trump: presidente afirmou que o governo usará a receita das tarifas para financiar a ajuda aos agricultores
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 10h57.
O pacote de ajuda do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos agricultores americanos afetados pelo aumento de tarifas pode chegar a US$ 15 bilhões, informou a Reuters nesta terça-feira, 7, citando fontes a par do assunto.
O plano, no entanto, enfrenta dificuldades para ser implementado, já que o governo Trump segue em shutdown pela falta de consenso sobre o orçamento na Câmara. Segundo as fontes, diz a Reuters, isso impede que o Congresso autorize pagamentos tão elevados, e as reservas governamentais atualmente disponíveis são insuficientes.
Na quinta-feira passada, 2, Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, sinalizou que o governo deve anunciar medidas de apoio aos agricultores nesta terça-feira.
“Na terça-feira, vocês verão um apoio substancial aos agricultores, e também trabalharemos com o Farm Credit Bureau para garantir que eles tenham o que precisam para o próximo planejamento”, disse Bessent.
Deputados republicanos alertaram que os agricultores enfrentarão uma “calamidade financeira” caso não recebam ajuda até o final do ano.
O diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, afirmou na segunda-feira,6, que a Casa Branca realizou diversas reuniões sobre a ajuda aos agricultores nas últimas duas semanas.
“Estamos tomando grandes medidas, e elas serão anunciadas muito, muito em breve”, disse Hassett em entrevista à CNBC.
Trump afirmou que o governo usará a receita das tarifas para financiar a ajuda aos agricultores. No entanto, os pagamentos diretos têm um limite legal de US$ 350 milhões e só podem ser ajustados pelo Congresso, que permanece paralisado.
O aceno do presidente americano ao agro dos EUA ocorre em um momento no qual os produtores locais reclamam de perdas bilionárias em função da interrupção das exportações de soja para a China, em razão da guerra tarifária em curso, liderada por Trump.
Com as negociações comerciais paralisadas entre os EUA e a China, Brasil e Argentina têm preenchido essa lacuna.
Os importadores chineses já reservaram cerca de 7,4 milhões de toneladas de soja, principalmente da América do Sul, para embarques em outubro, cobrindo 95% da demanda projetada para o mês, além de 1 milhão de toneladas para novembro, o que corresponde a cerca de 15% das importações esperadas.
No mesmo período do ano passado, compradores chineses haviam reservado entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de soja dos EUA para embarques entre setembro e novembro. Normalmente, a China realiza essas compras com antecedência para garantir preços mais competitivos.
Durante a campanha presidencial, Trump prometeu à Federação Americana de Bureau de Agricultura (AFBF, na sigla em inglês) — a principal organização que representa agricultores, pecuaristas e comunidades rurais nos EUA, com presença em mais de 2.800 condados — que lutaria contra barreiras comerciais que considera "injustas".
Inclusive, nos estados do Meio-Oeste dos EUA, como Iowa — maior produtor de milho norte-americano —, Dakota do Sul e Dakota do Norte, grandes produtores de trigo, e Kansas, que se destaca na produção de trigo e gado, Trump saiu vitorioso. A exceção, entretanto, foi Illinois, segundo maior produtor de milho e principal de soja, onde a democrata Kamala Harris venceu.
A paralisação do governo dos Estados Unidos deve interromper a divulgação do relatório mensal de oferta e demanda (Wasde) do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), previsto para quinta-feira, 9.
O próprio USDA anunciou que o documento está suspenso "devido a uma interrupção no financiamento governamental". Esse relatório é um importante termômetro para os preços da soja e do milho na Bolsa de Chicago (CBOT).
Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, no governo de Donald Trump, a paralisação também suspendeu a divulgação de relatórios sobre a colheita e a situação da safra americana.
Na semana passada, Brooke Rollins, secretária de Agricultura dos EUA, disse estar "totalmente preparada" para a paralisação.
Além disso, funcionários do USDA não receberão salários e estarão proibidos de realizar suas funções até o fim da paralisação. Detalhes exatos sobre como o USDA planeja lidar com a situação ainda não foram divulgados. Ao todo, o USDA licenciará 42.256 funcionários, de um total de 85.907.