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Fazenda de laranjas: aumentar a produtividade virou obrigação (Lau Paulinésio/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 3 de dezembro de 2024 às 06h10.
Última atualização em 3 de dezembro de 2024 às 14h28.
*Por Claudia Baggio, Paulo de Tarso e Adilson Martins
A participação de mulheres e jovens no agronegócio tem crescido nos últimos anos, trazendo mudanças significativas e ajudando a moldar um futuro mais inovador e sustentável para o setor.
Entretanto, obstáculos estruturais e culturais continuam limitando o potencial desses grupos, que já demonstram capacidade de liderar transformações.
O agronegócio atrai mulheres que enxergam nele um mercado promissor e essencial para a sociedade. Ainda assim, há uma longa jornada a ser percorrida, segundo o estudo Mulheres no Agronegócio, da Deloitte.
A pesquisa revela que, apesar de buscar robusta formação profissional, as mulheres ainda têm sua capacidade intelectual questionada no trabalho. Entre as profissionais pesquisadas, essa realidade é percebida por 75% das mulheres entre 18 e 30 anos, e por 37% entre as que têm mais de 31 anos.
Quando se leva em consideração o dia a dia, parte das mulheres entrevistadas aponta as diferenças de tratamento em comparação com os homens que podem representar entraves para a condução das atividades do trabalho: 30% notam mais dificuldade no acesso ao crédito, entre as quais 4% acreditam não obter as mesmas condições oferecidas para homens na mesma posição.
No que se refere à assistência técnica, 27% notam diferença, sendo que 16% relatam sucesso no pedido após muita insistência, e 11% somente após indicação de um homem.
O papel transformador das novas gerações A Deloitte também concluiu a pesquisa Jovens no Agronegócio.
Ela revela avanços pontuais na inclusão de jovens, especialmente por conta da relação com as novas tecnologias e das parcerias com stakeholders do ecossistema de inovação. De todo modo, as barreiras geracionais e culturais também se fazem presentes.
O aumento mais expressivo de jovens no agronegócio, 5,9%, ocorreu na Região Centro-Oeste, entre 2015 e 2020. Em relação aos rendimentos financeiros médios, o maior crescimento foi de 20%, na Região Sul, considerando o mesmo período.
Muitos jovens enfrentam dificuldades para ter suas opiniões consideradas. Cerca de 36% relatam que suas ideias não são avaliadas e 27% acreditam que são vistas como arriscadas.
Apesar disso, os jovens têm liderado iniciativas inovadoras, conectando o agro a agritechs, universidades e instituições de pesquisa.
A pesquisa mostra que 77% dos jovens priorizam a integração tecnológica para aumentar a produtividade e que 89% se consideram mais comprometidos com questões ambientais do que gerações anteriores. Esses dados reforçam o papel crucial das novas gerações no avanço de práticas sustentáveis no campo.
Mulheres e jovens vêm se destacando em áreas que combinam tecnologia e sustentabilidade, como agricultura de precisão, biotecnologia e práticas de produção sustentável.
Esses grupos também lideram iniciativas empreendedoras, aproveitando oportunidades de financiamento e apoio governamental ou de ONGs para desenvolver negócios transformadores.
Startups agrícolas e propriedades rurais inovadoras são exemplos do impacto que essas iniciativas têm no setor. Porém, barreiras como acesso a recursos financeiros e à propriedade de terras ainda dificultam o crescimento e a consolidação desses empreendimentos.
A criação de redes de apoio específicas para mulheres e jovens tem desempenhado um papel importante na superação de desafios. Essas redes oferecem acesso a mentoria, informações e recursos, promovendo a inclusão e o desenvolvimento sustentável no setor.
Para maximizar o impacto dessas iniciativas é essencial continuar investindo em políticas públicas e programas de capacitação que ajudem a derrubar barreiras culturais e estruturais.
Com a previsão de crescimento de 17% na produção agrícola brasileira até 2030, o agronegócio apresenta um futuro promissor. Para mulheres, ele se mostra um mercado com necessidade crescente de valorização de sua contribuição. Para os jovens, carece de oportunidades de protagonismo em um setor essencial para a sociedade.
Embora o caminho ainda seja desafiador, a presença desses grupos já está transformando o agro. Com inovação, diversidade e sustentabilidade, mulheres e jovens representam o motor de um setor cada vez mais alinhado às demandas do mundo contemporâneo.
* Claudia Baggio é sócia-líder da prática de Real Estate e membro do Board da Deloitte Brasil.
*Paulo de Tarso é sócio-líder de Consumer da Deloitte e Adilson Martins é sócio-líder de Agronegócio da Deloitte.