Alcides Carvalho: nascido em 1913, em Piracicaba, interior de São Paulo, Carvalho cresceu em uma fazenda de café, o que despertou seu interesse pela agronomia
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 27 de julho de 2025 às 06h05.
O Brasil é o maior produtor global de café. Na safra 2025/26, o país deve colher 55,7 milhões de sacas, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Na temporada 2024/25, a produção foi de 54,2 milhões de sacas, gerando US$ 15,7 bilhões (R$ 86,3 bilhões) em receita com exportações do grão.
Esse destaque na produção brasileira é resultado, em grande parte, do trabalho de Alcides Carvalho, geneticista especializado no melhoramento da planta de café.
Suas pesquisas foram essenciais para consolidar o Brasil como um dos maiores produtores de café do mundo.
Nascido em 1913, em Piracicaba, interior de São Paulo, Carvalho cresceu em uma fazenda de café, o que despertou seu interesse pela agronomia.
Formado em 1934, foi convidado no ano seguinte a trabalhar como pesquisador no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), onde se dedicaria às áreas de genética de café e milho.
O IAC estava nos seus estágios iniciais, com ênfase em pesquisa de citologia, genética, reprodução e evolução das variedades de plantas.
No instituto, Carvalho passou a colaborar no “Plano Geral de Estudos do Cafeeiro”, que visava estudar as populações dessa planta, seus mecanismos de reprodução, análises genéticas e citológicas, além de pesquisas relacionadas à fisiologia, química e tecnologia do produto.
Segundo a revista Ciência Hoje, praticamente todos os cultivares plantados atualmente no Brasil têm origem na Seção de Genética do IAC, onde Carvalho atuou como pesquisador-chefe de 1948 a 1981.
Durante esse período, ele foi responsável por desenvolver as principais variedades de café cultivadas no Brasil, além de contribuir para a formação de um dos bancos de variedades e espécies de café mais completos do mundo.
Ao longo de sua carreira, Carvalho dedicou 50 anos ao aprimoramento das variedades de café, resultando no desenvolvimento de mais de 60 novas variedades. Ele se orgulhava de seu trabalho com o café e reconhecia sua importância econômica para o estado de São Paulo.
"Tive a rara oportunidade de trabalhar com café a vida toda. Achei que era extremamente importante trabalhar com uma planta que trouxe tanta riqueza a São Paulo. Não tive uma vocação especial. Gostei da ideia, da planta, e continuei trabalhando", disse em entrevista em 1987.
Nessa mesma entrevista, ele lembrou como, em 1932/33, o Brasil enfrentava uma enorme quantidade de café estocado e não sabia como lidar com ele. Milhares de sacas eram queimadas e a cinza utilizada como adubo nas lavouras.
"Na época, falar em iniciar um trabalho de melhoramento para aumentar a produção parecia absurdo. Mas o Dr. Krug previu que, após a eliminação de muitos cafezais, o momento certo para implantar novas lavouras chegaria", afirmou.
Ao longo de sua trajetória, Alcides Carvalho recebeu diversos prêmios. Foi doutor honoris causa pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), recebeu o Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia em 1982 e foi reconhecido como "servidor emérito" pelo governo de São Paulo.
Publicou cerca de 250 artigos em revistas especializadas, coautoria de livros e produziu materiais didáticos para cursos de graduação e pós-graduação.
Aos 35 anos, tornou-se chefe da Seção de Genética do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), cargo que ocupou por 33 anos. Também se especializou em Genética Evolução e Citogenética em Nova York.
Uma das contribuições mais significativas de Carvalho foi sua pesquisa em parceria com o Centro de Investigação das Ferrugens dos Cafeeiros de Portugal.
Esses estudos foram fundamentais para preparar o Brasil para a ferrugem do café, que chegou ao país em 1970. Graças ao seu trabalho, a praga foi amenizada, protegendo a produção cafeeira nacional.
"Quando a ferrugem chegou, já sabíamos qual era o material que melhor resistia a ela, que fatores genéticos poderiam ser transferidos para os nossos cultivares e o que deveria ser feito dali por diante", disse Carvalho na época.
Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil abriga a maior cooperativa de café do mundo. Localizada no município de Guaxupé, em Minas Gerais, a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé) é a maior do setor.
Carvalho faleceu em abril de 1993.