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Os planos de R$ 270 milhões da Schmidt Agrícola para expandir o cacau no oeste da Bahia

Investimento visa explorar o alto valor agregado do cacau e atender à crescente demanda global, disse à Exame, Moisés Schmidt, diretor de relações institucionais da empresa

 (Divulgação)

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César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 19 de outubro de 2024 às 06h16.

Última atualização em 21 de outubro de 2024 às 14h48.

É em Ilhéus, no litoral sul da Bahia, que se concentra a maior parte da produção de cacau do estado. No ano passado, a Bahia alcançou uma produção de 139.011 toneladas de amêndoas de cacau, um aumento de cerca de 860 toneladas em relação ao ano anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No entanto, se depender da Schmidt Agrícola, empresa agropecuária do oeste baiano – nos municípios de Barreiras e Luis Eduardo Magalhães – esse cenário pode mudar nos próximos anos.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Moisés Schmidt, diretor de relações institucionais da empresa, revelou que a companhia investirá R$ 270 milhões para expandir a cultura do cacau na região, conhecida por ser um dos principais polos de algodão do Brasil.

A Bahia é um dos maiores estados produtores de cacau do país, ao lado do Pará. Juntos, esses dois estados representam 95% da produção nacional.

Segundo Schmidt, o investimento visa explorar o alto valor agregado do cacau e atender à crescente demanda global. "Essa escolha foi facilitada pelo conhecimento agronômico já existente na região sobre a cultura da banana", afirmou o diretor.

A produção de banana é uma prática comum entre os cultivos de cacau, uma vez que o cacaueiro é uma planta que demanda alto teor de potássio. As folhas da bananeira, ao se sobreporem, contribuem para a irrigação e adubação natural do solo, ao reter água e liberar potássio, beneficiando assim o crescimento do cacau.

A aposta na cultura do cacau não é novidade para a Schmidt Agrícola. Desde 2018, a empresa tem ampliado seu portfólio de produtos como parte de uma estratégia de diversificação de negócios — além de cacau, a empresa produz algodão, soja, milho e frutas.

Globalmente, os principais produtores de cacau, Costa do Marfim e Gana, têm enfrentado grandes desafios devido a questões climáticas, e o Brasil não está imune a esses problemas. No primeiro semestre de 2024, as exportações de cacau brasileiro caíram 35%, totalizando 97 toneladas, segundo dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

Além disso, os embarques de derivados de cacau, como chocolate, manteiga de cacau e cacau em pó, permaneceram praticamente estáveis, passando de 24,7 mil toneladas para 22,6 mil toneladas.

Diante desse cenário, Schmidt revelou que a empresa está desenvolvendo um segundo projeto, que pode quadruplicar o investimento, chegando a R$ 1 bilhão. O governo estadual e federal têm oferecido apoio, facilitando liberações ambientais e burocráticas essenciais para o avanço do cultivo.

Para este segundo projeto, o diretor afirmou que tem conversado com os governos da região do Matopiba, que envolve, além da Bahia, os estados do Maranhão, Tocantins e Piauí, para levar o cacau.

"O governo do Pará também está em contato com a gente a respeito. Além disso, tanto o ministro da Agricultura, (Carlos Fávaro), quanto o governo federal, incluindo o próprio presidente, têm manifestado apoio à nova cacauicultura", diz o diretor.

Embora os detalhes financeiros do último ano ainda não tenham sido divulgados, o representante da empresa mencionou um crescimento anual entre 20% e 25%. Atualmente, a área plantada de cacau na região oeste da Bahia abrange cerca de 600 hectares, mas a meta é ampliar esse espaço para 10 a 15 mil hectares nos próximos 8 a 10 anos.

"Estamos obtendo grande sucesso, tanto na produção agronômica quanto na visão social e trabalhista relacionada ao cultivo. Vejo o cacau com muito otimismo, assim como enxergamos o algodão há 25 anos. Sinto que estamos em um momento promissor em relação a essa fruta",afirma Schmidt.

Sucessão familiar no agro

Se toda empresa tem um "mito fundador", aquela história passada de geração em geração sobre como se consolidou ao longo dos anos, na Schmidt Agrícola não é diferente. Segundo o diretor de relações institucionais, a trajetória da família é semelhante à de muitas outras que se mudaram de "mala e cuia" em busca de novas oportunidades.

A história da Schmidt Agrícola começou em 1979, com a chegada do patriarca Paulo Ambrósio Schmidt e sua esposa Helena ao oeste da Bahia, onde iniciaram as atividades agrícolas cultivando arroz e soja.

Nos anos 1980, Paulo introduziu o plantio direto, uma técnica inovadora para a época que ajudava a preservar a qualidade do solo. Três anos depois, a empresa fez um investimento ousado na construção de uma estrutura de armazenagem de grãos com capacidade para 12 mil toneladas.

A diversificação das culturas começou em 1994, com a introdução do milho, e em 1999 a empresa expandiu para o cultivo de algodão. O grande marco veio em 2010, com a formalização do condomínio entre os quatro irmãos, que atualmente gerenciam diferentes áreas da empresa.

Segundo o diretor, a terceira geração, que será responsável por dar continuidade à empresa, já está sendo preparada. "Vale lembrar que são jovens que ainda estão na escola, alguns já ingressando na faculdade. Eles também participam do conselho familiar, criado especificamente para essa transição", destaca Schmidt.

Atualmente, a empresa administra 25.400 hectares, distribuídos entre propriedades próprias, arrendadas e áreas de reserva legal.

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