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Comércio atacadista de adubos e fertilizantes (Andrey Rudakov/Bloomberg/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2022 às 18h47.
A situação no leste europeu tem afetado diretamente o agronegócio. Um momento de incertezas e imprevisibilidade para a economia global. Os desdobramentos da disputa entre Rússia e Ucrânia devem se arrastar, o que aumenta as dúvidas do agronegócio com relação ao abastecimento de fertilizantes. Um quadro de indeterminações que se intensificaram à medida que os combates avançaram sobre as áreas portuárias, a guerra não tem um final visível, por ora.
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A Rússia ampliou seus negócios com o Brasil em 2021. De acordo com dados do Ministério da Economia, atingiu US$5,7 bilhões, isto é, US$3 bilhões a mais do que em 2020. Desse montante, os fertilizantes representam 62%, de acordo com os dados da balança comercial. Portanto, é um parceiro fundamental para negócios agrícolas do país, que tem uma dependência das importações para atender a demanda interna.
O preço dos fertilizantes pesa no custo operacional das lavouras. Durante a pandemia, o valor do frete internacional fez os preços subirem. Com o cenário de guerra, as operações logísticas ficaram ainda mais caras, refletindo no valor final do produto, que também se tornou escasso. A elevação recente dos preços tem sido notada diante da dinâmica internacional em manter o fornecimento aos países compradores.
Como o fertilizante comercializado no país é 80% importado, a situação complicou-se com o estender da guerra. Entregas de fertilizantes se prolongam, prazos não são cumpridos, exportadores dos países envolvidos no conflito encontram severas dificuldades por conta de sanções; com isso, distribuidores e produtores mergulham em um cenário de custos progressivamente crescentes e escassez. Somado a isso, a retomada dos lockdowns na China desestruturou a logística internacional, trazendo mais instabilidade ao abastecimento de países que contam com as importações de insumos.
Finalmente, produtores e distribuidores que ainda não adquiriram fertilizantes no final de 2021 ou início de 2022 pela expectativa de preços menores, ainda hoje tentam postergar a compra a fim de encontrar condições melhores.
Diversos produtores estão também aguardando uma melhor relação de troca para adquirir fertilizantes para a safra verão; porém, como a relação de troca para a safrinha de 2023 está similar àquela da safrinha de 2022, já há muitos negócios de fertilizantes fechados para a próxima safrinha.
Esses insumos foram precificados com base no fertilizante já disponível no Brasil; isto é, a antecipação de negócios de safrinha 2023 reduz a quantidade de fertilizante disponível para a safra verão. À medida que nos aproximamos da janela de plantio e a escassez do produto aumenta, cabe aos produtores hoje colocar na ponta do lápis o comparativo entre o custo atualmente elevado do fertilizante, contra o risco da aplicação insuficiente na lavoura. Vivemos excelentes safras nos últimos anos; porém, neste momento, agilidade, astúcia e precaução são necessárias para ter adubo na hora certa.
A compra do fertilizante, como para diversos insumos na agricultura, depende de crédito. Porém, o paralelo encarecimento dos fertilizantes somado à manutenção dos limites de crédito em indústrias e bancos significa que o produtor precisa de mais fontes de financiamento. Diante do cenário, buscar crédito alternativo em financiadores diferentes dos convencionalmente acessados é um dos caminhos possíveis para distribuidores e produtores - e um daqueles que ajudará a agricultura a atravessar esse inverno.
Bernardo Fabiani é especialista em concessão de crédito para o agronegócio e CEO da startup TerraMagna, considerada uma das maiores fintechs voltadas ao agronegócio na América Latina.