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OPINIÃO Se as revendas atuam como bancos, elas têm de se “fintechizar”

Em artigo, Fabricio Pezente, CEO da Traive, trata da transformação digital das revendas de insumos para o agronegócio precisarão sofrer. E novas tecnologias podem ajudar nesse processo

Pulverização com fertilizantes no campo (Getty Image/Getty Images)

Pulverização com fertilizantes no campo (Getty Image/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 22 de abril de 2022 às 11h00.

Última atualização em 22 de abril de 2022 às 15h19.

Por Fabricio Pezente

Em todo o mundo, os bancos demoraram para entender o impacto das inovações que estavam sendo criadas pelas fintechs. Muitas das suas ações se concentraram em minar as vantagens competitivas das startups, especialmente as regulatórias, em vez de buscarem entender o real diagnóstico do problema.

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Poucas instituições bancárias perceberam com rapidez a mudança do vento soprando a favor da tecnologia, diagnosticaram como uma guerra de recursos financeiros onde eles seriam obviamente os vencedores e decidiram desenvolver tudo dentro de casa. Pode-se afirmar: novo erro.

Fazendo justiça aos bancos, é realmente difícil ver a mudança quando você está no centro dela e tudo é novidade. Bom, hoje já não é mais.

Lá se vão mais de 20 anos (muitos citam a PayPal como a primeira fintech, fundada em 1998). E podemos dizer que continuamos vendo o setor financeiro sendo fortemente impactado pela audácia de muitos empreendedores e de bastante capital fluindo dos investidores de venture. Nada disto é mais novidade.

Não faltam exemplos em várias aplicações, vários países, vários setores, muitos e muitos casos disponíveis para comparação e análise. É aqui que vale a pena uma reflexão a respeito do setor financeiro na agricultura brasileira.

Como principais financiadores do setor, como detentores do relacionamento, da compreensão e da informação financeira e produtiva dos produtores agrícolas, e como concentradores de risco de crédito, logístico e do preço do produto final, as revendas no Brasil muito se assemelham aos bancos comerciais agrícolas dos Estados Unidos.

As principais diferenças são largamente negativas para elas: não possuem depósito e, consequentemente, custo baixo de captação; não desenvolveram sistemas sofisticados de controle de risco; não contam com a ajuda do governo; e não possuem margens largas de retorno.

Em sua vasta maioria, as revendas se tornaram agentes financeiros por necessidade e não por vontade. Afinal, num setor onde os bancos nunca deram muita importância, alguém precisava financiar quase 1/3 do PIB brasileiro.

Com isto, temos um cenário onde “bancos” atuam sobre uma base tecnológica ultrapassada, atendendo um setor extremamente estável e pujante, numa economia com instituições fortes e cada vez mais pronta para receber inovação. Forte interesse de investidores por consolidação de competidores.

Volte no tempo e note que já vimos isso antes: “A história nunca se repete, mas frequentemente rima”, como lembra a célebre frase cunhada pelo escritor americano Mark Twain.

Talvez a única vantagem de não ser um país na vanguarda da inovação é poder aprender com as experiências dos outros. E temos aqui a oportunidade perfeita para o canal de distribuição de produtos agropecuários perceber isto e não repetir os erros dos bancos.

A transformação digital das revendas é uma necessidade de sobrevivência. Ela já está acontecendo com o crescente número de soluções pontuais, sendo oferecidas nos últimos cinco anos. Foram desenvolvidas várias inovações incrementais que buscam auxiliar em processos manuais e integrar ferramentas para melhoria operacional. Sem dúvida este é o ponto esperado de partida, mas é necessário olhar além e buscar também a inovação disruptiva, aquela que endereça o câncer e não a farpa no dedo.

"A única vantagem de não ser um país na vanguarda da inovação é poder aprender com as experiências dos outros."

Fabricio Pezente

A boa notícia é que algumas fintechs nasceram exatamente com este propósito. Oferecer um rol de soluções que busca auxiliar na transformação digital efetiva das revendas, como o uso da inteligência de dados para tomada de decisão, geração de dados únicos junto ao produtor, integração da cadeia, do produtor ao mercado de capitais, como fator de aumento de vendas e expansão. E, finalmente, novos produtos financeiros que vão além do crédito, uma “fintechização” completa e efetiva.

Não faz sentido atacá-las ou vê-las como competidoras (talvez algumas poucas, mas isto é pauta de outro artigo). E muito menos tentar desenvolver dentro de casa, aos moldes do que fizeram as instituições financeiras no passado.

Curiosamente, talvez o melhor modelo de inspiração para as revendas esteja exatamente nos seus clientes: os produtores rurais brasileiros, que são referências mundiais em uso de tecnologia no campo, “dentro da porteira”, extremamente preocupados em estarem à frente do tempo, e consumidores ávidos por novas soluções. Diferenciados. É o momento de fazer o mesmo: se tornar referência e olhar para “dentro do balcão”.

Fabricio Pezente é CEO e co-fundador da startup Traive, plataforma que atua como marketplace de crédito para o agronegócio 

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