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Na COP28, o fim da fome no mundo ficou para depois

Claudia Ringler, diretora do International Food Policy Research Institute, diz que é preciso mais recursos financeiros para o Sul Global – menos no Brasil

Programas sociais devem ganhar escala para ajudar pessoas de zona rural a lidar de forma antecipada com os extremos climáticos (Ednubia Ghis/Fotos Públicas)

Programas sociais devem ganhar escala para ajudar pessoas de zona rural a lidar de forma antecipada com os extremos climáticos (Ednubia Ghis/Fotos Públicas)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 11 de dezembro de 2023 às 14h52.

Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 15h31.

Dubai, Emirados Árabes - A COP28 se encaminha para o final das discussões com um assunto ainda pouco aprofundado: o fim da fome no mundo. “Enquanto ainda tivermos pessoas passando fome, não podemos falar em avanços na agenda de justiça climática”, afirma Claudia Ringler, diretora de recursos naturais e resiliência do International Food Policy Research Institute.

O instituto é referência mundial nos estudos de políticas para o combate à insegurança alimentar. Com uma postura crítica sobre a ausência desta discussão na COP28 e nas edições anteriores, Ringler diz que há um risco iminente quanto ao clima para populações em áreas rurais – sobretudo mulheres dos países do Sul Global.

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Ao todo, 152 países assinaram a declaração dos Emirados Árabes sobre agricultura sustentável, lançado no segundo dia da COP28.

A promessa traz a agricultura e os sistemas alimentares para o centro das negociações climáticas, promete reduzir as emissões de gaes de efeito estufa da agricultura e visa proteger os agricultores dos efeitos das mudanças climáticas.

De acordo com Mariam Al Mheiri, ministra de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente dos Emirados Árabes, até o momento, foram mobilizados US$ 83 bilhões de investimento ao longo da COP28. Desse total, somente US$ 3,1 bilhões são destinados a sistemas alimentares.

“Vamos continuar elevando a quantia quando se trata de sistemas alimentares e agricultura. Agora é uma questão de implementação”, diz. Para isso, é preciso vontade política.

Ação antecipatória

Como solução, Claudia Ringler enxerga ser preciso fortalecer programas de proteção social para aqueles mais pobres, atingidos por extremos climáticos, como enchentes, secas severas e pragas nas lavouras.

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“É preciso fornecer recursos para que os agricultores possam, pelo menos, começar a economizar algum dinheiro. Quando um evento climático extremo os atingir, eles serão capazes de superar. É a chamada de ação antecipatória, em que o recurso deve ir principalmente para as mulheres”, afirma à EXAME.

O suporte financeiro mencionado por Ringler não se destina a remediar algum prejuízo, mas preparar as pessoas de zona rural para antecipar danos. Neste caso, ela ressalta a prioridade para as mulheres, por serem chefes de família em muitos países da América do Sul e da África.

Os estudos do instituto apontam que elas estão à frente da atividade agrícola em muitos países, porém são as menos contempladas pelo crédito rural. “Elas são produtoras, consumidoras, mas são as que menos são incluídas e beneficiadas com recursos”, diz.

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O caso do Brasil

Ela concorda que o sistema financeiro concentrado no Hemisfério Norte precisa alocar mais recursos no Sul. Mas não no Brasil.

“O Brasil não precisa de apoio, tem recursos suficientes. É um dos poucos países com um programa muito forte de pesquisa agropecuária. No Brasil, os recursos não são distribuídos igualmente, essa é a verdade. Temos de dar prioridade para outros países, como na África”, afirma a diretora do International Food Policy Research Institute.

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Ela elogia, como exemplo, o programa Bolsa Verde, do Ministério do Meio Ambiente. A iniciativa prevê pagamentos trimestrais de R$ 600 a famílias que vivem em Unidades de Conservação de Uso sustentável, assentamentos ambientalmente diferenciados da Reforma Agrária e comunidades tradicionais.

“O Brasil já tem isso, apoiando populações pobres, então precisa ganhar escala e direcionar mais recursos corretamente”, diz.

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