Trator da Valtra no Brasil: país é um dos principais mercados para companhia do grupo AGCO (GRUPO AGCO/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 10 de novembro de 2025 às 15h09.
Última atualização em 10 de novembro de 2025 às 15h12.
Hannover (Alemanha)* Máquinas automatizadas, inteligência artificial e soluções personalizadas para o produtor rural são as principais estratégias da Valtra, marca de máquinas agrícolas do grupo AGCO, para atingir US$ 2 bilhões em receita até 2029, afirmou Eric Hansotia, CEO global do conglomerado.
O executivo se mostra otimista e acredita que o mercado de máquinas agrícolas, embora atualmente afetado pela volatilidade econômica global, deve retomar o crescimento no longo prazo.
“A Valtra é uma das empresas que mais têm se destacado neste ano dentro do grupo. A previsão é de que a marca fature US$ 900 milhões em 2025. Cada agricultor é diferente, cada cliente tem suas próprias necessidades”, disse Hansotia, em coletiva durante a Agritechnica, a maior feira de máquinas agrícolas do mundo.
O otimismo do CEO contrasta com o desempenho recente do grupo AGCO. Na semana passada, a companhia reportou queda de 4,7% nas vendas do terceiro trimestre de 2025, em relação ao mesmo período de 2024, totalizando US$ 2,5 bilhões.
“Projetamos uma margem operacional de 7,5% para o ano e estamos confiantes de que alcançaremos esse resultado. A partir daqui, esperamos uma recuperação gradual do mercado global”, disse Hansotia.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o setor de máquinas agrícolas deve crescer 3,4% em 2026 no Brasil — um dos principais mercados da Valtra no setor de cana-de-açúcar, ao lado da Europa e da América do Norte.
A história da Valtra AGCO remonta à criação da estatal finlandesa Valmet, em 1951. A empresa foi privatizada em 1990, quando a marca passou a se chamar Valtra-Valmet e, posteriormente, apenas Valtra, sendo adquirida pelo grupo AGCO em 2004.
Mikko Lehikoinen, CEO da Valtra, não revela quanto a marca representa no faturamento total do grupo, mas, segundo ele, o crescimento da Valtra ocorre porque “os clientes enxergam valor”.
“Somos a menor marca do grupo AGCO, mas ainda assim uma marca global — e estamos crescendo rapidamente. Quando combinamos facilidade de uso com customização, criamos uma marca muito atraente. Os clientes gostam da forma como trabalhamos”, afirma
Além da Valtra, o conglomerado reúne as marcas Massey Ferguson, Fendt e PTx, sendo esta última o braço de tecnologia do grupo. Em 2023, o AGCO adquiriu 85% da divisão agro da Trimble, empresa de tecnologia que atua nos setores de automação e telemetria. A partir dessa operação, nasceu a joint venture PTx.
Nos últimos cinco anos, o grupo AGCO investiu mais de 500 milhões de euros (equivalentes a R$ 1,2 bilhão, na cotação atual) na fábrica da Valtra, na Finlândia, em novas tecnologias e expansão de capacidade produtiva, afirmou o executivo.
Uma das principais apostas da Valtra é a automatização de máquinas agrícolas. Segundo executivos da marca, diante da dificuldade em encontrar mão de obra qualificada no campo, investir em automação tem se tornado uma das soluções mais viáveis para o setor.
A proposta é utilizar toda a tecnologia desenvolvida pela PTx para automatizar tanto os equipamentos quanto os tratores da Valtra. Apenas na PTx, foram investidos US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) neste ano para o desenvolvimento de projetos de automação e inteligência artificial.
“A visão da empresa é desenvolver soluções de agricultura inteligente, criando máquinas equipadas com sensores e inteligência embarcada, capazes de reagir às condições do solo e das plantas”, afirma Torsten Dehner, vice-presidente sênior e gerente-geral da Fendt/Valtra.
Outra frente de inovação é o uso de inteligência artificial aplicada ao campo. Durante a Agritechnica, neste ano, a Valtra apresentou o Talking Tractor (“trator falante”), o primeiro modelo da marca capaz de interpretar telemetria — tecnologia de coleta e transmissão remota de dados — e registros de trabalho, transformando-os em informações para o operador.
A personalização também é uma das estratégias de crescimento da empresa. De acordo com Mikko Lehikoinen, CEO da Valtra, a companhia oferece 'alto nível de customização', uma vez que, cada trator pode ser configurado conforme as preferências do cliente — da cor às especificações técnicas.
“A Valtra é líder mundial em personalização em larga escala, o que representa um grande diferencial competitivo. Quando combinamos facilidade de uso com customização, criamos uma marca altamente atraente”, diz Lehikoinen.
* O repórter viajou a convite do grupo AGCO.