Colheita de oliveira nas fazendas da Lagar H, marca de zeite gaúcho, no Rio Grande do Sul (Carlos Ferrari/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 20 de abril de 2025 às 08h01.
Última atualização em 22 de abril de 2025 às 11h57.
É no Rio Grande do Sul que se concentra a produção brasileira de azeite, estimada em 193 mil litros em 2024, segundo dados da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação. Também no estado, mais especificamente em Cachoeira do Sul, está a Lagar H, marca gaúcha de azeite, que se prepara para uma expansão nacional após conquistar duas certificações.
Em fevereiro, a empresa gaúcha obteve a certificação no Sistema B, que reconhece empresas com alto desempenho social e ambiental, além do selo internacional LEED Gold, que avalia a sustentabilidade e a eficiência energética de construções e operações.
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Não foi a primeira vez que a marca de azeite gaúcho conquistou uma certificação desse calibre. Em 2023, a Lagar H recebeu o título de primeira empresa de azeites do mundo a demonstrar o status de carbono negativo. Isso significa que sua produção consegue capturar mais carbono da atmosfera do que emite
"O nosso lagar (espaço onde se produz azeite) minimiza as emissões, o que nos permite alcançar um balanço mais positivo entre o carbono sequestrado e as emissões geradas. Não são apenas as práticas agrícolas que fazem a diferença, mas também a abordagem sustentável aplicada na indústria", afirma Glenda Haas, azeitóloga e produtora responsável pela Lagar H.
Segundo a agricultora, o foco da empresa é tornar sua produção ainda mais sustentável por meio da implementação de práticas agrícolas que auxiliam na preservação do solo e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
No ano passado, o Rio Grande do Sul sofreu com chuvas e inundações, que arrasaram as lavouras de inúmeras culturas — e as oliveiras da Lagar H estavam entre elas.
Em 2024, a expectativa era de que o estado produzisse mais de 500 mil litros de azeite, mas um ciclone e o excesso de chuvas frustraram essa estimativa, resultando em uma produção 67% menor em comparação com 2023.
"Estamos realizando estudos em parceria com a Universidade de Pelotas e a Embrapa para entender como mitigar os efeitos de uma primavera mais chuvosa ou de um inverno com menos frio. Nossa meta é adaptar melhor a cultura e melhorar a produção, mesmo diante dessas variáveis climáticas", afirma Haas.
A projeção da empresa para 2026 é produzir entre 50 e 60 mil litros de azeite, volume ligeiramente superior ao de 2024.
Sem divulgar o faturamento e o crescimento do ano passado, a Lagar H planeja crescer 30% neste ano. Embora a empresa tenha um foco predominante em São Paulo, onde realiza 85% de suas vendas, ela busca expandir sua presença, especialmente nas capitais.
Para 2025, a marca gaúcha estuda entrar em novos centros urbanos e ampliar as parcerias com restaurantes, uma estratégia que já vem adotando na capital paulista. No estado de São Paulo, a Lagar H está presente em mais de 100 pontos de venda, principalmente em redes varejistas como San Marchê e Track and Field.
Nos restaurantes, a marca está presente nos pratos do Arturito, de Paola Carossella, e do Mani, de Helena Rizzo. Além disso, a Lagar H também comercializa seu azeite por meio de um e-commerce próprio.
Um dos maiores desafios da empresa é o preço do azeite e a concorrência com o produto importado, que domina o mercado brasileiro. Para este ano, a expectativa do mercado é de que os preços do azeite recuem por causa da menor safra da Espanha, principal produtora global do óleo.
Na safra 2023/24, a Espanha colheu 850 mil toneladas de azeitonas. Para a temporada 2024/25, a previsão é de uma colheita entre 1,4 milhão e 1,6 milhão de toneladas, segundo o Istituto di Servizi per il Mercato Agricolo Alimentare (ISMEA), com dados compilados pela Comissão Europeia.
Em 2024, os preços do azeite refletiram os impactos de uma seca severa que afetou as plantações de oliveiras na Espanha, Grécia e Portugal, três dos maiores produtores globais de azeite, nos últimos dois anos.
Em março deste ano, o governo federal isentou a taxa de importação de azeite, uma tentativa de baratear os preços dos alimentos, o que deve intensificar a concorrência com o azeite importado.
Apesar dessa medida, a agricultora ressalta que o azeite brasileiro tem seu valor. Segundo ela, a marca faz um esforço para promover o consumo do produto nacional por meio da educação do consumidor.
A estratégia, segundo Haas, é mostrar a importância de escolher marcas nacionais, que ainda enfrentam desconfiança do público em relação à qualidade, quando comparadas aos importados.
"Queremos que os consumidores entendam o valor do azeite brasileiro, que é competitivo e sustentável, e que, com práticas agrícolas e industriais mais responsáveis, conseguimos oferecer um produto superior", afirma Haas.