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O que é barter? Entenda a comercialização com pagamento em sacas de soja

Na Agrishow, multinacional Bayer propõe que relação de troca considere produtividade calculada por inteligência artificial, em vez de números da Conab

Bayer lança barter atrelado a dados da FieldView em vez de produtividade calculada pela Conab (Boa Safra/Exame)

Bayer lança barter atrelado a dados da FieldView em vez de produtividade calculada pela Conab (Boa Safra/Exame)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 1 de maio de 2023 às 07h40.

Muito comum nas transações dentro da porteira, o barter é uma relação de troca em que o produtor rural adquire sementes, fertilizantes, agroquímicos, entre outros insumos, sob a condição de pagá-los ao fim da safra. O preço é calculado mediante a previsão de produtividade da área e pago em sacas de determinado produto após a colheita. A soja costuma ser a cultura em que mais é praticada esta negociação, mas ela também é feita para milho, algodão, café, citrus e outras cadeias.

Na prática, o agricultor que deseja usar um adubo para a fase de plantio consegue garantir este abastecimento com a empresa fornecedora e só pagá-lo depois da conclusão da safra, quando a produtividade final é contabilizada. Ele pode escolher entre travar o preço com base na cotação gerada no momento do contrato, ou condicionar o pagamento à flutuação da taxa de câmbio.

Num cenário hipotético, se determinado insumo custar R$ 1.300, em São Paulo, e a cotação da saca de soja para a região estiver R$ 133 no momento do contrato com índice pré-fixado, o empresário rural irá se programar para pagar este crédito por meio de 10 sacas de soja no pós-colheita.

Para que as operações sejam formalizadas, o produtor se compromete a entregar a quantidade combinada como pagamento e a operação é registrada na Cédula de Produto Rural (CPR), um dos documentos solicitados para a transação via barter.

Leia também: Rastreabilidade da carne: por que esse assunto deveria interessar à sociedade

Volatilidade de preços e clima

Feiras agrícolas, como a Agrishow, são ocasiões para conferir o termômetro das contratações de barter. Nos últimos anos, os produtores pareciam mais seguros em travar os preços para não ficarem suscetíveis à volatilidade, ainda que isso significasse uma margem mais apertada entre o insumo dolarizado e a saca paga em Reais.

A questão é que a volatilidade não está apenas no câmbio, mas também no clima. Com secas severas e chuvas irregulares, prometer determinado volume de grãos tem sido cada vez mais uma roleta-russa.

Utilizar inteligência artificial a fim de entender o solo, o desenvolvimento da planta, a absorção de água, a presença de pragas e doenças, entre outras características, tem sido um caminho para traçar uma produtividade mais precisa. Isto é, dados podem se tornar mais dinheiro no bolso do produtor.

O norteador que prevê a produtividade para lastro dos contratos, até então, costumava ser a estimativa regional feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas a multinacional de insumos agrícolas Bayer pretende mudar este cenário.

De olho na safra 2023/2024

A companhia alemã quer atrelar a contratação de barter com a tecnologia FieldView, cujo software acoplado em tratores e outros dispositivos consegue monitorar o clima, fazer leituras do talhão e, em tempo real, estimar o volume a ser colhido. O produto financeiro chamado ‘Barter+ powered by Fieldview’ será anunciado na Agrishow e disponibilizado para a safra 2023/2024.

Leia também: Agricultura e Meio Ambiente reformulam Plano Safra para agricultura de baixo carbono

Com o argumento de personalizar os contratos de barter, a Bayer propõe que o produtor feche a negociação a partir da produtividade calculada com os dados coletados pela FieldView, e não pela Conab.

“O produtor poderá realizar transações com base em sua produtividade real, deixando de usar o cálculo da Conab como base. Nosso objetivo foi customizar produtos de acordo com as necessidades e níveis de produtividade de cada produtor rural, para que, no fim, eles possam obter um retorno financeiro equivalente ao que produzem”, afirma Carlos Branduliz, líder de commodities e finanças de clientes da divisão agrícola da Bayer.

O projeto piloto foi iniciado em 2022 apenas com clientes selecionados no Mato Grosso e na Bahia, cujas produções são de soja, milho e algodão. Sem abrir o número exato de produtores participantes neste período experimental, a companhia selecionou aqueles que já acompanham a performance da lavoura via FieldView Plus.

IA de Ribeirão Preto ao Centro-Oeste

Conforme colocado em prática, a intenção da Bayer é expandir o ‘novo barter’ às regiões de atuação. Quem visitar a Agrishow, de 1 a 5 de maio, poderá conhecer mais sobre esta nova relação de troca que inclui dados gerados pela inteligência artificial. Vale lembrar que a feira, embora realizada em Ribeirão Preto (SP), atrai muitos empresários rurais da região Centro-Oeste, maior produtora de commodities do País.

Leia também: Agrishow: Maior feira agrícola da América Latina começa nesta segunda

Do ponto de vista legal, Branduliz afirma que contratar uma operação de barter com base nos números do FiedlView não altera em nada a emissão da CPR, pois o documento não exige lastro em índices de produtividade emitido por órgãos oficiais, a exemplo da Conab.

Segundo o executivo da Bayer, a contratação do Barter+ não interfere diretamente no rendimento financeiro da multinacional alemã. Indiretamente, a estratégia da empresa mira em mais contratações da plataforma FieldView em si.

“Nossa intenção com esta iniciativa é permitir que o agricultor veja valor no uso de tecnologias digitais para aumento de produtividade”, diz.

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