EXAME Agro

O empresário que criou a maior cooperativa de café do mundo — e um negócio de R$ 10,5 bilhões

Fundada em 1932, a cooperativa nasceu do sonho de unir pequenos produtores de café e fortalecer o setor cafeeiro local

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 25 de março de 2025 às 06h02.

Última atualização em 25 de março de 2025 às 06h26.

A maior cooperativa de café do mundo está no Brasil. É no município de Guaxupé, no estado de Minas Gerais, onde fica a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé).

Em 2024, a Cooxupé atingiu um faturamento de R$ 10,5 bilhões, consolidando-se como uma das principais cooperativas do agronegócio brasileiro.

Fundada em 1932 por Isaac Ferreira Leite, a Cooxupé nasceu do sonho de unir pequenos produtores de café e fortalecer o setor cafeeiro local. Na época, o mercado de café era dominado por grandes fazendas, o que dificultava a competitividade dos pequenos produtores, que não conseguiam obter preços justos para sua produção.

A solução proposta por Leite foi a criação de uma cooperativa que oferecesse condições de comercialização mais vantajosas e serviços de apoio aos cafeicultores.

Inicialmente voltada para o crédito, a cooperativa se transformou em cooperativa de produção em 1957, marcando um importante marco na história do setor cafeeiro brasileiro.

"Isaac Ferreira Leite assumiu a presidência da cooperativa numa época em que Minas Gerais produzia pouco mais de 3 milhões de sacas de café, e os cafeicultores não tinham maquinário, armazéns ou orientações técnicas para valorizar o café que produziam", diz Carlos Augusto Rodrigues de Melo, atual presidente da Cooxupé e ex-colaborador de Leite.

Segundo Melo, a visão de Leite foi crucial para a criação de uma estrutura cooperativista robusta, que proporcionou acesso à tecnologia, conhecimento e financiamentos para os cafeicultores.

Com o tempo, a cooperativa passou a oferecer uma gama de serviços aos seus cooperados, como assistência técnica no campo, programas de treinamento e capacitação, além de melhorias na logística e no acesso ao mercado.

O movimento permitiu que pequenos e médios produtores se tornassem mais competitivos, tanto no mercado interno quanto no externo, contribuindo para que Minas Gerais se consolidasse como um dos maiores polos produtores de café do mundo.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de café no Brasil alcançou 54,2 milhões de sacas em 2024, sendo que Minas Gerais respondeu por 52% dessa produção. Dentro deste cenário, a Cooxupé desempenha um papel essencial, sendo responsável por uma fatia significativa dessa produção.

Além de seu papel como líder cooperativista, Leite também foi fundamental no desenvolvimento de uma cultura de qualidade no café brasileiro. Sob sua liderança, a Cooxupé se destacou na produção de cafés especiais, um nicho que, anos depois, ganharia ainda mais relevância no mercado internacional.

O café mineiro, especialmente o arábica, ganhou reconhecimento global, ajudando a consolidar o Brasil como maior produtor e exportador de café do mundo, posição que o país mantém até hoje.

Atualmente, o café que passa pela Cooxupé representa 14,4% da safra brasileira de café arábica e 20,2% da safra de café arábica de Minas Gerais. A cooperativa reúne mais de 20 mil famílias cooperadas em algumas das principais regiões produtoras de café, como o Sul de Minas, a Média Mogiana Paulista, o Cerrado Mineiro e as Matas de Minas.

Leite faleceu em 2006, presidiu a Cooxupé por 46 anos. Segundo o atual presidente da cooperativa, o empreendedor foi um homem a frente de seu tempo "e foi responsável por sua expansão nas regiões produtoras do país".

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